Senescência: visão do futuro-presente
Quem de nós não passou já por um jardim onde os reformados jogam à sueca e anotam as vitórias e as derrotas em papel-cartão que colhem no lixo? Quem de nós não visitou já um lar de idosos e viu o ponto a quem chegamos depois de termos sido atletas, amantes, intelectuais, homens de negócios, judocas, futebolistas, pedreiros, carpinteiros, engenheiros e até primeiro-ministros? Quem de nós não geriu já a execução dum funeral? Muitos, certamente!! Aliás, costumo dizer que quando chegamos aos "quarentas" somos a geração testemunha da desgraça, pois é o momento em que deixamos de ir tanto para o café, bibliotecas, courts de ténis e vamos mais a funerais, a nova ágora d reencontro. Pelo menos com os vivos, onde também se actualizam as agendas telefónicas, mails e conexos... É a lei da vida, e não há volta a dar-lhe. Vem isto a propósito da senescência que logo à noite se deverá discutir do programa da srª Dona Fátima no Prós & Contras. O próximo deverá ser sobre as vantagens da energia nuclear, uma vez que os media mais influentes do undo inteiro começam a não conseguir escapar à pressão da subida dos preços do crude que faz com que os nossos combustíveis fiquem mais caros. Portanto, é da vida e da morte que aqui falamos. Tudo remete para a energia. E, porventura, morreremos mais depressa com o ouro negro a subir a esta cadência. E tudo isso não deixa de ser fascinante, perplexizante, agonizante para voltar de novo a ser fascinante - quando nasce alguém. É a rotação e o ciclo da vida e da morte. Não deixa de ser assustador quando se faz o tal exercício..., dos jardins do Príncipe Real em que os idosos jogam à sueca. Será que as pessoas que hoje têm 40 ou 50 anos já pensaram nisso? Provavelmente, já!! Mas não quiseram tirar as devidas ilações, dado que um homem com essa idade ainda tem a ilusão da imortalidade. Mas os homens mais prescientes e lúcidos, nutridos com maior capacidade prospectiva, equacionam mais esse futuro, na expectativa de o compreender, de o racionalizar e, porventura, de atenuar algumas das consequências nefastas que decorrem desse mesmo envelhecimento. Ou seja, há quem se preocupe com a senescência e com a bionomia - gestão da vida; e há quem se preocupe mais com uma boa cigarrada, uma pizza, um hamburger e umas batatinhas fritas pála-pála... Não raro, encontramo-nos a pensar: será que eu sou dos tais que também irei jogar à sueca no jardim do Príncipe Real? Mesmo admitindo que não gosto de cartas e prefiro o ténis... Creio que tudo isto é tão fascinante quanto assustador. Tento, pois, rever-me na figura do jogador da sueca mas são outras variáveis que me assaltam o esprit. Até porque a minha geração já foi banhada pelas novas tecnologias e hoje tomamos banho nelas, lavamo-nos nelas, dormimos com elas, fazemos "amor" com elas, as malditas tecnologias. Há quem acabe mal, há quem acabe no tribunal arrependido por as ter utilizado... Porventura, utilizou-as mal. Mas no caso da geração que veio à terra nas décadas de 60 e 70 do séc. XX - creio que se poderá pensar doutro modo quando o sentimento da senescência se coloca sobre a mesa da decisão individual de cada um de nós. E porquê? Simplesmente, porque hoje vivemos num mundo rodeado de chips, miniaturas, próteses, e de muitas, muitas hormonas que pululam por aí a querer prometer-nos o paraíso na terra. Razão por que os velhos do futuro, os idosos da minha geração - que o serão em 2030/40 - serão diferentes: trarão fios introduzidos no cérebro, com a ficha médica under the skine, repletos de elevadores electrónicos invisíveis que nos controlam os valores dos diabetes, do colesterol, dos triglicéridos, a pressão arterial e o mais. Seremos todos uns velhos-máquinas. Seremos diferentes, creio. Na prática, e á luz das percepções que temos hoje, deixaremos de ser meros seres huanos humanos. É nisto que creio. Apesar de podermos manter a nossa capacidade sensitiva, especulativa, olfáctica e o mais, seremos seres modificados. Quem sabe se com as nossas funções metabólicas alteradas por novos fármacos que, entretanto, tiveram de aparecer para fazer face as novas doenças. O pacemaker fará então parte da pré-história, e o enxertos multiplicar-se-ão por todo o organismo, apesar do aspecto cristalino com que iremos ficar. Uma espécie de efeito-lili caneças da nova bionomia. Teremos, talvez, o aspecto de vidros duplos em andamento. Nada depois nos meterá medo ou limitará como hoje limita os idosos: visão, coração, fígado, rins tudo depois será objecto duma regeneração e transformação que nos irá potenciar a longevidade e deixar-nos a pensar na imortalidade. Seremos, portanto, homens tranformados. Tudo se passará num contexto social e cultural diferente, pois aquilo que hoje denominamos por velhice terá, nesse nosso outro futuro, cada vez menos características de velhice. Esse estádio será aperfeiçoado com a física, com bioquímica, com os novos saberes em regime de cross-fertilization, com a revolução do conhecimento, com a reprogramação das nossas milhares de células - que passarão - a envelhcer mais lentamente. Ainda tenho esperança de jogar ténis com o meu tio e batê-lo aos pontos em 2050, comigo já com 90 anos e ele a bufar nos seus 120. Na prática, o que se procura aqui sublinhar é que o nosso sonho não é o de sermos jovens para sempre, mas o de envelhercermos de forma menos drástica de modo a preservar as condições vitais até mais tarde. Esperemos que no meio desta viagem não aparece nenhum médico a dizer, é agora!!! - : - on, of, on, of...
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