segunda-feira

Os "carrinhos", a cegonha e a "falta de gente" de Cavaco

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Manifestamente, Cavaco não esteve bem no fim de semana quando no Distrito da Guarda se perguntou por que razão "falta gente" no interior do País. As razões são conhecidas, os diagnósticos estão feitos e a assimetrização do País também não é estranha. Temos, assim, um Portugal dual - a duas velocidades:

1) O País do litoral que beneficiou dos fundos comunitários (ante a imensa corrupção do FSE, quem não se lembra das trafulhices da UGT e do Sr. Torres Couto..., que depois quis ser presidente do Benfica) e das infra-estruturas e se povoou e desenvolveu;

2) E depois aquele outro País do interior que não beneficiou desses recursos, não se modernizou e também viu as poucas pessoas da terra partirem, seja para as grandes cidades, seja para o estrangeiro. Resultado: ficaram os velhos e as pedras, e assim como velhas e decadentes foram as declarações do PR, ditas naquele registo - entre a piada fácil dos carrinhos (que deviam ser miniaturas), a "falta de gente" porque, provavelmente, há muito coito sexual interrompido para aquelas bandas temperadas pelas risadas cafonas dos circunstantes, como se os portugueses fossem uma cambada de cêpos que se riem por tudo e por nada - ante o subdesenvolvimento endémico de certas regiões de Portugal que sempre foram, matricialmente, pobres e subdesenvolvidos.

Por isso, não se percebeu aquele enfâse que Cavaco colocou na sua interrogação, e ele como economista que é, e um especialista em desenvolvimento regional e até em Planeamento - deveria saber do que fala - antes de representar daquela forma algo teatral que não cola à realidade. Além de que contraria a sua filosofia política ao querer colaborar e concertar posições com o governo - a quem aquele emprestaria todo seu capital de conhecimento e de experiência feito em 10 anos de governação. Mas neste particular, Cavaco parece ter-se esquecido completamente de todas essas suas putativas valências: saber teórico e experiência no terreno, e foi pena.

Cavaco sabe melhor do que ninguém, se não estiver esquecido ou sofrer de Parkinson e guardar os sapatos na dispensa e meter o PC no congelador, que um país para ser atractivo tem de cultivar dimensões vitais para vender o País ao investimento estrangeiro: 1) a dimensão e a taxa de crescimento do mercado; 2) o sistema de comunicações e telecomunicações; 3) a disponibilidade de recursos humanos qualificados; 4) e a existência de um tecido de empresas locais competitivas. De que mais padece o distrito da Guarda? De tudo, de parte...

Depois os investidores não gostam de incerteza, e também apreciam reduzir ao máximo os custos de transação. Apreciam também a estabilidade política, mas Portugal, que se saiba, não vive sob o risco de um golpe de Estado - apesar de essa ser uma ambição latente do PCP e do BE. Mas a probabilidade disso ocorrer é baixa. Mesmo com o parcial Marcelo rebelo de Sousa a publicitar a greve geral no dia 30 de Novembro - naquele seu programa de lata e de chumbo auto-promocional que utiliza para não cair no esquecimento - com a agravante daquela mestela ser paga com os impostos de todos nós. Sugira-se a Marcelo que se candidate ao lugar de Secretário-Geral da CCTP, depois para ir à Festa do Avante, no Seixal, já pode ir sem se disfarçar...

A estabilidade económica é outro factor que os investidores apreciam, e difícil de separá-la da estabilidade política, até porque uma depende da outra como duas gatas siamesas. Pois trata-se de considerar uma série de variáveis macro-económicas que permitem avaliar a sustentabilidade de um regime de cerscimento que, por sua vez, depende do equilíbrio orçamental, do equilíbrio da balança de pagamentos, da taxa de inflação, da taxa de endividamento externo e da estabilidade da taxa de câmbio... E, acima de tudo, com o chamado clima de investimentos, i.é, do ambiente das actividades correntes das empresas instaladas localmente.

A Guarda e os empresários locais terão de perceber isto, se é que já não sabem... Quanto ao edil local parece-me desde sempre desajustado para o cargo, não tem perfil nem competência para a função. É um boy do tempo do cavaquismo que hoje a oposição deveria substituir em nome do desenvolvimento da terra. Se calhar boa parte do problema também reside aqui, eleger pessoas sem ideias, sem projecto e quando chegam ao Poder viram-se para Belém e para S. Bento, e S. Bento e Belém viram-se para Deus. Só que Deus, a este nível, não atende chamadas e é, por regra, cego, surdo e mudo.

Mas regressemos à vaca fria: aquilo que, como cidadão, desejaria ouvir de Cavaco (na Guarda) - o "grande economista keynesiano" - que sempre fez gala em sublinhar as suas competências especializadas neste domínio do desenvolvimento regional e local - era que ele sublinhasse um conjunto de aspectos directamente ligados ao fomento daquela atractividade a fim de limitar o subdesenvolvimento naquele Distrito.

Isto implicaria que Cavaco falasse na liberdade de transferência de capitais e regime de trocas; impostos sobre os lucros industriais e comerciais e os rendimentos das pessoas físicas; legislação social, flexibilidade do mercado de trabalho, direitos sindicais e atitudes dos inspectores do trabalho; atitude mais amigável do governo e da administração ao nível central, mas também no plano dos serviços regionais e subalternos em face do sector privado - que muitas vezes acumula um capital de queixa evitável; prazos encurtados aos processos administrativos necessários ao funcionamento das empresas e às autorizações dos investimentos, além de regimes especiais de incentivos fiscais e financeiros para obtenção de licenças de trabalho.

É óbvio que este "pacote" de medidas exigiria uma cooperação estratégica (que faltou a Cavaco) entre Belém e S. Bento, e também fazer o Plano ou o Mapa de Desenvolvimento do País e tipificá-lo por regiões e determinar quais os regimes de incentivos - em função do seu nível de desenvolvimento - que iriam usufruir a fim de se evitar injustiças relativas no quadro desse desejado desenvolvimento simétrico e harmonioso entre todas as regiões.

É óbvio que neste esquema lá teríamos de gramar o alarve do Al Berto da Madeira, afirmando que a Ilha era muito pobrezinha para, assim, beneficiar de regimes de excepção, mas isto seria previsível, vindo de quem vem.

Numa palavra, Cavaco deveria ter feito o TPC em Belém e não ir para a Guarda contar anedotas da década de 70, evocando os carrinhos da matchbook. Deveria perceber que a lógica do desenvolvimento é gradualista, faz-se fazendo. Primeiro preparando o terreno internamente, depois seduzindo algum investimento externo com apetência para a região, de seguida limar os nós górdios administrativos que condicionam a actividade económica, sobretudo em contexto de globalização e de concorrência aberta.

Neste contexto, falar dos "carrinhos" e da "falta de gente" foi como perguntar à mamã estéril e ao papá impotente por que razão não faziam um filho para alegrar os avós e os anciãos da terra!!!

As declarações de Cavaco foram, de facto, lamentáveis, até para os empresários locais, porque ao invés dos investidores estrangeiros, eles nem sempre podem desenvolver as suas actividades noutro sítio.

Mas um dia um desses empresários vinga-se publicamente do PR, e ainda pergunta a Cavaco se seria hoje capaz de fazer um menino sobre um tronco duma árvore a rachar numa noite de geada com 5º graus negativos a uma senhora já na casa dos 60 anos...

Talvez em função da putativa resposta dada por Cavaco - alguém, na plateia, se questionasse por que razão há hoje tanta "falta de gente"...

PS: É a primeira vez, segundo síntese do amigo CF e (Grande Chefe) - que um PR nos manda a todos f.... E logo a partir do interior, do distrito da Guarda - onde faz um frio tremendo.

PS1: Pedimos desculpa por ter sugerido algo que não soletramos, mas que os portugueses precisam, de facto, para se reproduzirem.