segunda-feira

Influenciação comunicacional via blogosfera: o instrumento mais maduro na Net

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Todos nós conhecemos o peso social e político dos media nas nossas vidas, especialmente no âmbito das sociedades de massas em que vivemos. O número de pessoas atingidas pelas notícias são são elevados, e é essa lei dos grandes números que ganha uma dimensão de escala verdadeiramente nova. Sendo certo que cada novo media, desde logo, a imprensa suscita um tipo específico de reacções. E é com base nesse quadro de acção-reacção que se estabelece uma relação específica entre o suporte-imprensa e as pessoas/leitores que com ele desencadeiam processos cognitivos.

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Na prática, o que se pretende enfatisar é que cada suporte ou veículo de comunicação engendra no seu seio um tipo concreto de acção-reacção-interacção nesse processo de conhecimento e de reconstrução da relação social. A televisão, pela natureza das coisas, exerce um poder ainda maior nessa relação, posto que incita ainda mais o público a acreditar, a representar, a ser e a ter algo. Induzido pelo potente poder da imagem...

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A blogosfera (apenas me reporto aquela que pensa e reflecte com alguma base crítica e científica, e não aquela outra dedicada à pura maledicência e aos cortinados e intimidades sem qualquer interesse público - relevante para a polis) já começou a transformar a sociedade, nela desempenhando um papel de crescente sensibilização junto dos media, dos agentes sociais, económicos e culturais, das organizações, do poder político, em suma, passou a influir na sociedade como um todo.
Naturalmente, fazemos aqui um esforço para não ser exagerados, e não dizer que a blogosfera está ao nível da mediasfera - que tem e goza de uma emissão de maior escala, de um estatuto jurídico e de um prestígio junto da sociedade que a blogosfera, manifestamente, não tem. Mas confesso que me dá vontade de rir quando a visão, o dn, o público ou qualquer outro meio pagam a um seu articulista 60, 90 e 150 cts por um artigo que um blogger com alguma formação académica e/ou científica faz completamente de borla - colocando-o na rede ao acesso gratuito de todos. Isto dá-me que pensar...
Sucede, porém, que uma das vantagens estratégicas que reconheço na dita blogosfera, é a sua função simultaneamente de sentinela e de criatividade para inibir a manipulação de notícias e, ao mesmo tempo, ir produzindo peças originais que além de concorrerem com os artigos dos media têm sobre eles um índice de inovação considerável. Desactualizando-os rápidamente... Desta feita, a blogosfera mais séria e credível pode, em parte, tornar-se elemnto integrante das fontes utilizadas pelos operadores de iformação e análise, i.é, de conhecimento. Ainda que de forma incipiente. Mas é inegável que já contribuem para o processo de construção de notícias. Não é só o autarca, o deputado, o PM, o empresário, o bispo, o sindicalista ou o chefe partidário que operam como grupos de poder ou, se quisermos, como definidores primários de notícias.
Logo, não são apenas as informações aí veiculadas que passam a estar disponíveis no mercado global da informação, se bem que são importantes as fontes institucionais, mas já não esgotam o acervo de informação disponível no mercado. Podem desencadear alguns processos informativos, mas já não os controlam de forma isolada e unilateral: o deputado, o autarca, o sindicalista, o líder partidário têm, doravante, de contar com outras leituras, derivas e valorações emanadas do ciber-espaço que, em sede de especialidade ou não, têm uma opinião tanto ou mais científica ou valorizadora de um dado problema de interesse público. Nesse sentido, a blogosfera já passou a disputar quota de atenção junto da sociedade - que assim redirecciona a sua atenção para ela - e não exclusivamente para a tv, jornais, rádio...Daí a sobranceria da mediasfera sobre a blogosfera - que tem contribuído para acelerar os seus lucros cessantes.
Se esta nova relação representar uma revolução informacional, então podemos constatar que o mercado das fontes e da produção de informação e de análise sofre um processo de evolução que deve ser considerado. Por isso, defendemos aqui que a mediasfera e a blogosfera podem (e devem) ser mais complementares do que concorrentes. Especialmente, no plano do chamado jornalismo de ideias ou jornalismo de investigação, ensaio - em que o quadro dessa interacção se pode estreitar e aprofundar. Tanto mais que hoje, por força do mercado de desemprego em Portugal e das relevantes qualificações académicas já disponíveis nesse segmento, há inúmeros licenciados, nos mais variados sectores de formação, que utilizam o seu tempo de forma criativa e produtiva - buscando a integração social através da opinião que vão emitindo nos seus blogs, alguns verdadeiros espaços de reflexão que já "dão cartas" no mercado das ideias em Portugal.
É claro que alguns jornalistas, mesmo os mais qualificados, que ainda procuram a "@" no quarto dos fundos, não estarão ainda preparados mentalmente para o admitir. Mas com esses temos de ser ao mesmo tempo tolerantes, compreensíveis e até didácticos e pedagógicos, como foi aqui o Macroscópio na resposta ao artigo (Cibercobardia) de Miguel Sousa Tavares no expresso.

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Podemos referir, portanto, algumas conclusões que nos parecem razoáveis:
1. A blogosfera rompeu com o estado de acomodação e de conformismo em que vivia o jornalismo;
2. A blogosfera também pode desenvolver jornalismo de ideias e até produzir algumas fontes de informação credíveis, i.é, que podem ser citadas por outros sem o problema de se revelarem falsas ou incompletas;
3. Integra socialmente as pessoas, especialmente as mais talentosas e criativas - que assim enriquecem o mercado geral de ideias;
4. Influenciam positivamente os poderes - já que mostram caminhos, alternativas e propostas de solução que doutro modo ficariam ocultos na tal paisagem do jornalismo conformista;
5. Muitas pessoas passaram a acreditar em si, e mais: acreditam que as pessoas não são apenas influenciadas pelo que os outros dizem, mas também pelo que imaginam que eles podem dizer. É aqui que se abre um vasto campo de oportunidades intelectuais, até porque se tais ideias/opiniões não tiverem credibilidade, fundamento ou receptividade as pessoas acabam por optar pelo silêncio.
6. Nessa óptica, a blogosfera é um excelente veículo para integrar opiniões minoritárias noutras correntes de opinião dominantes - que passam a coabitar entre si, ainda que vinguem estas.
Em suma: a blogosfera é um motor integrador de informação alternativa sobre os factos e os acontecimentos que tecem as narrativas do nosso mundo. Todos aqueles milhares de bloggers que (ainda) não são ouvidos ou considerados pela Opinião publica não se preocupem, talvez ainda não tenha chegado o momento de começarem a distorcerem a dita. Mas será nesse estágio que se limam erros para evitar poluir ainda mais o ciber-espaço. Quantos votariam em Santana e quantos votariam em Cavaco (por referência ao share de 2,5 milhões daquele e aos 400 mil deste?). Naturalmente, aqui as artificiais maiorias mediáticas não correspondem às intenções sociológicas das populações que votam e verdadeiramente decidem.
Também aqui a blogosfera se revela um filtro verdadeiramente útil e potente, na medida em que ajuda as populações a compreenderem essa maioria silenciosa que por estar saturada dessa acumulação dos media (e das suas fontes), ou da consonância "imposta" pelos líderes das empresas de sondagens e pela ubiquidade traduzida na presença dos media no nosso quotidiano - que os cidadãos são chamados a estudar e reflectir melhor sobre os factos relevantes para a vida pública e o bem comum. É aqui que alguma blogosfera é mais amiga do que poluente da informação gerada em Portugal e no mundo. Por isso, o balanço que aqui fazemos desta actividade é francamente positivo.

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