domingo

Sobreviver à morte política...

"Santana faz prova de vida e emenda a mão com Barroso" O ex-primeiro-ministro diz que caiu por uma “convergência de interesses”. [ expresso Assin.]

Image Hosted by ImageShack.us

Nota macroscópica: Esta é uma bela metáfora que se aplica que nem ginjas ao gover-Santana-Portas-Durão
“Durão Barroso sai-se mal”. A frase ‘assassina’ foi de Pacheco Pereira, quarta-feira, dois dias depois do lançamento do livro de Santana Lopes. (...)

O livro arranca no ponto em que tudo começou - quando, a 13 de Junho de 2004, o PSD e o CDS sofreram uma pesada derrota nas europeias e Durão Barroso avisou Santana Lopes para ir ‘‘pensando’’ que poderia ter que o substituir. ‘‘Confirmei que houve pessoas que trabalharam nessa possibilidade (Durão ir para a Comissão Europeia) antes de ela acontecer’’, lê-se no livro. E os comentadores do PSD e do CDS na ‘Quadratura do Círculo’ não foram doces.
‘‘Este livro é também um testemunho sobre o carácter de um homem público bastante pior, mais perigoso e negativo para o país do que o próprio Santana Lopes’’, afirmou Lobo Xavier. ‘‘É a primeira vez que alguém dá dados concretos sobre algo que Durão sempre negou, ter estado a trabalhar activamente para o lugar na Comissão Europeia muito antes do conhecimento público dessa realidade’’, concordou Pacheco Pereira.
Os ecos da ‘Quadratura’ chegaram a Bruxelas e Santana Lopes aproveitou a entrevista à RTP, quinta-feira à noite, para adoçar a imagem de Durão: ‘‘Ele nunca deu um passo para ser presidente da Comissão; apoiou até ao fim a candidatura de António Vitorino, e eu seria hipócrita se não desse este testemunho: Durão Barroso foi irrepreensível em todo este processo’’.
(...) Cavaco Silva - que, segundo Santana, não teria sido eleito à primeira volta com o Governo PSD/CDS -, Marcelo Rebelo de Sousa - cuja demissão da TVI marcou “o irromper da queda” do seu Governo -, e Jorge Sampaio - que decidiu dissolver o Parlamento “da noite para o dia” - são os “maus da fita”. Nenhum aceitou comentar.
Na primeira entrevista pós-livro, Santana insistiu ter sido penalizado por trapalhadas a que outros também não escapam - “eu não tive nenhum secretário de Estado da Energia a dizer que a culpa do aumento da electricidade é dos consumidores”, exemplificou, numa referência ao actual Governo. E deixou avisos ao PSD : “Não esqueço como o partido lidou comigo” e há “exércitos de pessoas que me têm telefonado, disponíveis para me apoiarem no partido e no país”. Se Marques Mendes será o candidato do PSD em 2009, Santana diz “não ter a certeza”. Para ensaio de ressurreição política, foi uma semana em cheio.
****************************************************************
ANTES FOSSE A FAMÍLIA FORSITH...

Image Hosted by ImageShack.us

Apresentada a notícia urge descodificá-la e ir mais além. E não é para bater mais no "ceguinho" (SLopes, durão e outros da mesma geração que assaltaram o poder do Estado para servirem desígnios exclusivamente pessoais). Mas para compreender a fundo as falhas do sistema político que permitiram estas derivas, estes abusos do poder, estas instrumentalizações dos maos elevados ógãos do Estado para contento privado. É deste tipo de questões com que se preocupa a Ciência Política - que aqui anda milhas adiante do Direito Constitucional - mais vocacionado para o estudo das normas de Direito político que, no fundo, se ocupam da parte estática do funcionamento do Estado.
Porque razão estas cegadas ocorrem? Falsos PM a desancarem no país e a editarem livros aos quadradinhos (tipo "Major Alvega", como diz alí o Jumento); o PR/sampaio a ratificar decisões macacas (como investir Slopes para S. Bento); barroso em fuga para Bruxelas ainda com o cargo de PM, fazendo lembrar aquele chefe de família que é apanhado pela esposa com duas amantes ao colo na pensão da frente... Este encadeamento verdadeiramente alucinante de factos lamentáveis fez estragos em Portugal: bloqueou o país, adiou reformas, impediu investimentos, frustou expectativas, enfim, danificou material e moralmente Portugal. Empobreceu o país e expôs as suas vulnerabilidades e fraquezas mais à globalização competitiva que está aí à porta do Estado, das empresas e das pessoas.
Isto ocorre, em nosso entender, porque certos políticos não se sabem pôr entre parêntisis por uns tempos, não se conseguem introspeccionar e corrigir ante o perfume do poder. A cegueira, a arrogância do poder, o desprezo pelo saber, a ilusão, a ingenuidade.. Tudo isso tolhe a lucidez de quem tem que apreciar factos e acontecimentos e estar na posse de toda a informação para decidir sem sacanices e em prol do bem comum. Foi isto que aconteceu em Portugal com aqueles figurantes da política à portuguesa (Lopes, durão e sampaio)??? É óbvio que não. E aqui coloco todos mais ou menos ao mesmo nível, dado que todos, cada qual à sua maneira, foram co-responsáveis dum desastre que verdadeiramente se anunciava mas que verdadeiramente ainda não assumiram. Especialmente, sampaio e, mormente, durão - que ainda goza as suas euro-vacances impunemente.
Por outro lado, esta troika de homens demonstrou falhar porque têm uma concepção mesquinha e interesseira do poder. Ou seja, para sempaio como para durão e santana - o poder revelou reduzir-se a uma mera técnica de conquista, mas, de facto, o poder não é um fim em si mesmo. Ele revela também sonho, utopia, projecção, planificação, concepção de políticas públicas que escapem aos meros egoísmos politico-partidários. Ainda que cada um daqueles figurantes aceite que por vezes o agente político tem de recorrer a métodos imorais, porque a política a isso obriga, têm também de aceitar esse idealismo que faltou. E no caso vertente - durão-santana-sampaio - a troika da desgraça em Portugal - não soube colocar-se sob essa tensão dialéctica entre a imagem do poder (pessoal que cada um deles conquistou) e a tal utopia e sonho para que deveria apontar o projecto de cada um.
Creio que o problema é nenhum deles soube deixar rasto, soube satisfazer às verdadeiras necessidades das populações, e todos se preocuparam em matar os fantasmas pessoais e compensar-se o mais possível com as benesses que o poder lhes concedia. Nenhum compreendeu que a única justificação para o poder que a dado momento tiveram seria para realizar uma obra útil ao bem comum, algo que ficasse na memória e que vencesse a ditadura do tempo que passa - que apaga naturalmente a memória. Nenhum daqueles três figurantes da política lusa revelou ter este saber, esta ciência. Sampaio esteve uma década em Belém e dele guardamos a memória que fala muito bem inglês (posto que em português também ninguém o entendia) e chora facilmente; durão é um traidor sem estória - hoje mais conhecido por "fujão"; santana lopes é um ingénuo que se confunde com um guerrilheiro. Haverá diferenças entre estes políticos e aqueles que estão ávidos de satisfazer as suas ambições pessoais mesquinhas?
Todavia, todos triunfaram: Lopes chegou a PM; durão ascendeu a mordo-mor da UE; e Sampaio, porque não havia mais candidatos em 1996, lá ganhou a Cavaco depois deste ter estado uma década à frente de S. Bento como PM - dalí saindo esgotado com o buzinão da Ponte 25 de Abril (mal gerido por Dias Loureiro) e pelo caso dos hemofílicos cuja pasta da Saúde era então gerida por leonor Beleza. Todos ganharam, é certo - mas a que preço? Que ódio e desprezo suscitaram nas populações.. Nesse caso, o seu triunfo rápidamemnte se transformou em drama ou, o que é pior ainda, em tragédia e em vergonha, pois não será fácil amanhã ser julgado pela História como um mero traidor à autoridade do Estado - ao invés da imagem que pretendiam dar de si.
Em suma: o que faltou àquela troika do Poder (DSS) - Durão, Santana e Sampaio? Todos detiveram o poder, mas nenhum teve glória ou arrastou consigo as populações. Todos, em rigor, foram mais tolerados do que amados ou desejados. Nenhum, por outro lado, conseguiu inflectir a direcção dos acontecimentos, antes os agravaram: Durão queria fazer-se eleger presidente da Comissão Europeia e forjou a Cimeira dos Azores para respaldar G.W. Bush a ganhar legitimidade política para intervir com base numa mentira (a da putativa existência de armas nucleares no Iraque); Lopes queria ser PM e aceitou a oferenda do Poder do seu arqui-rival interno no psd sem ir a eleições (pasme-se!!!); e Sampaio, sem perceber o que se passava, pediu aos empresários que o ajudassem a tomar a decisão, levando 15 dias para o fazer, entre toneladas de indecisão e hesitação - e ao fim de três meses desmentiu-se aquando da dissolução da AR - na sequência do ambiente de degradação política progressiva decorrente da demissão de Henrique chaves (e do affair marcelo/r.Gomes da selva) do governo santana.
A história desta troika de figurantes do poder está repleta de fracassos, de omissões e de frustrações que deveriam tratar-se no divâ do psicanalista e não nos escaparates das livrarias. Creio que todos renunciaram ao seu ideal, todos pensaram mais neles próprios e não na nação nem nos seus superiores interesses. Talvez por isso possa supôr que todos hoje vivam na angústia e no sofrimento de não ficarem na memória dos portugueses e no juízo (positivo) das pessoas em geral. Nenhum ficará na História - com "H" grande, creio...
Se entendermos a política como a ciência e a arte de mudar o mundo - com realismo mas também com utopia (com o tal idealpolitik) - iremos sempre pensar que aquela troika de figurantes que ocupou os principais lugares do Estado eram todos velhos e resignados e sem visão de futuro. A política representa o vigor e a eterna juventude, e o que assistimos em Portugal em 2004 foi tudo menos bonito:
O governo santana, subscrevendo Eça, não caíu porque não era um edifício, saíu com benzina porque era uma nódoa...

PS: Dedicamos esta reflexão à memória de Eça de Queiroz que também nos ajudou a pensar, supondo que também sabemos escrever..