sábado

Longas eternidades, legiões de turistas grisalhos, ociosos momentos...

... Gozando os seus rendimentos, até rima. Isto até teria a sua piada se não fosse dramático, conforme contextualizámos no post infra que aponta para um crescimento alarmante da população idosa na Europa dentro duas, três décadas.

Isto tem vantagens na medida em que todos poderemos ter um bónus de vida e usufruir de mais uns anos, mercê dos avanços da ciência e da medicina que vêm debelando doenças complexas e mortais. Este prolongamento de vida faz com que os homens e mulheres se sintam cada vez mais vigorosos, permitindo-lhes olhar doutro modo para os seus filhos, netos e bisnetos. É como se os velhos usufruíssem, já na 1ª década do III milénio, uma 2ª puberdade, uma nova vitalidade entre a velhice e a senescência - que se situa entre os 60 e os 80...

Daqui resultará também um novo esquema de relacionamento interpessoal, na medida em que os velhos dirão que não são velhos, mas sim homens vigorosos - alguns a toque de Viagra, homens de negócios, charmosos e sedutores - competindo até no mercado sexual com os seus filhos - com metade da idade, e com um à-vontade e savoir-faire que espanta no novo mercado dos afectos.

Daqui emerge um novo quadro de relacionamento: legiões de grisalhos pululando pela Europa, pelas Américas e Ásias - "dando cartas" em todo o lado, metade do Algarve de luxo e de lazer já foi tomado por eles - que do Norte e Centro da Europa - querem (já) vir morrer ao Algarve. Falamos, naturalmente, destes novos reformados com um mui jeitoso poder de compra interessante para qualquer economia local. Ociosos, bem parecidos, vitalizados pelos novos fármacos que lhe permitem três erecções não fingidas por semana, esta neolegião de grisalhos apresenta-se exuberantemente no mercado para gozar verdadeiramente a vida, estourando os seus bons e merecidos rendimentos. Eis a coloração desta nova paleta humana que povoa a paisagem da Idade de ouro emergente com os chamados segundos séniores.

Mas nem tudo são rosas, senhor!!! Sobrevêm os espinhos, pois se para aquela fatia socio-etária a vida reganha novo fôlego, para a sociedade no seu conjunto irrompe não um drama mas uma autêntica tragédia social com efeitos verdadeiramentes imprevisíveis no sistema de segurança social e na própria coesão das sociedades. Isto por uma razão simples e lógica: é que esta nova legião de grisalhos - de avôs e de avós - está prestes a triturar os velhinhos equilíbrios sociais e económicos vigentes ao tempo da "outra senhora" - que já cá não está. E é precisamente esta boa nova - decorrente do aumento da longevidade para alguns (os privilegiados, segurados pelas reformas) - que se irá fazer à custa de toda uma geração de novos trabalhadores (precários) - que terá de lhes suportar as reformas neste comboio intergeracional cujas composições - por levarem dinamite a bordo - ameaçam explodir a qualquer momento. Tememos, contudo, que o efeito retardador já tenha começado...

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Dedicated to Volenski Sudjanski - que ainda não tem 123 anos, mas que já percebeu que a vida são as férias da morte, por isso teremos de viver a fingir que não sabemos que vamos morrer.

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