terça-feira

O absurdo da literatura lusa

Toda as pessoas que têm a bondade de vir ao Macroscópio ler o que por cá se pensa, escreve e diz - já se aperceberam de duas coisas: 1) que este é um espaço de Liberdade; 2) e que, como tal, tende a visar ideias, pessoas, instituições, situações que consideramos ser de grande injustiça perante o mundo e até a sociedade portuguesa. José Zaramago, consabidamente, foi nobilizado mas, na realidade, tratou-se de um erro crasso do júri do Prémio, e dum conjunto de contextos sociopolíticos - que vão da ajudinha que então o sub-secretário de Estado da Cultura lhe deu ao vetar o seu livro, ao marketing pujante da editora, à promoção do PCP que ao tempo também deu uma forcinha e mais uns etc... De tudo resultou um autor mediano nos temas, na densidade filosófica, na forma e na qualidade global da literatura que produz (com baixa reflexividade). Não obstante isto, o senhor passou por génio. Com a agravante de tratar temas-quadro no III milénio que as correntes literárias e outros autores já desenvolveram hà 20/30 anos na Europa com mais sucesso, originalidade e melhor estilo. Por outro lado, quando as autoridades da Cultura deste país procuram fomentar a leitura e recorrem a Zaramago para promover algo que vá para além dos seus próprios direitos de autor, o homem só se sai com declarações do tempo da pedra lascada de "bexigas" e doutras fatalidades verdadeiramente lamentáveis, para não dizer execráveis. É lamentável, mas é a mais pura verdade. Um grande escritor, ao invés do que muitos comentaristas dizem, tem também o dever de ser um exemplo ético, estético e cultural. As coisas não são estanques, nem isoladas umas das outras. Ora zaramago não consegue preencher nenhum desses standards mínimos, e no caso do regime cubano, que não passa duma ditadura empedernida, era suposto que o nobel luso fizesse uns comentários democráticos, nem que fosse para lançar umas farpas aos "yanquis imperialistas da América do Norte" cuja política externa só tem contribuído para o reforço daquela ditadura funesta que ainda mata e manda matar pessoas por delito de opinião, reflexo, aliás, da personalidade histriónica e altamente perturbada de Fidel Castro, amigo do escritor, diga-se de passagem. Em face destes factos, apetece dizer que J. Zaramago não passa dum filho adoptivo de Granada, cá ao burgo só vem para acertar contas com a editora e fazer umas compras no Chiado e produzir umas declarações aberrantes que espanta qualquer pessoa que esteja em vias de se iniciar em leituras mais recomendáveis. Mas parece que o escritor declinou essa oferta de Granada, e nós, como alternativa, sugerimos aqui ao dito que se diriga a Pyongyang, a Teerão, a Bagdad ou mesmo - pasme-se!!! a Havana - tudo "locais recomendáveis" para o autor aí ver reconhecida essa adopção. Porque as novas gerações portuguesas além de desconhecerem quem é o dito escritor, depois de conhecerem as suas tomadas de posição e alguma trajectória de vida duvido que se inclinassem sequer a tocar numa das lombadas dos seus mui medianos livros. E há tempos até fui ao velhinho Pavilhão da Fil assistir ao lançamento de um dos seus livros, em que estava presente Mário Soares e Marcelo R. de Sousa, sendo que a análise deste ao livro foi tão, mas tão estranha que, no final, Zaramago pergunta a Marcelo: - se era um homem estruturalmente de esquerda. Este corou depois de ter percebido as asneiras que disse, ainda que inconscientemente. Mas o que quero sublinhar nessa ocasião é que, efectivamente, o Pavilhão da Fil estava quase repleto, mas mais de 90% das pessoas deviam ter uma média de idade na casa dos 70 anos. Nesse dia senti-me mal, e se fora para ouvir Marcelo, depois de ouvir este pior fiquei... Quem lá foi sabe do que falo. E quem souber do que falo terá também razões para lamentar esta feira de vaidades, este tráfico de influências que se movimentam também a este nível. E isto, meus senhores, é mais uma imagem podre do Portugal cultural que temos: um Portugal que cheira mal. Como democrata que sou e amante da Liberdade achei que tinha a obrigação e o dever moral de denunciar esta modalidade de corrupção das almas que ainda graça em Portugal. Sei que muitas pessoas pensam como eu, mas como muitos também são uns cobardolas e uns envergonhados, ficam-se apenas pelas conversinhas de corredor a lamentar o lamentável... Este post também é dedicado a essas "lesmas" da democracia (mole e hipócrita) fabricada por Abril.