terça-feira

A inteligência e a bondade a caminho da justa sabedoria. Evocação de Albert Einstein e de Agostinho da Silva

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Quando vejo estes dois titãs com pés de barro (MST e VPV - no post infra) a discutirem quem é o melhor a produzir literatura no bairro deles, dá-me vontade de rir. Rir porque as pessoas se levam demasiado a sério, rir porque nem um nem outro são assim tão excepcionais, rir porque dão um mau exemplo parecendo puto em briga no recreio do intervalo do jardim-escola. Um ofende o outro por sms, só isto diz muito acerca dos intervenientes em presença, não obstante se tratarem de pessoas com importantes funções mediáticas em Portugal. Se estes dois sujeitos se dessem ao trabalho de consultar certos blogues veriam a humilhação que sofriam, qualitativa e quantitavimente. E só não cito essas referências porque elas são conhecidas entre o meio.
Esta relação de amor-ódio, de consideração-desconsideração entre antigos amigos é penosa, confesso. Todos nós, mais ou menos, já passámos por estórias semelhantes, e por vezes notamos que alguns desses soit-disant "amigos" não estão à nossa altura, e aí sobrevem uma frustração do tamanho do mundo. Dá a sensação que estivémos a encher pneus, a dar pão-de-ló ao burro, a encher uma piscina a cuspo, enfim, a falar para o deserto num qualquer sermão aos peixes.
Há momentos, e isto é um lugar por que todos - mais ou menos - passamos, em que constatamos que os nossos amigos não estão, de facto, à nossa altura, e esse é um momento revoltante, de viragem. É o chamado momento de mandar à merda um amigo: ora, no caso vertente do romance do MST - colhe semelhante reacção por parte do seu ex-amigo - VPV - que fez isso mesmo: mandá-lo à m.... Depois o MST, quando tiver oportunidade - seja na antena da TSF, na TVI ou num jornal qualquer, terá a mesma cortesia e mandará o VPV igualmente para o mesmo destino.
Homens cultos, inteligentes, sagazes, técnicamente preparados e depois comportam-se como rapazolas de escola que amuam, dramatizam, vitimizam-se, atacam-se canalhamente. Isto chama à colação o papel da inteligência com a bondade e os bons sentimentos na sociedade. Quantas pessoas têm a 1ª valência e depois revelam maus sentimentos na segunda: são invejosos, "comem para dentro da gaveta" (como dantes se dizia dos algarvios), são egoístas e egocêntricos, empolam situações que seriam dirimidas num contexto de normalidade, etc. Nestes casos as motivações da litigância são pessoais, ideológicas, políticas, económicas, de imagem, de status e outras...
Essas pessoas, ainda por cima, têm a mania que são superiores aos outros, que pensam, escrevem e actuam duma forma mais correcta do que os outros. E, afinal, não passam duns pobres de espíritos: não têm amigos (mas dizem que os têm); não dão duas para a caixa (e fartam-se de encher a boca com performances que não asseguram); vivem em redes fechadas, num solipsismo pegado, por vezes virtual e anónimo. Não é o caso, certamente, de MST e de VPV - que são bem conhecidos e têm uma obra assinalável, ainda assim cheia de pecados e defeitos, como qualquer mortal.
Mas a vida está repleta de anormais, de doentes polares, de esquizofrénicos - de pessoas que são, de facto, assim, mas julgam-se normais porque alguém lhes disse um dia: "o senhor é genial", e alguns desses cromos até passam a vida a escrever cartas a eles próprios para se convencerem disso mesmo. E depois embandeiram em arco e permitem-se tudo, enchem-se de virtudes públicas e, afinal, não passam de farrapos enrolados em vícios privados. O Eça conheceu-os bem, nós por cá também conhecemos alguns desses players, mas a questão essencial fica por resolver: como harmonizar o capital-inteligência com o capital-bondade a caminho duma sociedade de sabedoria neste 1º quartel do III milénio!?
Como limar as arestas de gente excepcionalmente inteligente com a bondade natural dos "parvos"?! É difícil fazer esta quadratura do círculo: os talentosos julgam que têm direito a um lugar à parte, a um estacionamento gratuito e permanente no Paraíso; os "parvos" sabem que são parvos, resta-lhes a bondade natural de servir o outro e a sociedade com a "parvidão" de sempre, sem rasgo. Os talentosos marginalizam os "parvos, e estes, por seu turno, querem integrar-se no grupo dos talentosos. É uma luta desigual. Sendo que o ideal seria construir uma sociedade em que o valor da bondade natural fosse tão apreciado quanto o do talento, e assim a pessoa, a organização, a instituição seria mais cotada quanto reunisse as duas valências na sua performance social.
Sabe-se que Albert Eisntein, por exemplo, foi considerado por alguns uma prova viva do conceito kantiano (reunindo elevada inteligência com elevado potencial cívico), ou seja, alguém capaz de elaborar uma teoria concebida pela inteligência capaz de trazer algo de novo e útil à sociedade. E quando soube que algumas das suas teorias poderiam servir para o mundo ficar mais belicoso e conflitual - ele, pura e simplesmente, (porque era um pacifista e suspeitava-se das suas ligações secretas às correntes de esquerda) afastava-se dos projectos, como sucedera com o Projecto Manhattan - no âmbito da II Guerra Mundial - que tinha o grave problema de eliminar a agressividade do imperialismo alemão de raiz hitleriana que andava pelo mundo a largar bombas e a prometer a constituição do III Reich - liderado - obviamente - pelo sr. Adolfo.
Onde é que pretendo chegar com toda esta narrativa e derivas? Um dos desafios do tempo presente é fazer com que o homem consiga conciliar a inteligência, o talento, os skills múltiplos necessários à construção duma ponte, à descoberta duma vacina, à elaboração duma teoria sociopolítica com a bondade natural a caminho da criação da chamada sociedade da sabedoria.
Infelizmente, e fazendo aqui luz da minha escassa experiência de vida, tenho encontrado poucas pessoas que conseguiram reunir numa só pessoa esses elevados índices de intelegiência, talento com sabedoria e bondade. Uma dessas pessoas foi o mestre e amigo Agostinho da Silva - que aqui aparece alinhado com Einstein. O resto, quando se olha para o resto, é uma desgraça de terra queimada que, por vezes, até é bom nem recordar.
O homem é, afinal, esse filho-da-mãe desatinado em busca do seu interesse próprio, muitos ainda continuam a "comer para dentro da gaveta", e julgam que são mundos virtuosos que irradiam saber e luz. Quando, afinal, não passam duns trolhas convencidos de que o mundo se lhes rende ao 1º sinal. Essa gente anda iludida, e se fossem mais humildes veriam que só teriam a ganhar, assim como a sociedade no seu conjunto.
Infelizmente, a nossa sociedade está montada para estimular e engrenar no chamado homem de talento mas "filho-da-puta". É aquele que tem alguns skills mas que nunca hesitará em tramar a sociedade se os seus interessezinhos e o seu ego não forem primeiramente atendidos e afagados. São os mesmos cromos que escrevem cartas a si mesmos convencendo-se de que são uns génios ante essa falsa e/ou artificial assembleia de heterónimos que hoja até faria rir Pessoa no Martinho da Arcada.
Mas o nosso desafio é outro, bem outro: contribuir para criar esses talentos mas encaminhá-los para as virtudes sociais e cívicas, porque é aí que esses skills verdadeiramente se amplificam e ganham amplitude e dimensão social, económica, moral e ética.
Até lá navegamos à vista das arcadas da nossa própria arrogância e soberba.

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