quinta-feira

Lisboa Eleições 2005-2007-2009

jurista Como diz Jean Bodin, o que defende a cidade são os homens e não as pedras das suas muralhas. Nunca, como hoje, estas palavras se aplicam a Lisboa, ao voto e ao seu sentido.
Recordo-me, em 2005, de ter optado por apresentar um programa curto, conciso, exequível, com poucos compromissos. Muitos me incitaram a debitar dezenas de medidas avulsas que pudessem agradar a todos, a tal transversalidade que alguns julgam que se conquista disparando slogans como confetti sobre uma população causticada por um quotidiano urbano sem qualidade nem coração.
Nesse meu parco programa comecei por falar na necessidade de "arrumar a casa" e "pôr as contas em ordem". Não porque tal constituísse uma prioridade para Lisboa, mas porque sem isso não seria possível governar. Arrumar a casa e pôr as contas em ordem era, já então, evidentemente indispensável. Uma má circunstância a considerar e ultrapassar. Na altura ninguém ligou. Seria cedo para falar disso? Não, era o momento certo. Dois anos perdidos só agravaram uma situação que já existia, transformando a circunstância num estado latente de desnorte. Hoje, o debate está dominado por estes pontos, o que também não é bom, sobretudo quando permitem tiradas demagógicas ou são utilizados como álibi para não fazer.
Mas o meu segundo pilar intitulava-se "travar o declínio" e "revitalizar a cidade" e quando cheguei à campanha verifiquei que o Parque Mayer, a Feira Popular e o Túnel acendiam o debate. Quem não percebeu, então, que o destino do Parque Mayer em nada mudava o destino de Lisboa, que a perda da Feira Popular era um dano objectivo e que os túneis não são absolutamente maus ou absolutamente bons, dependendo este juízo da respectiva utilidade? Não ouvi falar muito, nessa altura, de revitalização ou de repovoamento. Como se bastasse pintar fachadas, fazer cenários, refrescar o look desta Lisboa maltratada. Foi neste pilar que incluí a Baixa Chiado. Parece que também chegou demasiado cedo. Talvez daqui a dois anos vejamos o projecto generalizadamente incorporado na agenda eleitoral de 2009. Para já, substituiu, com vantagem, o debate do Parque Mayer, sem os custos de um Ghery.
A Proposta de Revitalização da Baixa Chiado não é nem o único, nem o mais importante projecto de Lisboa, mas, como se viu, não é fácil ignorá-lo. Pode e deve ser discutido, melhorado ou mesmo lançado no caixote do lixo se esse vier a ser o entendimento dos eleitos. Mas sempre com fundamento. E não vale dizer que ele é o que não é, ou que diz o que não diz. Está no site da Câmara, existe, não é uma abstracção que se possa distorcer ou matizar à vontade do freguês. A proposta contém uma política pública de habitação. Boa ou má, ela figura lá como uma peça essencial. A circular das colinas já existe e trata-se de proceder a algumas ligações. A especulação imobiliária será inevitável se deixarmos a Baixa Chiado entregue à sua sorte. Uma proposta assente numa política pública em que se visa alcançar um conjunto de objectivos - urbanísticos, sociais, culturais, económicos - a executar em parcerias público-privadas, dentro de um quadro claro de regras, pode ser a forma eficaz de a proteger.
Eu não faço falta ao projecto. Mas a Baixa Chiado faz falta a Lisboa. O projecto não é meu e sobre ele não tenho direitos autorais. Foi realizado por um comissariado como um ponto de partida e não de chegada. Criou empatia com os cidadãos que viram nele um sinal de "travar o declínio", um sinal de esperança e de futuro.
Porque o passivo de Lisboa é muito mais preocupante que o passivo da câmara. Deixar parar uma cidade, que é uma realidade viva, e voltar a pô-la em marcha, predisposta e anímica, é muito mais complexo que endireitar a tesouraria. Dia 15 elegemos o governo de Lisboa e não uma administração para a câmara. Dia 15 sancionamos prioridades para Lisboa e não meras propostas de reorganização da máquina camarária. O nosso voto, qualquer que ele seja, deve presumir que só quem está preparado para governar a cidade, dar-lhe rumo e futuro, saberá fazer as outras coisas.
Obs: Sempre gostei daquela foto de MJNP, parece que integra a PriceWaterhouse onde está a fazer Pub. inteligente. Fica-lhe bem. Seja como for, gostei de ler esta narrativa de humildade de Zézinha: diz que o projecto Baixa-Chiado não é dela, diz que não faz falta - é um exercício de humildade como nunca lhe vi. Até parece que a humildade virou a arma dos fortes... Talvez por saber-se indispensável é que que diz o que diz, mas poderia ser mais explícita e dizer que vota António Costa, assim-como-assim toda a gente sabe que assim será, só não percebo tanto pregaminho em democracia. Devem ser os tiques doutros tempos...