Conceito de Europa-medíocre
Uma leitura mais fina do que representa hoje a "liderança" europeia exige que se interprete o processo que gera a formação dessa descontinuidade, dessa pobreza entre o passado e o presente-futuro, enquadrando o próprio processo de maturação dos sistemas complexos da Europa, categorias das sociedades modernas - que parece já não gozarem das habituais dinâmicas de inovação e de transformação que definem as trajectórias evolutivas na economia, na sociedade e na política europeia. Hoje, essas trajectórias de crescimento e de modernização já não são lineares e cumulativas formando uma linha constante de progresso, mas encontram-se distribuída por pontos críticos que ilustram essa curvatura. Uma curvatura bem patente no discurso de durão barroso numa entrevista de tv a partir de Bruxelas. Essa entrevista será o sintoma de algo mais grave e mais profundo enquistado no seio da Europa actual: não conseguir sair da paralisia política e económica em que está mergulhada, por acumulação daqueles pontos de maturação e declínio numa Europa velha, doente, pouco produtiva e pouco competitiva, pouco qualificada, sem liderança, corrupta e incapaz de alterar a actual configuração política em que vegeta e que é de consequências políticas verdadeiramente imprevisíveis. Durante muito tempo a Europa representou uma trajectória ascendente, uma fase de expansão, de vitalidade e de crescimento no seu ritmo de desenvolvimento político, com elevadas taxas de crescimento em todos os sectores de actividade. Sempre disposta a dar estímulos à economia e à sociedade, prevendo e impedindo os factores de regressão e de pobreza, hoje renovados com esta presidência que não renova, não inova, não surpreende, não tem liderança nem consensualiza. Enfim, uma Europa de que é espelho um josé barroso dominado pela envolvente norte-americana e asiática, temerato e sem ideias, incapaz de furar a complexidade do sistema mundial e impor ao mundo uma visão de crescimento a partir de Bruxelas. Falar de modernização e desenvolvimento para o Velho Continente - agora a quase 30 países - nas actuais condições e circunstâncias políticas, é verdadeiramente surrealista. Isto na prática significa o seguinte: no passado recente a Europa foi governada por valores de crescimento, como o risco, a competição, a dominação e a capitalização - tudo variáveis que integraram a fase ascendente das sociedades europeias caracterizadas por uma elevada capacidade para assumir riscos, valorizar a competição e a solidariedade, sem por de parte uma propensão natural para estabelecer relações de dominação que incidiam sobre espaços e sociedades menos dinâmicos e uma atitude de cassandra perante o futuro, antecipando perigos, riscos e ameaças. Enfim, uma Europa rica, desenvolvida, respeitada e temida. Uma Europa-guia para o futuro, capaz de influenciar e até de inspirar outros nessa sua visão de programação do futuro. Uma Europa pujante e com esperança..Uma Europa liderante. Ontem à noite - naquela entrevista ambulante - como quem vai à feira de Carcavelos comprar cuecas de marca fujão-sensualite, Portugal, a própria Europa e o mundo confrontaram-se com uma visão de merceeiro dessa pobre Europa. Estagnada, sem iniciativa, uma mera gestora dos assuntos correntes - como se de um talho se tratasse - em que o mais importante era "checar" as entradas e saídes de carne... Uma Europa sem risco, sem competitividade, tesa, sem inovação e dominação - tudo alí espelhado pela entrevista de Barroso à tv de balsemão. Negociando os equilíbrios e os Portos de honra - onde antes se afirmava a vontade de dominação; uma Europa bloqueada, sem dispositivos de segurança capaz de fazer o turn-over que a fizesse passar da actual fase de marasmo e estagnação para uma conjuntura de crescimento, de modernização e de desenvolvimento sustentável. Aquele pedaço de nitro arrumado naquele globo incompleto não é mais, afinal, do que uma imagem duma Europa amputada, sem modelo de competição e desenvolvimento, sem plano de contingência (navegando à vista e à bolina), incapaz de domesticar as condições de risco e incerteza amplificadas por esse decisor oculto que é a globalização competitiva - que descontinuou ae agravou ainda mais as condições de vida das pessoas, das empresas, das sociedades e dos Estados nesta poliarquia de trazer por casa.. Governar mal a Europa como quem já governava pessimamente Portugal é um jogo muito perigoso. Posto que quando Barroso governava os 10 milhões de tugas afundou um país no marasmo - donde ele hoje tenta sair lentamente; governar uma Europa com 450 milhões de almas já é um perigo do tamanho mundo. E quando não se responde a esta condição de validade essencial para a governabilidade europeia (e mundial) pode ser-se esmagado a qualquer momento. Até que esse momento de viragem se faça, teremos forçosamente de conviver com esse conceito de Europa-medíocre, povoada de homenzinhos ambiciosos e atomizados, sem projecto, mais parecendo salti-bancos que hoje temos... O mesmo conceito que foi ontem objecto de reportagem televisiva para quem quis ver... Até quando?
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