quarta-feira

"A ambição de quem não tem capacidade é crime". Maquiavel em revisão

Reflexão no dia Santo: o dia dos bolinhos santinhos. Maquiavel foi um Santo. Por isso, esta reflexão é-lhe inteiramente dedicada pelo muito que nos ajudou a ver o que está para lá das cortinas de fumo da política à portuguesa.

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  • Whoever desires to found a state and give it laws, must start with assuming that all men are bad and ever ready to display their vicious nature, whenever they may find occasion for it.”
  • Nas acções dos homens, e sobretudo nas dos príncipes - onde não há tribunal para quem reclamar - , apenas se olha ao fim. Faça então o príncipe por vencer e manter o Estado, os meios serão sempre julgados honrosos, e louvados por todos. Ou seja, os fins justificam os meios - eis a essência do maquiavelismo.

Niccolo Machiavelli

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A reflexão infra carece duma explicação e fundamentação mais cuidada porque, na realidade, não é (só) com Chateubriand que se vai lá, i.é, que se chega a Bruxelas, ainda que pelo pior caminho. Regresso, pois, ao velho mestre, Nicolau Maquiavel e à virtude que teve em acabar com o mito dos bons sentimentos do homem - que é - em inúmeros casos - um verdadeiro animal. Os métodos de Nicolau são conhecidos: a luta pela conquista do poder como realização da ambição dos egoísmos e nada mais. Em contrapartida, e aqui está a grande insuficiência do sistema de pensamento de Maquiavel, quase não se fala na finalidade da política (aqui entendida como Poder), i.é, como um fim em si. Ora, não é. A política não é um fim em si...
Se o princípio é a conquista do Poder, não é já o seu fim. O povo, que é o (novo) soberano, impõe novas condições e, como tal, exige que o Poder seja exercido em função exclusiva do seu bem-estar e dos seus interesses (ou do maior número). É aqui que as máscaras do Poder se afinam e sofisticam para responder a essa nova parada, tanto mais quando se sabe que a sobrevivência dos princípios de Maquiavel em democracia são problemáticos, já que tudo tem que se negociar com todos a todo o momento. Ainda que a política - e aqueles que a servem - sejam considerados uma espécie sacerdócio ao serviço dos outros/comunidade ou o pretexto necessário para realizar os seus projectos pessoais. "Fujão" Barroso - emerge aqui nesta teoria em todo o seu lamentável esplendor. Um dia os historiadores terão de fazer esse balanço dos prejuízos políticos, económicos e morais que tal ambição despudurada infligiu a Portugal. São os lucros cessantes de Portugal nestes primeiros anos da dobra do III milénio.
Ou seja, teremos de avaliar o que deixámos de ganhar com esta variável "Barroso para Bruxelas" - numa violação gritante de todos os preceitos democráticos legalmente estabelecidos e num lamentável desrespeito pelo edifício de valores políticos que estabilizaram a matriz político-ideológica do Ocidente. E mais: não foi só o facto de ele ter partido, em certos aspectos até foi um alívio, foi mais pelo problema que cá deixou. Um problema chamado S. Lopes que hoje encontrou estado-santuário nas antenas da tsf - que assim aproveita para tentar vender mais Pub. Rotundo erro, pois ninguém já compra esse produto fora de validade.
Conseguir o Poder é, portanto, uma apoteose, mas é também um sacrifício sobre todas as outras paixões, e ainda por cima, corre-se o risco do fracasso - que destroi a imagem que o político criou de si mesmo (ex: S. Lopes, durão a prazo..), i.é, das suas capacidades e do seu carácter, e é aqui que entra aquela reflexão-bomba de Chateubriand -: a ambição de quem não tem capacidade é um crime. Dar umas entrevistas em inglês aos canais estrangeiros e pôr aquela ar empertigado de maoista aparentando estadista neoliberal de renome mundial - só não basta. Qualquer analista do poder com uma visão mais fina e uns conceitos mais afinados logo perceberá que se está diante duma representação cénica da política que antes de saltar para o palco do poder bem poderia ser representado no teatro a Barraca ou na Cornucópia, alí ao Campo Grande.
E é esse reconhecimento que o político faz de si que o atinge mortalmente. O que "fujão" pensará de si nos momentos de maior intimidade!? - deve ser angustiante, não deve gostar nada da imagem que o espelho lhe devolve. E este é um problema mais sério em Portugal, na medida em que tem levado os candidatos a dirigentes políticos a mentir descaradamente (mas sofisticamente) ao povo com base em promessas que sabem à partida não vão cumprir. Não apenas pela sistemática pressão da mentira na política, mas sobretudo pelo narcisismo que os persegue e que se traduz num prazer que dura tanto quanto dura a imagem sedutora que exercem nas populações que os contemplam. Quando, ao invés, o espelho se parte e a imagem contemplada passa a ser negativa, emerge o momento do suplício. O suplício chamado "fujão" Barroso - também conhecida pela metáfora do "transmontano de Bruxelas, sem qualquer ofensa para essa bonita região de Trás-os-Montes - embora às vezes eles - os montes - não venham..
Este aspecto - da mentira na política - e da falsa representação tem proliferado demasiado em Portugal, mas não tem sido devidamente acompanhado em termos de teorização política. Fica aqui esta pista seminal de investigação em humaniddes para ulterior desenvolvimento e mostrar ao País um lado negro da praxis do poder em Portugal. Talvez os futuros investigadores do MIT-Portugal peguem nesta linha de investigação que aqui facultamos aos mais criativos e talentosos investigadores do país.
Até porque esta teorização não se destina só a um político, mas à generalidade daqueles que já se viram confrontados com os perigos da acção e fingiram que não viram a sua reputação chamuscada ou a sua imagem denegrida. Em certos casos, mais valia os actores políticos nada terem feito para atingir o poder, não se prestando a ser usados, não ter que se disfarçar sob falsas aparências, ter poupado os outros a acreditar em qualidades que "eles" manifestamente não têm ou qualidades que nunca demonstraram, ou seja, terem chegado a bom porto sem ter dado provas das suas capacidades.
Quem for um bocadinho mais lúcido interrogar-se-á sériamente acerca das razões que levaram (também) Sampaio a Belém durante 10 anos - sem que ele fosse um político de estaleca e tivesse dado provas previamente. Quem já não se lembra como ele ganhou as eleições a Cavaco esgotado - depois de uma década a governar... Assim, seria fácil ganhar e ganhou. E o país, Portugal - o que ganhou nesses 10 anos... senão emoções, lágrimas, afectos e mais afectos.., cortezias e mais cortezias... Mas de alta política Nada!!! Hoje quando tento perscrutar o legado de uma década de sampaio em Belém a única coisa que me ocorre é imaginá-lo todos os dias passeando à roda das árvores do palácio de Belém, olhando para as copas das árvores em busca de ninhos de cuco..., que, afinal, não existem.
A conclusão a que o Macro chega é que grande parte dos políticos em Portugal (presentes e pretéritos) anda muito mascarada e cometeram um terrível erro de vocação. Pois a sua ideia inicial seria ir para o teatro, mas como tomaram a decisão à noite enganaram-se e acabaram na política - para infortúnio de todos nós e atraso geral do País.
Pensem nisto!!!

Image Hosted by ImageShack.us O seu nome é universal, mas infelizmente é mais conhecido pelo adjectivo - maquiavélico - e pelo substantivo - maquiavelismo - também aplicados fora da política, do que pela descoberta das suas leis sociológica sobre o Poder e reconhecido enquanto cientista de valor excepcional. É assim a vida, por vezes a água da fonte é pura, envenenam-na depois aqueles quem a bebem. E se hoje, dia de "bolinhos santinhos" - como se dizia no meu tempo de criança - aqui o recordamos - é, precisamente, para termos a prudência de não se tomar homens bons por maus nem, por outro lado, ter o descuido de os misturar ao contrário - como correntemente se faz. Hoje, quando olhamos para esta Europa de trazer por casa, só se vê homens polítios maus disfarçados de boas vestes, mas quem sabe da poda sabe-o à légua... Como se diz no seu epitáfio que está no seu túmulo e que é sempre bom recordar para não incorrermos nos mesmos erros: nenhum elogio poderia igualar a simples menção deste nome. Talvez não seja por acaso, embora um pouco lamentavelmente, que Maquiavel seja o único escritor cujo nome - adjectivado - define um modo concreto de fazer política e até uma forma de agir na vida social em geral. Será que os actuais dirigentes na Europa sabem disto, ou já estão preocupados em saber como atacar de frente (e de lado, senão mesmo recuar um passo para avançar dois...) para preparar o regresso ao burgo com um cargo de peso e garantir uma boa reforma?!

PS: Não fora um extenso mail que ontem fiz para um "amigo da política (e da análise)" que intelectualmente muito estimamos - à propos da Filosofia - e não nos ocorreria esta reflexão sobre a necessidade de rever o pensamento de Maquiavel em contexto de democracia pluralista e de globalização competitiva. "Se" ele aqui nos lê, pois bem - que isto também lhe seja dedicado do fundo do nosso coração. Ele ilustra o "lado bom" da teorização de Maquiavel.

PS 1: Quanto aos demais leitores do Macroscópio - também leitores especiais - desejamos um Santo Dia - ainda que o passem todo a pecar.