A cidade de Lisboa
Ontem criticámos aqui veementemente a lata do independente (e arguído) Fontão de Carvalho por ter dito que, em tese, poderia candidatar-se a Lisboa. Achei isso deplorável, especialmente no seu caso e até a sua situação judicial se esclarecer cabalmente. Helena Roseta sem foi uma sereia em busca de protagonismo, as causas dela são as suas próprias representações, dramas, traumas, frustrações - tudo nela salta para arena política - como se esta devesse confinar-se aos ideários de Helena - que sempre foi uma enfant terrible - umas vezes do PsD outras do PS, num claro reflexo daquilo que fazem os milhões de tugas que votam no centrão há 30 anos e decidem do sentido de voto e do poder em Portugal. Dessa troika de independentes, e o Jumento hoje editorializou nesse sentido, resta Carmona, quiça o menos mau dessa troika de perdedores antecipados. Não por serem independentes, mas porque os lisboetas não vêm neles a prancha de salvação para a Capital. E quando falam neles nem sequer aqui contemplo o sr. Fontão, que não passa dum burocrata que dizem saber de finanças, tesourarias e outras avenças. Veremos. Mas o que a mim me preocupa é saber como Lisboa poderá ser gerida neste contexto de globalização competitiva, em que a economia apresenta imensas oportunidades mas também múltiplos perigos ameaçando o desenvolvimento das cidades permanentemente. Só que com "essa tal globalização" as cidades passaram a poder colocar em contacto áreas urbanas de todo o mundo, que assim entram nos mercados internacionais. Podendo promover-se como locais de investimento e desenvolvimento a fim de gerar ligações económicas, sociais e políticas capazes de dinamizar uma rede de cidades em larga escala. Incluindo aqui, evidentemente, os PALOPs e o Brazil..Em rigor, aquilo de que Lisboa precisa, creio, é saber gerir e aproveitar essa globalização - que está aí - de modo a que o seu espaço urbano e as suas gentes possam fortalecer os respectivos centros urbanos e que esse crescimento se torne numa relevante força de desenvolvimento económico e de inovação e criatividade, mesmo entre a juventude que ora se começa a dedicar ao risco empresarial.Não vamos discutir aqui aquilo que toda a gente já sabe: há corrupção a rodos na autarquia de Lisboa, existe um imenso passivo financeiro a ponto de a câmara nem sequer conseguir honrar os seus compromissos (nem dinheiro tem para pagar o papel higiénico, talvez por isso cheire tão mal em Lisboa..), a classe política dirigente também não tem golpe de asa nem projecto ou visão para a Lisboa do séc. XXI.. Tudo condições adversas para perspectivar Lisboa no 1º quartel do séc. XXI. Dado tratar-se duma cidade maravilhosa, duma cidade global e que encanta quem a visita, razões mais do que suficientes para juntar a Capital à lista de cidades-globais do mundo.Tudo isto para quÊ? Será que carecemos dum sistema rodoviário que una a cidade à periferia? Facilitando, assim, a vida aos velhos mercadores e soldados e outros agentes que antes precisavam de atravessar distâncias imensas com algumas adversidades... Hoje, de facto, o esquema é outro, o quadro global de vida das cidades implica outras perspectivas, outras ligações físicas, virtuais, políticas, em suma, envolve uma outra liderança. E para que exista liderança, é necessário haver um projecto que comportará, forçosamente, opções, objectivos de longo, médio e curto prazos. E será isso que João Soares - ou qualquer outro candidato credível - terá de saber dizer aos lisboetas quando em breve se apresentar a eleições. Na certeza de que Lisboa precisa de ser uma cidade mais ligada, mais interdependente encorajando ligações horizontais entre cidades com desafios comuns. Como é que o chamado pequeno comércio poderá tirar vantagem da utilização intensiva das novas tecnologias? - em vez de entopirem as artérias da cidade e poluindo tudo e todos?? Como é que muitos funcionários da autarquia poderão trabalhar a partir de casa em vez de se deslocarem diáriamente para a sede física da autarquia? Muitas multinacionais já o permitem e com sucesso em termos de produtividade. Se Lisboa tem o perfil duma cidade global, significa que ela poderá tirar partido dessas múltiplas valências - passíveis de reestruturar os métodos de trabalho e de produção de conhecimento e riqueza no seio do seu espaço urbano - cada vez mais fluído. Julgo que para além do saneamento financeiro da câmara de Lisboa, de se varrer o lixo corruptivo que Santana e Marques Mendes (sob cumplicidade de Carmona) lá deixaram - quem quer que pegue nessa empreitada autárquica deverá, primeiro, perguntar-se: que conceito de Lisboa-cidade-global eu quero para o 1º quartel do séc. XXI? E uma vez respondida esta questão deverão reunir-se os recursos materiais e humanos para os atingir no longo, no médio e no curto prazos. Fazer isto é, no fundo, transformar o centro urbano de Lisboa num espaço competitivo, humano e um pólo de coordenação de fluxos de informação na gestão de todas essas actividades de negócio - mas também de lazer e de boa oferta turística - cuja imagem positiva se possa reproduzir e ampliar no exterior. Mas, para que fique claro, não é aqui uma fotocópia da Madeira troglodita do Alberto João que nós queremos para a cidade de Lisboa... Naturalmente, Lisboa, não é Nova York, Tokio ou Londres mas também não precisa de ser Gondomar ou Felgueiras... Creio, para concluir, que Lisboa está hoje confrontada com quatro objectivos que deverá saber equacionar e concretizar no médio prazo: 1. Ser um pólo de comando da economia nacional;
2. Saber atrair empresas com qualidade e que sejam ao mesmo tempo competitivas e solidárias nas suas responsabilidades sociais. Aqui poderiam instituir-se prémios que valorizassem essas valências;
3. Ser um facilitador e um centro de inovação de actividades emergentes - promotora de negócios;
4. E ser ao memso tempo um vasto mercado de produtos e serviços onde dê prazer viver e trabalhar.Será que João Soares se aguenta com tudo isto em dois anos?! Creio que valerá a pena tentar... Nem que seja por mais quatro. Lisboa merece isto e muito mais, e os seus "filhos" também.
<< Home