sábado

O valor da desconfiança, da sobranceria e da mentira em Política

Cadeia de comando ascendente: Có-có, Ranheta e Facada...
Julgo que qualquer pessoa razoável perceberá que esta questão dos alegados transportes norte-americanos de terroristas do MO - via Portugal - para Guantamo - é essencialmente uma questão política, e não jurídica. Pelo que as considerações só poderão ser políticas, nunca jurídicas. Doutro modo teríamos de perguntar a todos e cada um dos terroristas se quando fazem deflagar o dispositivo que irá matar 200, 2000, 5000 mil pessoas - também está rodeado de floreados sobre direitos humanos, protecção da vida...
Portanto, mesmo que as tretas que algumas revistas e eurodeputados estão apostados em veicular, nuns casos por mero protagonismo político porque é a única forma de terem sobre elas a atenção dos media, noutros pela necessidade de venderem mais papel sobre a concorrência que não teve o exclusivo da estorieta, a questão que se colocaria a Portugal apenas deveria ser meramente formal, e nunca ao ponto de o embarassar político-diplomáticamente o Estado, como decorre das pretensões conjuntas e combinadas duma troika de actores que aqui têm um papel concertado, ainda que dissimulado: Durão barroso-Carlos Coelho-Ana Gomes. Todos juntos, mas todos com motivações de ataque distintas.
Vejamos: durão pretende fazer com que o eleitorado europeu esqueça o fracasso estratégico que está sendo a gestão política e a liderança europeia, perdendo a posição de estatuto mundial que antes tinha, com uma economia "partida", desregulada e com múltiplos problemas sociais - desemprego, emigração, exclusão, incapaz de ser estacando; Ana Gomes quer pura e simplesmente protagonismo e vedetismo televisivo e furar dois coelhos com um só tiro: Amado e Socas; e Coelho - apaniguado de Durão, faz apenas o que este manda: carregar a cruz (europeia) de barroso.
De modo que tudo isto tem uma motivação substancialmente política (politiqueira), no pior e mais mesquinho sentido da palavra. O que me leva a supôr que este fenómeno, desde Sóflocles a Nicolau Maquiavel, é o tema das mãos sujas e dos corações puros em política que agora desfila na história miserável das ideias políticas em Portugal e tem ocupado a agenda europeia. Estes os esforços da dupla Durão-CoelLhito, e por este problema serão recordados no anuário da história da União Europeia.
Isto é terrível pela simples razão de que a política emerge à sociedade internacional como uma ideia de supeita. Vejamos: em Voltaire a política não é senão a arte de mentir a propósito; em Goethe é-se obrigado a entrar para um partido e, a partir desse momento, está-se perdido para a poesia. Será mister que ele abandone a liberdade de pensar, a sua lucidez e clarividência ficam enterradas até às orelhas no boné do pensamento. Tudo, portanto, se torna mesquinho e estúpido, reflexo do que é hoje a presidência da UE e das jogadas que de lá se burilam sobre o espaço do rectângulo nacional.
Seja como fôr, a forma como hoje muita gente esclarecida e que não está ou é politicamente conotada ou alinhada - com este affair dos aviões americanos que muito provavelmente transportaram terroristas do MO para Guantanamo, os quais também nunca pedem licença para matar fora da sua fronteira de origem, é a de correlacionar a Política com três coisas: a desconfiança, a sobranceria e a mentira.

A desconfiança de Ana Gomes, a sobranceria de Carlos Coelho e a mentira de durão Barroso. Um exercício a três.

É este esboço de sentimento comum que hoje se está a incrustrar na opinião pública portuguesa (e na europeia em geral, não muito distante da nossa), de que a Política - na linha daqueles senhores (todos com responsabilidades relevantes ao nível europeu) - não passa de sinónimo de arranjos, vendettas, regateios, pressões, chantagens, ameaças, combinações, conluíos entre outras barrosices post-Guerra Fria.

Tudo por causa da guerra ao Iraque e a forma como ela foi cozinhada, decidida e executada. Talvez não seja por acaso que hoje aquela gramática de conceitos - desconfiança, sobranceria e mentira - rime tão bem com Ana, Coelho e Durão.
Se calhar é por isso que eu não faço política, prefiro continuar a ser honesto.