terça-feira

A simulação é mais perigosa do que a realidade. O caso "kate"

A simulação é mais perigosa do que a realidade. Este princípio pode aplicar-se aos pais que matam (mesmo por negligência o seu próprio filho) ou a um avançado o Benfica que corre para a linha de golo e se espalha ao comprido para sacar um penalti e iludir o árbitro.
Isto é assim porque deixa sempre supor que, para além do seu objecto, é a própria ordem do real que (também) não passaria duma mera simulação. Por isso, a A PJ portuguesa está, pois, desafiada por esta novel realidade, razão por que tem que ter uma percepção de gigante na prova material das suas conjecturas. Isto é, até que elas se tornem irrefutáveis.
Há, contudo, sempre a dificuldade em saber como simular um assalto e depois provar tratar-se duma simulação; ou, mais grave ainda, praticar um crime e tentar provar que tudo não passou duma morte simulada. Convém aqui sublinhar, que todas estas simulações devem subordinar-se ao real, e não reinventar um surreal - que depois baralha tudo, até a cabecinha dos próprios investigadores - a quem era suposto estarem de cabeça fria.
Dito isto, deixamos aqui três categorias de simulacros que hoje nos baralham a todos e confunde a verdade com a ilusão ou a mistificação:

1. Os simulacros naturais - baseados na imagem, na imitação e no fingimento;

2. Os simulacros produtivos - assentes em energia e força da máquina e no complexo sistema de produção;

3. E os simulacros de simulação - assentes na informação, no modelo do jogo relacional, na hiperrealidade.

Se correlacionarmos esta grelha ao que se está a passar com o caso Madeleine encontraremos, muito provavelmente, indicadores, sinais, indícios de que aqueles pais, directa ou indirectamente, se encaixam no perfil de algumas pontas de simulação aqui descritas.

E como não se trata duma utopia (1º caso), nem de ficção científica (2º caso), a 3ª categoria assenta num imaginário sacana que hoje nos interpela a todos, e sem querer ser abusivo, antecipativo ou mesmo injusto sempre que via a conduta da srª Kate via uma mulher transloucada na intimidade, e num acesso de fúria só porque a criancinha berrou uns décibeis acima do tolerável o pior deve ter ocorrido. Mas isto são resíduos, o importante é a PJ dominar bem esta técnica do simulacro e perceba que o real é sempre mais real do que o imaginado, mesmo que este se destine à alegada ocultação dum crime grosseiro que agora se encontra debaixo de fogo do mundo inteiro.

Agora não é só a PJ que anda em busca dum cadáver, mas o mundo inteiro, em tempo real e por satélite. Veremos se este será mais um crime sem autor à vista, o que é certo é que o crime de pedofilia aqui (já) não cola, o que também não deixa de ser uma tremenda injustiça para quem, como o Rui Pedro, foi alvo dele - juntamente com outras crianças desafortunadas - e não dispuseram de % da atenção mediática e dos meios aqui afectos no caso Madeleine.

Um caso que, em rigor, deverá alterar a sua nomenklatura e passar a designar-se o caso Kate, e com preocupantes ramificações psiquiátricas.

Oxalá me engane...

PS: Este post é dedicado, ainda que cinicamente, a todos os pais que por negligência mataram os seus filhos.
À PJ pela sua endurence e que prossiga as investigações pela sua cabeça, imune a pressões. E, por maioria de razão, ao pai intelectual destas teorias, o filósofo Jean Baudrillard que faleceu no início do ano e que muita falta faz entre nós.