O efeito Emir Kusturica no Prós & Contras: Soares vs JPP
Há pra aí uns blogs afectadinhos porque ou não sabem história ou ainda estão a ressacar com Manuel Alegre mais o seu milhão de votos etéreos, ou são feitos por engenheiros altamente info-tecnologissados (quero dizer, enchoriçados!!!) que se armam em engenheiros sociais e políticos e depois a coisa só pode dar borrada. Dizer que ontem que Pacheco Pereira perdeu o debate com Soares é dizer que o Bill Gates tem a mesma importância que o Joe Berardo, ou que Manel Pinho cumpre as regras de trânsito ou mesmo que Sócrates foi parvo ao ter assinado o pacto da Justiça com o "ganda nóia", ou ainda que o "almôndega" semiótico é o Umberto Eco, ele bem queria, coitado!!! E isto não é, de facto, nenhum elogio a JPP cujas intervenções na blogosfera até já aqui o critiquei de forma estruturada, creio. Talvez até tenho sido mesmo o 1º a fazê-lo. Mas adiante.
- Este não é o momento para nos pormos em bicos de pés porque Portugal está em recessão. O que foi confrangedor foi ver Soares a adulterar a estória (dele, é claro!!!), e digo-o com tristeza pois que mais se poderá dizer de um homem de 85 anos que baralha os factos da história com lérias que leu mal no Le monde, se calhar até no avião?! Nestes casos, é recomendável que fique em casa a ver o Prós & Contras, mas nunca a fazê-los. Factos são factos, daí a crítica aos tais blogs alegretes que ainda têm de voltar a ler a história política do post-guerra, não fora estarem a ler o manual do Windows versão Bil gaitas e depois pensarem que acabaram de ler o Pierre Renouvin ou o Jean Baptiste Duroselle, apenas duas referências básicas para os bloggers de tanga que dizem que Soares ganhou o debate a não sei quem.
- Soares até baralhou a história remetendo-nos para o presidente Harry Truman (1947), disse que a ONU é que enfrentou a Rússia Comunista, a Nato era só para as curvas, depois recorreu às rastericies do costume: interrompia JPP a toda a hora e depois, esclerosado, ainda tinha a lata - diante um milhão e tugas - de dizer que era o JPP que o interrompia a ele, calado que este estava - por compaixão, é claro. Soares além de ser já o ornitorrinco luso é uma personalidade bordeline, algo histriónica, esfusiante, algo esquizóide e com uma perturbação psicótica já acentuada.
- Como? Onde? Soares esteve no Irão há dois onde falou com o então presidente kathami - e falou como se tivesse acabado de regressar do aeroporto para o stúdio de dona Fátinha Ferreira; apresentou um raciocínio ilógico e incoerente, designadamente na enunciação das causas dos terrorismo islâmico atribuindo-o à pobreza e à miséria... Eis o pecado capital das explicações monistas do marxismo mais primário. E não é preciso ser doutorado em ciência política para o perceber, basta perceber que Soares nunca soubera ler nem Marx nem - muito menos - Max Weber - que lhe daria uma visão múltipla das causas que geram determinados processos que, por sua vez, geram outras causas... Soares, aliás, passa pelas lombadas dos livros como Samora Machel passara pelos quadros expostos na Fundação Caloust Gulbenkian quando visitou oficialmente Eanes nos tempos idos... E conta-se, então, quando Samora depositou uma coroa de flores na estátua António José de Almeida - alí ao Técnico - zona muito bem frequentada, aliás, que a depositou ao contrário... Eanes depois corrigiu Samora, e recolocou a corôa de flores devidamente. Com toda a franqueza, e sem querer ser ofensivo para ninguém, foi este o papel que revi ontem em Pacheco sobre Soares: o de o corrigir permanentemente, se bem que de forma cortês e educada. Afinal, também não exageremos, JPP não é nenhum transmontano, estudou, desenvolveu-se, foi lá para fora e hoje até escreve livros sobre o comunismo, foi maoista e hoje está no PSD, embora seja odiado por eles. Enfim, é outra "circunferência do quadrado", como diria o amigo Zeca - que com pena minha já não vejo pela net há uns tempos. Terá emigrado...
- Ora isto, este "efeito Samora" na política à portuguesaa, é o que certas pessoas fazem a certos autores, ao pensamento de gente grande que depois é interpretada por gente intelectualmente mediana, para não dizer outra coisa. E diante isto, o que faz JPP??? Nada.. Anima-se, contenta-se, congratula-se, condói-se..., afinal ele está alí, mano a mano com Soares - o pai-avô da democracia lusa, diante o país insuflando dimensão histórica, prestígio e saber. Mas lá no seu íntimo, JPP, porque é investigador, é culto e leu os principais pensadores, e sabe expôr e argumenta de forma racional e linear, é sólido, goste-se ou não dele, sabe que Soares vale um zero à esquerda no plano das ideias e da discussão pública das ideias.
- É aqui, again, que JPP se revela um cínico (filosóficamente, é claro!!! ...assim o Macroscópio já não tem direito a link..., paciência) e até denuncia uma certa hipocrisia intelectual, senão mesmo de carácter, dado que oculta aquilo que verdadeiramente pensa de Soares. E o que ele pensa verdadeiramente de Soares é que é um básico das ideias, assim como Jorge Coelho - que ainda faz estágio para chegar a básico. Mas são estas as pessoas que integram as várias quadraturas dos media em Portugal. São as pessoas que dona Fátima, o sr. jornalista da tsf que me escapa o nome e conexos - directores de informação - fazem a sua política de convites...
- As causas do terrorismo são de natureza psicológica, resultam duma vontade de expulsar todos os sinais de ocidentalização no Oriente, e isso tem uma dimensão tão cultural quanto política. O problema é que Soares sempre foi um grande trapalhão a enunciar a ideias políticas, e nós já não estamos em Stª Apolónia (na década de 70 - em que se usava calças à boca de sino...e patilhas à PPortas...) ao tempo em que dizer umas bujardas, citar o le monde e dizer que se tem um passado antifascista bastava. Bastava há 30 anos, hoje é curto porque Soares fala para um país cuja população (2 a 5%) sabe mais de história do que ele, o que também não é nada difícil. Ora, todo este caldo cultural, ou melhor esta sopa fria, foi para JPP como, perdoe-se-me a expressão, como "limpar o rabo a meninos", ainda que o menino se encaminhe para "os noventas", e isto tem e deve ser sopesado e respeitado. Portanto, como diria o Alexandre O'Neill - respeitinho que é muito bonito. Aliás, só faltou Soares vociferar nesse sentido, faltou pouco... Mas se ele pisasse o risco alguém teria de o recordar que o stúdio de dona Fátima não era o gabinete de Belém - por onde perpassaram muitos alhos e bugalhos e, já agora, cinzeiros voadores...
- Estes e muitos outros lapsos que agora não cito para não afundar mais o homem dos suspensórios, é revelador duma presença com ideias algo delirantes, com algumas obsessões contra G.W.Bush (que todos sabemos ser um mentecapto, mas foram os EUA que foram bárbaramente atacados), além do seu discurso altamente desorganizado não correspondendo aos enunciados que propunha. Em face disto só poderemos concluir que dona Fátima Campos contribuíu ontem para humilhar Soares - numa espécie 2ª volta das presidenciais - diante o país e também para fazer ressaltar a sua personalidade borderline - dado o trauma que ainda o persegue por ter sido duplamente derrotado nas últimas eleições. Ou seja, depois de ter sido até bastante grosseiro com Cavaco num dos debates, foi M.Alegre quem o humilhou politicamente, e isso Soares jamais perdoará. Se Cavaco nesse tal debate não tivesse fair-play (há quem diga que é já um adestramento pavloviano secular de Maria) chamar-lhe-ia um nome que agora a minha educação me impede de dizer.
- No fim do programa disse para comigo: bolas, com tanta gente disponível, com tanto assessor e licenciado desempregado, Soares foi logo estudar história com jorge Coelho que tem um tributo para com a inteligência e a agilidade vocabular e gramatical como nós todos temos uma fé e uma devoção inabaláveis para com a Madre Teresa de Calcutá.
- No final ainda me interpelei - once again: quantas pessoas acompanhariam hoje Soares??? lembrei-me daqueles mercedes antigos, esse mesmo!!! O tal que também poderia servir para arrumar toda a comitiva presidencial de Garcia Pereira, o que nos remete para outra questão - por efeito de associação... Senão vejamos: Mercedes antigos, Emir Kusturica.., pois claro!!! Foi isso mesmo que que me evocou o discurso desordenado, parcial e obsessivo de Soares ontem no Prós & Contras na suas lides com JPP. Alí diante um weberiano, impavido e sereno, que domina a história, a teoria social e política e está, de longe, muito mais actualizado do que o simples e previsível argumentário do le monde soarista.
- A questão que onte deixámos no Macroscópio mantém-se: pergunte-se à RTP se racionaliza a sua política de convites tendo em vista a recuperação de estrelas ou anjos caídos... Porque, na prática, foi essa a tarefa da inefável dona Fátima.
- E se não foi jorge Coelho que assessorou Soares quem foi, afinal? bin laden é que não foi de certeza. Mas aparte estes pequenos exageros, que servem para nos distrair a alma diante tanta mediocridade intelectual, reflexos da personalidade bordeline do octogenário que ainda não se soube retirar a tempo da vida pública, provavelmente terá de ser empurrado de forma humilhante, regressamos à nossa hipótese de partida: jorge Coelho anda a assessorar Soares há anos!!! - e se ele tiver tanto sucesso nessa tarefa como a atrair adeptos para as teses de Soares a sua aura acaba por ficar tão deserta como o Corno d' África. Por isso dissémos aqui ontem que Soares está a fazer tudo o que está ao seu alcance para se ver expulso da história e de alguma memória (ainda positiva) que o povão guarda dele...
- É ao conjunto destas incongruências e debilidades estruturais que aqui designámos por efeito Kusturica da política à portuguesa.
Post dedicado aos bons jornalistas e ciber-jornalistas que ainda não se deixaram corromper por este caldo de cultura de sopa fria que diáriamente nos aliena.Felizmente que alguns desses jornalistas também já têm belos blogs.
<< Home