A solidariedade do III milénio: dá "anthrax" aos jovens e concede "viagras" ao idosos
Um País, dois sistemas - cit. in - Jumento - (por analogia ao sistema político e social chinês inventado por Deng Xiaoping):
[...]
"Na verdade multiplicam-se as situações e que as vantagens concedidas aos mais idosos são-no à custa e suportadas pelos mais novos.
São as gerações mais novas mais penalizadas pela crise, e são estas a que os custos de políticas que as esqueceram e excluíram. Quase todos os debates políticos e lutas sindicais desenvolvem-se à margem dos interesses das gerações mais novas, os grandes problemas nacionais prendem-se com a manutenção dos benefícios das gerações estabelecidos. Quando os mais jovens são considerados no debate dos “grandes problemas nacionais” são-no mais para efeitos decorativos, ou para engrossar as manifs.
São os mais jovens que mais sofrem com o desemprego, emigram, trabalham a recibos verdes, ingressam na Função Pública quase sem direitos, são penalizados pela inexistência de um mercado de habitação, são forçados a colaborar com a evasão às contribuições sociais e ao fisco como condição para conseguirem o primeiro emprego. Mas serão também essas as gerações que terão de pagar a divida pública, que vão ter que financiar pensões de montantes muito superiores aos descontos que foram feitos, que terão que pagar os juro dos investimentos nas grandes obras públicas ao mesmo tempo que suportam os custos da sua utilização, que suportarão um SNS especializado na terceira idade.
Não estamos perante uma situação de solidariedade entre gerações como deveria suceder, são as gerações instaladas a servir-se da riqueza do país, remetendo para a futuras gerações os custos de uma situação que chega a ser de abuso e oportunismo.
E o mínimo que se pode dizer da actuação dos governos é de que votam os jovens a um desprezo total, fazem-se umas páginas engraçadas na net, dão-se uns “shots” publicitários, e pouco mais. O governo anterior perseguiu penalizou a juventude retirando-lhe vários benefícios, este limitou-se a designar um secretário de estado que acha que os problemas da juventude se limitam à bola, estando mais preocupado em bater o recorde mundial do político com mais fotografias na sua página oficial, do que com os problemas da juventude".
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- Julgo que a reflexão supra se complementa com a reflexão infra, e ambas dão mais do que um simples retrato do nosso país. Chegam mesmo a animar o filme...O filme da nossa desgraça. Reza assim:
Um dos problemas do nosso tempo é explicar aos nossos filhos e netos, para aqueles que os podem ter, como é que a geração de 30 (do séc. XX) e as gerações de 40 e 70 – conseguem comunicar entre si.
Isto surge a propósito da crise social e democrática do Estado – que tem de recorrer a mecanismos de alcance comunitário para responder a esses desafios de paralisia estrutural das nossas sociedades. Todavia, esta questão, que se acentua com os períodos eleitorais, não decorre só da existência dum Estado patrimonialista e do défice demográfico a par das insuficiências das reservas financeiras do País. A clivagem resulta da necessidade – sentida pelos dois principais partidos políticos do arco da governação – PSD e PS – em capturarem maiorias democráticas para chegar ao poder.
Julgo que foram os nossos avós da geração de 20/30 do séc. XX - os maiores beneficiários da globalização, apesar do risco da guerra e de não existir Internet nem telemóveis, nem hipermercados, nem preservativos. Era gente que conquistava direitos sociais à força e pugnava por programas de crescimento, que a própria guerra parecia fomentar.
Hoje, as guerras do Iraque só dão prejuízo e não acalentam a esperança de quem as trava. Dantes, ia-se para a guerra (colonial - compulsivamente) e respondendo a uma ordem de António Oliveira Salazar - em busca duma reforma melhor e do reconhecimento pátrio. Era a conquista da glória em prol dum império que já não há.
Hoje, regressa-se de lá sem a reforma, sem a glória e sem uma perna. É muita desilusão ao mesmo tempo. A geração seguinte nascida nas décadas de 40/50 – a dos meus pais – já cresceu com expectativas sociais viradas para a protecção social por recurso à neutralização do risco, apesar dos comportamentos defensivos de muitos deles que se endividavam, mesmo desconhecendo a valia da cartilha de J. M. Keynes - que funcionou só até à década de 70 – coincidente com o termo da guerra do Vietnam – que foi a primeira guerra televisionada em directo para todo o mundo.
Neste caso, nem glória, nem reforma, nem pernas, nem vida. Apenas um estilhaço embrulhado num caixão recebido pelas famílias. Portugal, também conheceu esse processo em nome do império de Timor ao Minho pilotada por alguns restolhos que fizeram uma transição suave da ditadura para a democracia, e olham hoje para as pessoas como se elas fossem formigas, e ainda hoje passeiam a surdez pelos bastidores dos Prós & Contras asseverando ministros da C & T em público com os dedos em riste, pensando que ainda vivem sob os comandos de António Oliveira. Por último sossobra a minha geração, (que não mandou matar ninguém - branco ou preto) – nascida na década de 60/70 – apesar de não ser uma geração ressentida, só viveu as guerras do século XX pela TV e estudou-as no papel, é, hoje, obrigada, a assumir várias desilusões: não há empregos para gente licenciada, nem protecção social garantida para a eternidade. Sem estes mapas dificilmente se consegue fazer a viagem, que já não é ideológica. Tudo isto vem a propósito do facto de não haver comunicação possível entre aquelas três gerações – avós, pais e filhos. Amam-se pelo sangue, mas não se falam. Foi essa troika de gerações que cruzou um século de história, e, hoje, encontram, sentados no seu sofá, o Portugal “SS” – de Santana e Sócrates. Os homens do videopower que falam, falam, falam mas não os vejo fazer nada... De facto, são estes 3 grupos eleitorais que não se entendem entre si, porque os seus interesses são verdadeiramente antagónicos em matéria de segurança e protecção social que o Estado, de per se, já não consegue manter. Em rigor, é a gente feliz com lágrimas da geração de 60/70 – por sinal os mais preparados intelectualmente, que hoje representa o quadro emergente de opções políticas. Só que há um problema com esta gente: não têm suficiente dimensão numérica e sócio-eleitoral para influenciar e fixar o núcleo da decisão política – que está hoje em recomposição em Portugal. Ao invés, são os avós e os pais – destes filhos – que têm esse peso politico-eleitoral. É essa massa de pessoas que hoje se passeia nos hipermercados a comprar cenouras e batatas espanholas em virtude da globalização hortícula. É por isso que a avaliação do presente em matéria de segurança social em Portugal, não augura nada de bom para o futuro. Talvez por isso os nossos avós possam, com carinho, ser apelidados de “mimados” da globalização; os nossos pais os “afilhados” dela; e nós, os trunfos da década de 70, que surfamos na net e falamos ao telemóvel, e pensamos que o virtual é que é o real, não passamos dos “órfãos” da globalização competitiva – por uns apelidados de ressentidos, por outros vistos como os verdadeiros heróis do nosso tempo. Seja como fôr, creio que Portugal se encontra hoje numa encruzilhada perigosa. E a melhor cena que retrata esse perigo lusitano se verte naquela situação daqueles pobres que passam a vida a olhar para os céus à espera que chova sopa. E por vezes chove, só que quando isso sucede, aqueles só têm garfos nas mãos...
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