sexta-feira

Entrevistas simultâneas na RTP e SIC...

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Ontem teorizámos aqui o que pode ter estado na base desta inflação artificial de audiência que concedeu 2, 5 milhões de almas penadas (entre os quais me incluo) a Santana e cerca de 400 mil telespectadores ao actual PR. Há razões objectivas e subjectivas para isso, creio.

Vejamos sumáriamente algumas delas de ambos os lados. Comecemos pelo vencedor do share, Santana:

1. Teve mais share porque representa o lado rebelde da vida, a contestação, o psicodrama, o estardalhaço, o simulacro e a eventual "barraca" que pode estalar a qualquer momento - com uma declaração mais afoita ou menos políticamente correcta;
2. Apesar de me parecer algo velho e agastado representa, na memória de muitos de nós, alguma juventude, alguma revolta, um certo anti-sistema desafiador dos poderes instituídos. Apesar de SL já não ser o incendiador de congressos do psd - parece até que perdeu alguma chama discursiva, apesar de nunca ter sido um orador rigoroso, sistemático e estruturado - como Guterres, Freitas do Amaral ou António Vitorino e agora Sócrates (que faz essa aprendizagem discursiva). Nesse sentido, SL também representa o "espalha-brasas" que há em cada um de nós, "mais-Martini-menos-Martini" na kapital ou no Cais-do-Sodré, depende dos gostos.
3. Depois o homem caíu em desgraça, vitimizou-se, condoeu-se, só faltou chorar e o povo português adora estas merdices, estes melodramas e ainda se condoi mais. Aposto que muitas "santanetes" oxigenadas e "pxebeque à cintura" - ontem à noite emocionaram-se ao ver alí o seu "garanhão político" fazendo um acto de contrição e queixando-se à nação da sacanagem torpe e titubeante de sampaio - sem sequer perceber que foi Santana o seu principal inimigo, resultado da sua impreparação e incompetência políticas - por mais que lhe custe reconhecer este facto.
4. Depois o povo português - como latino que é - gosta de "sangue", talvez porque esteja farto de monotonia política fornecida com MMendes, Anacleto, jerónimo, já nem falo do cds... Santana - diante todos - ainda é o único capaz de fazer algum estrago ao poder instalado - seja em S. Bento seja em Belém, nessa óptica da violência político-discursiva - SL consegue consolidar um capital de queixa e de simpatia que se quantifica naquela expressão mediática. Para além dele só Al berto J Jardim, mas este já ninguém o leva a sério, nem no carnaval.
Mas atenção: uma maioria mediática não pode ser transponível para uma maioria sociológica. Posto que se SL fosse hoje a eleições só meia dúzia de gatos pingados votaria nele, os mesmos que precisariam de se empregar na edilidade lisboeta (como assessores e santanetes) - o maior antro de cunhagem, nepotismo e de corrupção que hoje existe em Portugal e que, de certa forma, foi tacitamente reconhecido ontem por Santana relativamente à gestão torpe e traidora do "novato" da política que é o sr. ingº Camona Rodrigues - que até já deveria ter resignado ao mandato por ordem do Tribunal Administrativo - em virtude de violação grave de inúmeras regras de direito.
Em suma: SL esteve igual a ele próprio e teve mais uma vitória de Pirro.
Analisemos agora os magros resultados televisivos de Cavaco Silva, o PR:
1. O prof. Cavaco é um docento universitário, tem preparação académica - coisa que SL não tem - por isso não se compreende que tenha sempre um discurso limitado e circular, enfadonho, repetitivo e, portanto, demasiado previsível. Estou à vontade para o dizer porque até fui um dos que votei nele e até tive o prazer de lhe oferecer um livrinho meu - que ele teve a gentileza de me agradecer revelando consideração pelos cidadãos comuns - como eu. Portanto, nesse sentido, o prof. Cavaco é até uma pessoa humilde a educada - coisa que muitos não são. Mas, confesso, que esperava mais dele. Como e onde??? No discurso relativamente à globalização (que se confinou à economização do mundo empresarial e à multinacionalização dos procedimentos) e à falta de visão para a sociedade portuguesa - que achei muito a reboque das reformas do governo. Não vi élan em Cavaco..
2. Depois Cavaco já não é um beginner, esteve uma década em S. Bento e isso retirou-lhe élan e impulso criador, além de que nunca foi inovador nas fórmulas, apesar de seguro e cauteloso. Tudo isto ao invés de SL que nunca parou mais de 10 meses no mesmo lugar...
3. De tudo resulta uma prestação institucional, formal, previsível e os portugueses hoje querem é ser surpreendidos. Por isso, não compreendo qual é o papel dos seus assessores mais políticos na preparação destas entrevistas. Certamente que não as preparou com João calos Espada - que é tudo menos um criador de conceitos, um inovador. Estou plenamente convicto que se eu próprio passasse meia hora com o prof. Cavaco muita coisa nova lhe diria, mas as rotinas e os interesses instalados a dada altura têm medo das sombras - não vão as sombras comer-lhes o seu pedaço de pão.
Julgo que o prof. Cavaco é capaz de fazer melhor do que falar de cooperação e de mobilização, dois chavões etéreos como o tempo que passa. Fazer discursos anti-corrupção - apesar de importantes, não basta.. Se ele vir a cassete verá que tem de mudar de discurso - seja por via do seu enriquecimento e diversificação temática, seja escolhendo assessores mais talentosos que o assessorem mais eficientemente. Talvez não fosse má ideia começar por ouvir um programa que dá semanalmente às 2ªfeiras à noite chamado Notas Soltas... É de borla.
  • Vejam-se agora as estatísticas:
A entrevista concedida pelo ex-primeiro-ministro Pedro Santana Lopes ao programa “Grande Entrevista”, exibido às 21h00 de quinta-feira na RTP1, conquistou mais telespectadores do que a do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, emitida pela SIC praticamente à mesma hora. De acordo com dados da MediaMonitor, divulgados esta sexta-feira, a entrevista conduzida por Judite de Sousa no canal público ocupou o sétimo lugar na lista dos programas mais vistos, com 2,5 milhões de telespectadores, enquanto a entrevista a Cavaco Silva conduzida por Maria João Avilez, que teve início 8 minutos antes (20h52), ficou pela 11.ª posição, com menos 400 mil telespectadores.
As entrevistas aos dois políticos não conseguiram superar a telenovela "Doce Fugitiva", que a TVI começou a transmitir às 21h14, sendo que este foi o programa mais visto do dia.