terça-feira

"Jagunços" ou "lacaios": os irmãos siameses da nossa mediacracia

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Todos sabemos a importância da Opinião pública da vida em sociedade, na relação dos cidadãos com os governos e as instituições em geral. Ela faz cair governos, eleva outros, é um barómetro do estado da arte do sentimento geral duma dada colectividade, ou mesmo dum sentir transnacional. É um aferidor e um termómetro de legitimidade política. Imaginemos uma questão transfronteiriça, como o ambiente, as energias, o crime, os global commons em geral. Tudo isso exige concertação das opiniões públicas nacionais para que os políticos decidam em conformidade. É sempre problemático governar contra a sociedade, contra o sentir e a vontade das populações. Pelo menos, por muito tempo.

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Aproveitamos, por isso, aqui uma interessante reflexão lançada pelo Jumento, de longe o melhor blog nacional, para colmatar aquilo que supomos representar alguma brecha de fundamentação, apesar da excepcionalidade da reflexão, como é hábito naquele espaço de reflexão. A linha de reflexão do autor é a seguinte:
Sempre que vejo um programa de televisão em que o telespectadores podem telefonar para intervir na discussão ou para dizer a sua opinião fico com a sensação de que uma boa parte das chamadas têm pouco de espontâneo, são uma mistura de posições partidárias com as ideias dos telespectadores. Já há algum tempo que me parece que os partidos, ou pelo menos alguns partidos têm uma estratégia concertada para intervir nestes programas, inundando-os com opiniões que lhes são favoráveis. Trata-se de uma estratégia de manipulação da opinião pública muito inteligente, ao multiplicarem as intervenções de militantes seus os partidos tentam confundir opinião pública com a sua própria opinião. Dá o seus resultados mas trata-se de uma estratégia política que tende a ser pouco eficaz, esquece que uma boa parte do eleitorado não actua como um cardume de carapaus, tem opinião própria e vai para onde entende e não para onde se supõe ser o desejo de uma suposta maioria criada artificialmente.
A sua linha de argumentação é sólida mas, em nosso entender, algo unilateral, leonina mesmo, descurando assim o outro lado do espelho, quiça o mais responsável, o mais oculto, o mais poderoso, o mais pérfido, o mais perigoso. Explicarei adiante os termos dessa brecha - por onde pode entrar um raio de sol - mas também saí alguma água. De momento repeguemos na linha de argumentação do Jericó, que é uma palete de lógica na arte de bem fundamentar:
Observa ele:
Os partidos não só tentam manipular os espaços públicos saturando-os com as suas opiniões como se esforçam por manipular as audiências. Ainda há pouco tempo chegou-me um sms de um destacado responsável de um grande partido, alertando-me para a entrevista que o seu líder daria nesse dia à RTP 1. Uma observação atenta da caixa de comentários d’O Jumento leva-me a crer que os blogues também já são visados pelos partidos, o Palheiro tem alguns “comentadores residentes” cuja única função é defender o partido das críticas que o podem atingir. Nalguns casos a estratégia é ainda mais agressiva e a função do comentador” residente é tentar denegrir sistematicamente tudo o que o autor escreve, numa tentativa clara de lançar o descrédito no blogue.
E mais adiante, extrema o argumento, e aduz: Não participam em qualquer discussão, não dizem o que pensam, não lançam uma única sugestão para discussão, limitam-se simplesmente a cumprir a obrigação militante de denegrir O Jumento. Depois, com habilidade e talento, remata: É evidente que estes “comentadores residentes” só apareceram quando O Jumento adquiriu dimensão e começou a ser referido na comunicação social.

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Não obstante facilmente corroborarmos o que foi dito, pergunto-me porque razão o Jumento num daqueles seus parágrafos, não inverteu (ou flexibilizou) a lógica do seu argumentário, para introduzir uma perplexidade que, em nosso entender, faltou para fechar o ciclo da sua linha de argumentação: porque razão o Jumento não se perguntou por que a tsf, a tv e alguns jornais têm uma política de convite extremanente tendenciosa e selectiva?
Um exemplo: que valia intelectual poderá ver a tsf na contratação de sLopes para dizer umas banalidades aos microfones da antena? Que interesse público a direcção de informação da rtp no programa Prós & Contras tem ao conceder tempo de antena a ex-salazaristas que passeiam a surdez pelos bastidores da estação sem nenhuma contrapartida para a nação, ou ainda convidar sujeitos como Valentim loureiro ou mesmo Adalberto Madail (e quejandos, e outros com processos pendentes na Justiça) para aí promoverem teses verdadeiramente aviltantes para o bom senso nacional?
Se as pessoas isoladamente - tentam, a coberto dos partidos e empresas, agir no sentido de manipular a opinião pública a fim de consolidar uma orientação partidária (ou empresarial),fazer um jeito ao chefe, posicionarem-se para uma promoção, elogiar um ponto de vista para reforçar índices de popularidade (incorrendo na categoria dos jagunços, segundo a terminologia luso-brasileira do Jumento); porque não enquadrar nesse filão as estratégias premeditadas protagonizadas pelas direcções de informação das rádios, tvs e jornais - que, por maioria de razão, convidam A, B e C - em inúmeros casos tratando-se de pessoas sem o perfil intelectual para o tipo de análise, mas sempre observando uma lógica de poder e de manutenção e de reforço desse poder.
A este tipo de fretes por parte dos directores de informação que endoçam os convites a gente pouco recomendável - poderemos chamar de lacaios, que são o outro lado do espelho dos jagunços. Estes actuam do lado das massas, de fora para dentro do sistema, para condicionarem o fluxo da informação e o sentido da opinião pública e publicada; os lacaios - por seu turno, integram as estruturas directivas dos órgãos de informação, fazem parte das elites operacionais e decisoras - e actuam a mando ou dos presidentes dos conselhos de administração dessas empresas (públicas e privadas) ou até das suas próprias inclinações e tendências, ou ainda por escravidão das suas paixões e ambições, não raro temperadas por doses industriais de estupidez e má fé.
Foi o que fez a tsf, uma rádio-santuário, ao convidar sLopes para alí fazer análise ou comentário político matinal. Ainda se a decisão emanasse duma rádio de garagem (por legalizar) dos subúrbios de Frei de Espada à Cinta não me admiraria, agora da tsf!!?? Eis a perplexidade. Uma perplexidade que gostaria de ter visto o Jumento analisar devidamente. Daí as nossas observações.
Até porque a Opinião pública não é estática, e aquilo que hoje é aceitável para as pessoas amanhã pode gerar um efeito de repulsa. Uma das coisas mais graves que creio existirem nestas jogadas de bastidor, até em maior quantidade do que tratando-se dos "jagunços", são, precisamente o papel oculto e dissimulado dos lacaios da informação em Portugal, os quais procuram dizer ao povo o que pensar e, ao mesmo tempo, também indicam em que é que devemos pensar.
Como presumo dispôr de filtros poderosos não perco mais de 10 ss. ouvindo SLopes na dita tsf, mas vale a pena meditar mais do que 10 ss. para perceber o que a direcção da estação pretendeu com esse lance de xadrez ao convidar o pior PM da história de Portugal, incorrendo naquilo que consideramos - observando esta tipogia tosca - do efeito de lacaio - que aqui teorizamos no plano da sociologia da informação. Dito doutro modo: o que pretendeu a tsf ao recrutar sLopes para as suas vozes matinais?
Não foi, certamente, só indispôr os automobilistas que se dirigem para os seus empregos pela manhã e vão ouvindo rádio para esquecer o trânsito. Foi, então, o quê??? Vejam-se algumas dessas derivas tsf-lopistas que enquadram o efeito lacaio da manipulação da informação em Portugal:
1. Distrair a turba chamando a atenção com faits divers e outras informações fúteis, como os episódios do seu livro que toda a gente assistiu em directo, infelizmente;
2. Inventar problemas para oferecer pseudo-soluções à la carte;
3. Falar ao público como se estivesse no circo - utilizando um discurso infantilizado e débil;
4. Apelar às emoções, técnica para se fazer aceitar junto da Opinião pública - por via da compaixão e, assim, perfilar-se novamente para a corrida a Belém daqui por 3 anos;
5. Alimentar o psicodrama a fim de dissolver o sentimento de culpabilidade num ímpeto de revolta.
Por tudo isto chamam ao sLopes a criança terrível, quando, na realidade, se deveria designar por menino mimado e sem norte, ensimesmado e com uma personalidade política verdadeiramente borderline.

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Espero que o Jumento medite nisto, porque senão o fizer cremos que além do seu raciocínio - que é, convenhamos, antecipativo e sólido - mas não deixa de enfermar dum vício preocupante: o de não ter redescoberto o lado mais negro dos jagunços, ou seja, aqueles que - de dentro da máquina - para fora - procuram manipular e telecomandar as nossas consciências. E se não tivermos filtros poderosos acabamos mesmo por comprar gato por lebre, e é isso que temos feito em inúmeros processos eleitorais desde o 25 de Abril, ou não?!...