terça-feira

11 de Setembro, 6 anos depois

Charles Tilly
Recordar é viver, e homenagear as vítimas inocentes e criar um clima na sociedade para combater com determinação o terrorismo - que continua a FUNCIONAR - como se fosse um elo dentado duma máquina sempre em andamento, é uma obrigação legal dos Estados e das sociedades e um dever moral, ético e de cidadania de cada cidadão em todo o mundo.
Charles Tilly é um dos historiadores mais importantes que pensou sobre este problema nos últimos anos, especialmente na sua obra Coercion, Capital and European States. Aí Tilly sublinha que a violência constitui o princípio motor da Europa ao longo dos séculos, e a razão é que ela funciona. Isto porquê? Por um lado dispõe-se duma tecnologia de violência que também funciona bem, depois, a montante, existe uma cultura de violência, que prevalece e esmaga em matéria de violência e fala pelo seu próprio passado colonizador.
É, portanto, razoável reagir assim. Por outro lado, as vias da legalidade estão repletas de armadilhas, e se tentarmos segui-las podemos estar a abrir caixas de Pandora (ex: do Iraque). Talvez por isso os EUA pediram aos taliban para deitarem mão a Bin Laden, e estes reclamaram provas, o que no Ocidente foi encarado como chocante e absurdo.
O problema é que os males e os sofrimentos infligidos pelo Ocidente (chamado Euromundo) - branco, desenvolvido - são tão numerosos que os adeptos do terrorismo por esse mundo fora e que são mais ou menos enquadrados pelo fundamentalismo islâmico (que vai do arco de Marrocos à Indonésia) - são desenvolvidos por fanáticos que crêem ter chegado a hora do choque das religiões e das civilizações, o que agrava tudo - seja ao nível dos discursos, seja ao nível da praxis política.
É, pois, esta memória do tempo que não passa que continuará a alimentar as ondas de terrorismo projectado e que agora, como se vê, ele é primeiro comunicado e programado por Tv - e que depois rebenta por esses sistemas de transportes públicos desta nossa querida Europa a 27.
Hoje perfaz 6 anos após essa tragédia, e quanto mais memória dela tivermos maior percepção e troca de informações asseguramos. Numa palavra: jamais poderemos baixar a guarda com tão perigoso inimigo da civilização.
Sendo certo que este novo terrorismo bárbaro e cego, guiado pelo ódio protagonizado por Bin laden - e as redes e células que alimenta pelo mundo fora - não constitui nem um caminho nem uma saída. É antes um salto no vazio pelo ódio irracional dirigido à República Imperial - e, por extensão - à Europa que agora também é palco e alvo desse mesmo terrorismo em rede, de natureza desterritorializado.
Lamentavelmente, este é o barbarismo e primitivismo político que as sociedades do Ocidente têm hoje de combater em nome duma sociedade mais Segura, mais Justa e mais Livre. Valores comprometidos se nada fizermos.
PS: Dedicamos esta pequena reflexão aos "heróis inocentes" que morreram naquele acidente aéreo, aos seus familiares e amigos. O seu desparecimento não será em vão.