quarta-feira

O Sócrates oriental

Desta vez José Sócrates, como presidente do Conselho Europeu, conseguiu aquilo que não tinha conseguido como primeiro-ministro: o encontro com o presidente da República Popular da China.
A conversa com Hu Jin Tao foi o primeiro acto da deslocação europeia a Pequim. José Sócrates explicou ao presidente chinês aquilo que o levou até à China.
«A nossa vontade é que desta cimeira saia um contributo para que entre a UE e a China se possam dar resposta aos problemas mundiais e àqueles que estão na primeira linha das preocupações do mundo», disse Sócrates. «Refiro-me as principais questões internacionais, as questões energéticas, mas também as questões comerciais», sublinhou o primeiro-ministro.
Em Pequim, o primeiro-ministro José Sócrates e o presidente da comissão europeia, Durão Barroso, lideram a delegação que participa na cimeira.
O papel dos dois líderes é convencer o império comercial chinês a abrir as portas do seu mercado interno aos produtos europeus.
Após este encontro José Socrates e Durão Barroso fecham a cimeira de negócios que decorre também em Pequim, seguindo depois para a cimeira União Europeia/Ásia marcada para as 17:00 horas em Pequim."
Obs: É curioso ver esta entente cordiale entre Socas+Barroso para abrir os portões comerciais da China à Europa. Isto só prova que em matéria de RI não há amigos nem inimigos, há interesses, como diria o mestre Charles-Maurice de Talleyrand - e é disso que se trata.
Talvez por isso tenha ficado algo assustado quando ouvi Socas referir que foi à China falar de energia, questões comerciais.., ainda temi que ele fechasse a sua ideia com uma alusão directa à defesa e promoção dos direitos humanos (sistemáticamente) violados na RPC como um "bom País" - dois sistemas - acumulando o pior do capitalismo e o pior do comunismo.

Mas isso, evidentemente, estragaria a festa e depois, Socas e barroso seriam metidos no aeroporto sem nenhum envelope no bolso. A esta mentira institucionalizada, a este jogo de cintura, a este conjunto de representações do "gato e do rato" uns chamam Diplomacia, outros realpolitik e outros ainda falta de coragem para incluir no linkage das negociações energéticas matérias de direitos humanos que, assim, fica subordinada a uma questão exclusiva de soberania interna da China e ninguém tem nada com isso.

Ou seja, quem pode manda, e quem manda pode. E na actual conjuntura não é a Europa que manda na China, mas a China que comanda os destinos da Europa.
Por este andar, ainda verei Socas apoiar Barroso para a PR em Portugal um destes dias, e quando isso ocorrer pediremos aqui parecer ao António Vitorino.
Fica a promessa.