segunda-feira

Notas Soltas: os trocos da Europa burilados pela dupla "Zandinga & Gabriel Alves"

Os dois momentos de Vitorino... tomando as eleições francesas como pano de fundo e as entrevistas de Cavaco e S.Lopes como epifenómenos duma Europa que definha às mãos do seu actual mordomo-mor. Já avaliámos essas duas entrevistas, mas hoje o analista do poder foi comedido, e como é educado e não anda por aí a pôr-se em bicos de pés foi, quiça, demasiado cordato. E compreende-se, pois era o próprio António Vitorino que se estava a avaliar a si próprio, por isso não poderia falar muito de durão... Disso a História se encarregará...
Todavia, julgamos que foi brando de mais com a entrevista de Cavaco - muito seguidista em relação a S. Bento mas não deixou uma marca estruturante que emprestasse um rumo para Portugal na Europa e no mundo. Subscrever só as reformas de Socas - emboras importantes, podem não ser determinantes, e seria aqui que Cavaco deveria rasgar terreno oferecendo ao País uma ou duas ideias que fizessem a diferença do marasmo político em que estamos. África, Brasil... parece que não existem para Portugal, porquê??? Porque não canalizar os milhares de licenciados para cooperar com África nos domínios do Ambiente, Educação, Saúde...
Nas eleições francesas AV disse-nos que pela 1ª uma mulher (bastante interessante, por sinal) poderá ganhar as eleições presidenciais. E a importância desse acto envolve a Europa no seu conjunto, dado o peso relativo da França no Velho Continente.
Depois vieram dois elos encadeados: as entrevistas de Cavaco e de Santana. Daquele disse ser um profissional na política, e só diz o que quer porque a sua espontaneidade (leia-se, cultura política) - também não é mais elástica que permita improvisos. Portanto, Cavaco tencionou apoiar Socas e foi isso que fez, deixando MMendes a arder no caldeirão da oposição - levando-o até aos trópicos; de SLopes disse o que disse:
Andou por aí e chegou até aqui... Esta foi a melhor definição política sobre SL que já ouvi, confesso.
E se nada mais dissesse AV já teria resumido toda a vida política de SL.
Mas importou referir algo mais conexo com ele: a circunstância de Durão ter pedido a Lopes que assumisse as rédeas do governo porque aquele estava a pensar pirar-se para a Europa. Enquanto que, para consumo interno, fingia apoiar AV para o cargo. É óbvio que hoje (como então) ninguém acreditava nas balelas de durão. A quem se poderá, porventura, inverter a fórmula que António Vitorino aplicou a Santana.
Assim, seria: Durão chegou até aqui depois de andar por aí...
Aliás, temos explicado isso através da mentira na política, um tema que faz carreira na politologia moderna e contemporânea. Mas aqui o que me chamou mais a atenção foi o comedimento de AV e o pudor que ele depositou nessas articulações. Posto que se há alguém que sabe o que efectivamente se passou foi AV e, no entanto, teve aquela atitude diplomática, discreta, de auconstrangimento (ensinada no processo civilizatório de Norbert Elias e em Freud) - que contrasta com a conduta-espalha-brasas e auto-promocional típica em SLopes.
Mas aquele sorriso - da 1ª imagem deixa-nos antever que temos memórias pela certa lá para 2030; na imagem infra relevamos a translucidez do analista. Que nos mostra como AV consegue ver simultaneamente dona Judite, Portugal, a Europa e o cozinhado de 7ª categoria que durão engendrou com Santana a fim de remeter Portugal para a cauda da Europa. Mas um dia a história julgá-lo-á, nem que seja pelos lucros cessantes de AV não ter sido o Homem da Europa como na altura se impunha. Quem perdeu foi Portugal.
Mas a história é assim mesmo. E da história um dia George Orwell disse:
Ela já mostrou por diversas vezes que não é preciso grande coisa para meter milhões de homens no inferno de 1984: basta um punhado de vadios organizados e determinados que vão buscar o essencial da sua força ao silêncio e à cegueira das pessoas vulgares. As pessoas vulgares não dizem nada porque nada vêem. E se nada vêem, no fim de contas, não é por falta de olhos, mas, precisamente, por falta de imaginação.