Modernização e estabilidade social: risco e segurança, direita e esquerda, volver
Análise e Reflexão Política
Há uns dias a esta parte, talvez motivado pelos editoriais do Jumento que agora até já imagens permite integrar nas caixas de comentários (se o P. Pereira sabe disso..) - tenho vindo a debitar algumas ideias sobre esse quadro de possibilidades. Claro que para o fazer só terei de me concentrar em duas: esquecer as mundanidades hiper-previsíveis de Marcelo e esforçar-me um pouco por equacionar os problemas do meu país à luz das condicionantes do III milénio, isto é, pensar o futuro. Defendemos, nessa equação do futuro, que a estabilidade social é um valor em si, o qual se estrutura em função de dispositivos de segurança e de codificação de direitos e de obrigações para com o Estado - mas que este também tem para com os cidadãos, se quiser ser uma pessoa de bem.
Ora isto, quer à esquerda quer à direita - pressupõe que exista a tal estabilidade nas trajectórias da evolução da sociedade portuguesa - que hoje dificilmente se verifica. Especialmente, porque a globalização competitiva tem interferido sistemáticamente nessa estabilidade social e normalidade económica, seja por via das deslocalizações empresariais, seja humilhando o tecido económico e social português cunhando-o de improdutivo, lento e de baixo perfil tecnológico. É isto que nos diz a globalização predatória diáriamente. Perante isto que dirá a esquerda? E a direita? Pode aqui haver uma clivagem fundamental em períodos em que a mudança e as fases de expansão se estruturam num quadro de relações de incerteza, logo de aceitação do risco. Será este risco que Manuel Monteiro está disposto a correr?!
Será que ele já pensou nisto.. Já que esta é uma clivagem crucial para os que exercem o poder político, pois são esses agentes que têm de articular a tal fórmula alquímica e milagrosa entre a viabilidade e sustentabilidade dos dispositivos e garantias de segurança, por um lado, e os estímulos para a inovação e para a competitividade, por outro lado. Esta combinação é crucial, na medida em que reflecte a possibilidade dessa configuração política, económica e social instável, quando estas duas estruturações - a da segurança (esquerda) e a do risco (direita), i.é, a da estabilidade (esquerda conservadora) e a da mudança (direita liberal, a do Consenso de Washington..), se revelam incompatíveis, no sentido em que os recursos do país que são afectos a um tipo de estruturação penalizarem estratégicamente a outra estruturação. Ou seja, como diria Bismarck no séc. XIX - ou há canhões ou há manteiga... Hoje queremos ambos e, se possível, com o paraíso na terra.
A intenção e o projecto político de equacionar a nova direita em Portugal vingará se ele for capaz de articular bem esta formulação entre segurança e risco, estabilidade e mudança. Uma das dificuldades latentes neste processo é que Portugal - por razões culturais, sociais e tecnológicas, a possibilidade de ficarmos para trás comparativamente a outras sociedades europeias é enorme, já que esses outros espaços sociais conseguem desencadear processos de crescimento rápido beneficiando dos novos equipamentos, da sua incorporação de dispositivos de auto-aprendizagem e até da maior flexibilidade das cadeias de produção na escala global.
Será isto um tema-quadro de discussão para a direita e a esquerda? Pode ser, embora parece mais um tema para sociólogos do desenvolvimento tratarem nos seus manuais. Mas nos livros as ideias morrem, têm de sair cá para fora, para começarem a andar, ganhar vida própria e, se possível, contribuírem para o bem comum de que falava Aristóteles. O ideal era que este ainda estivesse entre nós para coadjuvar nessa discussão. E caso estivesse que nome teria o blog dele: o blog de Aristóteles...
Post dedicado a todos aqueles que, de boa fé, procuram equacionar estas questões de modernização e do desenvolvimento. Discutindo ideias, contribuindo para valorizar o futuro de Portugal e dos portugueses. Se nada fizermos - o país fica entregue a Socas e às análises domingueiras do prof. Marcelo, e isso, teremos de convir que é pouco, manifestamente pouco. Tão pouco que até cheira a Atalaia. Se nada fizermos resta-nos chamar pelo Gregório: ó Gregório))))))))))))))
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