domingo

Há páscoas e páscoas. Numa partimos o dente...

... Noutra arranjamos uma dor metafísica sem solução à vista. Nunca fui um estudioso da Bíblia. Mas tenho-a. Dá jeito para inúmeras coisas, tem múltiplas finalidades. Até para aprender a escrever português ou para aprender a aprender, ou, simplesmente para aprender a ser mais tolerante, menos sectário, mais pluralista, menos fanático. Foi isto que vi no outro dia na pessoa do Cardeal Saraiva Martins: um homem sereno, tolerante, mas de mão firme. Vi isso nele, confesso, desejaria também tê-lo visto em J. César das Neves. Disse que o ia comentar e já aqui abundantemente o comentei. Gostaria muito de ter concordado com ele, até pela simpatia que os textos de economia dele me suscitam e qua qui republico na íntegra (como se sabe, e como ele também bem sabe). Bem ou mal, o Jack Nebrasca (num outro artigo que aqui postámos) deu-me uma resposta, e através dela comprendi melhor a posição algo unilateral, monista, para não dizer sectária e beata, do economista de cujos artigos de economia e sociedade gostamos de ler aqui. Ponto.
Enfim, a Bíblia dá jeito. Interpela-me, revela-me a ignorância, confronta-me com as fraquezas, estica-me; outras vezes ajuda-me a perceber a ignorância dos outros mitigada com má fé e maldade; outras ainda desoculta-me zonas cinzenta da política que d' outra forma ficariam para mim sempre escondidas. A Bíblia dá jeito neste jogo de transparências e de obscuridades, nesta dança do conhecimento, de ser ou não ser eis a questão, como diria o Guilherme. É também o livro mais vendido, talvez seguido pelo Das kapital do Carlinhos Marx e de O Princepizinho do Tony Exúpery. E é sempre bom termos em casa o livro mais vendido do mundo. Dá prestígio entre os agnósticos - que se ficam a roer de inveja por não poderem recorrer a nenhum exemplo que possa ombrear com a Bíblia.
A minha estupidez natural, a curiosidade e alguma fome de explicações fazem da B. um calamaço a não perder. Há quem ande sempre com ela no carro, em lugar duma moca. É que a B. também pode matar um homem, embora seja mais útil na conversão. Excepto, claro está, naqueles casos em que o beatério consuma a razão, ofusca o common sense, deslumbra, fragmenta, rouba a autonomia a um homem. E às tantas um tipo que sabe umas coisas de economia atrapalha-se por entre a religião, e às tantas desconhecemos se também não é assim com a economia.
Mas não relativisemos nem baralhemos as coisas: alhos são alhos, e bugalhos são alhos... Aqui o ponto é outro: o Judas Iscariotes e o excelente documentário "científico" que ontem à noite passou na RTP2 - e para o qual fui informado pelo Cão com Pulgas. Ao que chegámos!!! - ser alertado para um assunto de tamanho melindre e importância histórica por um blog chamado "Cão com Pulgas"... O que prova que além de sentimentos os cães também têm fé, razão e muita, muita metafísica. Por isso disse sempre que gostei de cães, mesmo com pulgas, carraças e conexos... Será que os beatos da nossa praça sabem disto?!
Em todo o caso, se eu fosse o autor de blog Cão com Pulgas passaria a chamar-lhe "Judas com problemas"; ou "Judas Iscariote é um tipo porreiro"; "Judas não traíu"; "Judas não adjudicava obras públicas"; "Judas & Cristo S.A" ; "Judas explica-se em directo"; - sei lá, como diria a outra analfabeta, tanta coisa...
Já me perguntaram hoje por mail se isto era tudo por causa de Judas ter sido presidente da Câmara Municipal de Cascais e aí ter cometido actos ilícitos... Julgo que não. O comunismo marxista não remonta tão atrás. E na altura também não existiam tantas obras públicas, tantas adjudicações under the table, or dancing on the table, tanto faz.
Interesso-me por estes assuntos porque tenho fé na razão, e tenho também fé na fé. Além de simpatizar muito com aquele rosto de Jesus Cristo, sempre com a barba e o bigode tão bem aparados. Tudo isso me leva a secundarizar a padralhada, barriguda, anafadinha, inculta, autoritária, amiga do bagaço e da macieira, pedófila, preconceituosa e tantas vezes mal educada. Há excepções..
Contudo, a problemática insistência da hierarquia da Igreja católica em ostracizar Judas Iscariotes deve ser reequacionada. Segundou os ensinamentos da Santa igreja romana, Jesus Cristo é filho de Deus, e estando a sua passagem na Terra delineada pelos desígnios de Deus, foi Este que quis que Judas Iscariotes traísse Jesus. Isto provou-se ontem à noite no programa da RTP2 - perante os testemunhos de experts na matéria. Creio que nenhum era economista.. Nem do soberano Estado do Vaticano..
Consequentemente, uma conclusão impera: Judas não traíu Jesus mas foi conduzido a isso pela força Divina e com a cumplicidade de Jesus Cristo, logo isento de culpa.
Acresce ainda o seguinte: se Jesus Cristo não tivesse falecido naquelas circunstâncias dramáticas, como é que a Igreja Católica iria explicar o vector transcendental inerente ao Cristianismo, ou seja, à Ressurreição de Cristo ao final do 3º dia??? Um transcendente de que se tem alimentado há centúrias e com tremendos proveitos pessoais, institucionais e ganhos de acumulação de Poder e de riqueza ao longo da história, que nem sempre se tem traduzido em tolerância e bondade para os povos sob sua influência religiosa directa (ou indirecta). Veja-se aqui o nosso blog sobre um texto acerca da reacção de uns indígenas sul-americanos - (do Perú fizeram dirigindo-se ao Papa João Paulo II quando este os visitou..., devolveram-lhe a Bíblia com a justificação de que eram eles - o homem branco, o Ocidental - que a srª historiadora Fátima Bonifácio sublimou (e que só disse uma catadupa de asneiras, espero um dia poder conhecê-la para lhe dizer isso mesmo) além duma outra chacina bem lembrada pelo blog Rua da Judiaria.
Também aqui, como em muitos outros aspectos de menos relevância, a Santa Igreja Católica Apostólica e Romana do Estado do Vaticabo - que também é um Estado soberano - com ministros e secretários de Estados, alguns, porventura, bem mais competentes do que os do governo portugês, o pensamento da igreja zigue-zagueia como aquelas cobras do deserto do Saara.
E como em tudo na vida também a Igreja de Roma está povoada de hipocrisia e cinismo, vícios esses patentes em conjecturas tão simples quanto burlescas. Damos aqui dois exemplos comesinhos: a) umas vezes, interessa à Igreja declarar solenemente que Deus tem um tremendo ascendente sobre o homem, i.é, tem poder sobre ele; b) outras vezes, - imputa ao desgraçado do Judas (e aqui a história ainda está sendo reescrita, como se viu ontem no excepcional documentário da RTP2) - cuja teoria parece querer ver nele e no "Seu Evangelho" - um homem bom e não um traidor - declara que este discípulo é portador de tal força capaz até de sobrelevar Deus. Afinal, em que ficamos dona Roma...
São contradições deste tipo que por vezes enfiam a igreja num beco, e estes, como se sabe, "quase" nunca têm saída... O quase é para contemplar as posições extraordinárias daqueles teólogos, hermeneutas ou turbo-economistas que diante do beco rememorizam o que viram no filme Matrix e disparam direito aos céus como um fugetão partindo da base de Los Alamos. E é aí que se dá um milagre. Também conhecido como o Milagre da Verticalidade Abrupta..(MVA)
Mas também há uma lei da física que diz que tudo aquilo que sobe também... Já não me lembro se é a lei da gravidade se a lei da gravidez.
PS: dedicamos este blog ao todos os turbo-economistas que um dia sonharam ser teólogos e terminaram lendo o Adam Smith.
E também dedico este blog a mim mesmo por ter saltado do "prefácio" da Bíblia directamente para o Eclesiastes em que diz que tudo tem o seu tempo debaixo dos céus, até para dizer umas tretas sobre a família, o casamento e misturar tudo isso com a Europa e depois concluir que esta está em crise porque os portugueses e os europeus em geral não f......., vocês sabem!!!
Enfim, há muitos tempos sob os céus:
Tempo para nascer, e tempo para morrer;
tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou;
tempo para matar, e tempo para dar vida;
tempo para destruir, e tempo para edificar;
tempo para chorar, e tempo para rir;
tempo para aflições, e tempo para dançar;
tempo para espalhar pedras, e tempo para as ajuntar;
tempo para dar abraços, e tempo para se afastar deles;
tempo para adquirir, e tempo para perder;
tempo para guardar, e tempo para atirar fora;
tempo para rasgar, e tempo para falar;
tempo para amar, e tempo para odiar;
tempo para a guerra, e tempo para a paz.
  • E agora é tempo d'ir fazer ó-ó porque não ganho a vida nisto
Amén