Notas Soltas de António Vitorino - Um realista é um pessimista bem informado -
Começando pelo essencial: o terrorismo, também objecto da última reflexão de António Vitorino no DN (aqui, em Imaginação Fértil) hoje evocou-me aquele dito ao tempo da Guerra Fria que, segundo os russos, dizia o seguinte: um realista é um pessimista bem informado.
E, de facto, não fora os serviços secretos europeus e a intelligence em geral trocar informação - já teriam havido inúmeros actos de terrorismo na nossa querida Europa - que Zé barroso tem ajudado a ficcionar e a paralisar.
Deste ponto de vista, i.é, do terrorismo que agora se apresenta nos media e diz quais os takes que se vão seguir (como se duma tourada se tratasse) - a fim de pressionar as sociedades ocidentais fazendo com que tenham mais medo pela segurança das suas pessoas e bens, AV é capaz de ser aquele realista que faz pontes entre a Guerra Fria e a anarquia madura do mundo post-contemporâneo (um conceito de Barry Buzan que A. moreira esbulha com frequência) em que actualmente todos vivemos.
Mas o problema com esta realidade antecipada é que ela se erigiu num próprio simulacro confundindo a realidade com a ilusão neste jogo da vida e da morte em que o mundo passou a viver com maior acuidade, mormente após o 11 de Setembro - que amanhã perfaz 6 anos - e que deverá ser mais um dia para homenagear aquelas vítimas inocentes que nos céus foram verdadeiros heróis e tentaram evitar o pior.
Quanto ao epifenómeno da criança desapareceida e da conduta lamentável dos pais da menina, o mundo encarregar-se-á de deslindar a verdade, embora aqui o essencial, infelizmente, seja coincidente com a preocupação final expressa por AV, como que premonitória dum mal que irá ocorrer algures no mundo e a qualquer momento. Sem que saibamos como e quando como, de resto, todas as mortes. Pois se pudessemos agendar a nossa própria morte os cangalheiros não fariam negócio e os cemitérios fechariam por falta de função.
Um mal acelerado e agravado com a última aparição de bin Laden, reiterando a ideia de que a América é fraca e pode de novo ficar refém de meia dúzia de fanáticos que nos céus, em terra ou no mar podem novamente fazer estragos de monta. Nesse sentido, Bin Laden é o "herói" do momento (sobretudo, para aqueles que odeiam a América, sobretudo a América de G.W.Bush) e que vêem agora no terrorista-global - de cabelo pintado e de barba aparada - uma espécie de energia maldosa do real, um mistério, uma central imaginária que produz nas nossas mentes atentados em cada esquina (geradora do medo, do pavor, do pânico) de forma incessante e real nessa rede de comunicações e de aparições intimidatórias de Bin laden que hoje têm uma extensão e uma circulação fabulosa.
Nessa óptica, a premonição final de António Vitorino pode ajudar a intelligence europeia e transatlância a ser mais pró-activa e eficaz no trade-of de informação para, desse modo, evitar que Laden seja essa espécie de central eléctrica e atómica que anda pelos cantos do mundo a fazer ameaças e a cumpri-las, o que é mais grave.
Lamentavelmente, a República Imperial (como lhe chamou Raymond Aron) ainda não conseguiu descobrir o paradeiro desse travelling fanático perpétuo que chantageia o mundo a cada momento e, para agravar a situação, fá-lo com aquele ar simpático e benemérito de padre - evocando o Pre. Américo e as suas acções de dar pão e casas aos pobres no tempo da outra senhora.
Contudo, já me ocorreu que este também pode ser o tempo dos fantasmas falsificados, e aquele Bin laden que vimos seja (não o g.w. Bush, também não vamos tão longe..) mas uma versão mais sofisticada do Bin laden pré-11 de Setembro. Ou seja, um homem tão mais velho quanto perigoso.
Numa palavra: o realismo pessimista de AV faz sentido, oxalá os efeitos desses realismo sejam novamente abortados pela intelligence europeia que, em campo, vai matando as cabeças dessa serpente dos novos tempos.
<< Home