O político e a blogosfera
O desconhecimento digital de Miguel Sousa Tavares - via seu artigo (Cibercobardia) já aqui nos tem feito reflectir sobre a evolução dos comportamentos humanos no uso e abuso das TIC. Ora, sabemos que cada homem é uma ilha, um ser diferente que cultiva a sua superiodade, a sua arrogância e altivez e a sua personalidade - por vezes de forma gratuita e sem nada ter para ensinar ou partilhar com o mundo. Daí a necessidade do regresso à humildade, o regresso a Sócrates, ao seu método de procura incessante - se possível em diálogo, em negociação permanente, sempre disposto a integrar coisas novas, novos saberes, outras avenidas do pensamento e da existência. Reconstruindo sempre o nosso mundo e afinando sempre as nossas percepções. A pobreza conceptual daquele artigo (cibercobardia) contrasta com a lucidez com que MST nos habituou, por isso o respeito, salvo quando mergulha em coisas ou áreas do conhecimento que desconhece ou domina mal. Esta reflexão, de certo modo, também é para o ajudar a entender coisas novas e estranhas à sua mente. É que a sociedade virtual não deixa de ser um tecido de redes que nascem e são criadas por quem está interessado em beneficiar delas. Tratam-se de redes económicas, epistemológicas, filosóficas, religiosas, nacionais, culturais, sindicais, partidárias, políticas, desportivas, até jornalísiticas (para quem as sabem utilizar) e o mais... O objectivo ora é trocar informação, ora é influenciar a opinião pública e modelar as políticas públicas desenvolvidas e implementadas pelas autoridades. No fundo, o político tem de fazer tudo para dispor dos favores do maior número possível de eleitores, logo de influências. Ele trabalha para que as suas ideias sejam aceites e integradas na polis.
Ora, o mesmo se passa com estes dispositivos maduros da Net que são os blogs - que hoje estão revolucionando o quadro de mentalidades, a forma de circularizar a informação, partilhar o conhecimento e o conjunto dos relacionamentos das pessoas, das organizações e dos media com os micro e macro-poderes da polis global. Daí o paralelo do político com os bloggers: ambos têm de captar o tal capital de simpatia e de atenção a fim de atrair as "presas" à "teia" e pontuar com visitas, links, reconhecimento e o mais.. E se a teia for potenciadora de conhecimento em prol do bem comum de que falava o Ariustóteles, tanto melhor. Daí que o MST não pode dizer, como disse no seu artigo - que chats e blogs... blá, blá, blá... são coisas dispensáveis que só contribuem para a dessocialização entre as pessoas. Isso é a lenga-lenga dos manuais de sociologia da década de 70 cujas leituras o MST deve actualizar. Ambos, o político e o blogger, pretendem cativar a atenção das pessoas. O mesmo sucede ao MST quando escreve aqueles seus interessantes e luminosos artigos que versam a política, a sociedade, a economia, a cultura e o ambiente...
Uns e outros têm agora de procurar votos e estimular a adesão de mais pessoas - dentro e fora da rede. Para quê??? Para triunfar, para passar o tempo, para queimar tempo e distância, para nos irmos aperfeiçoando pessoal e moralmente. No fundo, seja na política (arte mais nobre), seja no ciber-espaço coloca-se sempre a questão de saber atrair as pessoas conquistando de seguida a sua fidelidade. Para quê (?), senão alimentar os seus sonhos, retroalimentando também os nossos - valorizando o conjunto nesta troca de saberes e de experiências. O MST e muitos beginners como ele, deveriam meditar nestas palavras e ser mais humildes.. Quem sabe ele não venha também, um dia, a praticar esse tal exercício intelectual do poder e da autoridade (fundado no conhecimento) que não deixa de ser simultaneamente um teste à própria verdade, ao conhecimento e à sabedoria...
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