terça-feira

Será a blogosfera "filha" do 11 de Setembro?!

Como já aqui referimos foi em 2002/03 que tomei um contacto mais directo e imediato com essa realidade hiper-real que é a blogosfera. Até lá pensava que ter um blog era assunto de engenheiros sofisticados que sabiam manipular software e fórmulas matemáticas complexas que estariam fora do meu alcance mental. Afinal, tratava-se duma tecnologia simples mas, ao mesmo tempo, sofisticada, de uso fácil, barata, veloz e extensiva a todos. Regresso ao assunto daquilo que poderei qualificar como teoria sociológica da blogosfera, já que o mundo continua a não prestar, os factos que ele gera também não e o que se vai passando em Portugal também não é digno de grandes metafísicas ou reflexões que convidem à originalidade. Além disso o termo de Agosto resolveu mostrar que ainda tem a erecção temperamental doutros tempos. Mas as origens da blogosfera são um tema que me interpela recorrentemente, tanto mais que me comecei a interessar por ela tendo como referência esse marco dramático do mundo contemporâneo que foi um dos actos terroristas mais bárbaros da história da humanidade: o 11 de Setembro em N.Y. - a que se seguiram outros actos terroristas, dos quais evoco o de 11 de Março em Madrid que matou cerca de 200 pessoas. Mas o que tudo isto tem a ver com a blogosfera ou sequer com o jornalismo tradicional? À partida nada, pensando melhor - tem tudo a ver. Senão vejamos: foi com a concretização bárbara desses actos terroristas que começou a despontar na sociedade civil mundial uma certa consciência planetária de ver e analisar os problemas, de os encrarar de frente, de os desmontar, de os surpreender, pois é nisto que a ciência - através de conceitos poderosos e prospectivos - consegue surpreender (e planear) a realidade. Logo, uma sociedade que não produz conceitos é sempre apanhada desprevenida e cai sobre si própria. Ora foi nesse caldo de cultura, saído do 11 de Setembro, em que tudo fervilhava, até as novas tecnologias da informação e da comunicação (TIC) - que emergiu o tal jornalismo de fronteira, i.é, o jornalismo altruísta, solidarista, de pendor eminentemente humanitário e cívico. Se bem que quando esta transformação ocorreu a Rede já era um lugar de alta confluência - para onde tudo e todos corriam a todo o tempo, desde as informações autobiográficas e superficiais sem interesse público ao "pesado" da informação pública gerado pelas empresas ou agências noticiosas que operam no sector. Tudo, doravante, se misturava. De modo que entre os velhinhos que já lá estavam a operar e os novos players que entretanto acederam ao ciber-espaço para trocar informações e conhecimento - instalou-se uma certa confusão, uma certa destruição criativa, como diria o grande economista austríaco Joseph Shumpeter - que Peter Drucker ainda chegou a conhecer. Mas dessa confusão parecia não resultar uma direcção precisa sobre o que fazer, sobre o modo mais eficiente a dar às tecnologias disponíveis e ao saber instalado. Foi, pois, ante essa incerteza estratégica que teve lugar esse acto bárbaro na história do terrorismo mundial e as Torres do WTC vieram ao chão com milhares de mortos por entre escombros, suicídios e muitas-muitas outras (e indizíveis) tragédias. Parece até, à luz do que se disse, que foi esta barbaridade que operou nas nossas mentes a função de catalizador que faltava. Talvez seja um pouco exagerada esta análise, mas se eu na altura já tivesse um blog qual seria a minha reacção senão tentar compreender o que levara aqueles bárbaros a fazer o que fizeram!!?? Tentaria explicá-lo, mas também os responsabilizaria, mais aos seus mentores. Esses "cabecilhas" não acreditam nas 12 virgens que estão no céu à aguardar os mártires, esses são os mentores, são a cabeça da hidra que a blogosfera também ajudou a combater - publicando fotos, narrativas, trajectos, métodos de actuação e financiamento, enfim, um sem número de aspectos e de pormenores que - directa ou indirectamente - têm ajudado as autoridades a prevenir esse tipo de crimes tão hediondos quanto cobardes como ajudar a prender e a desmantelar essa corja de parasitas (invisíveis) que ainda vive à face da terra. É nesse sentido que julgo, em parte, podermos afirmar que a blogosfera (também) é uma "filha" do 11 de Setembro, e este mais não é do que uma dedicatória sentida a todos os que perderam a vida nessa barbárie animada por votos de esperança aos seus familiares e amigos que por cá ficaram, testemunhando o resto. Um resto que hoje pode também ser combatido pela blogosfera. Em nome de quÊ, afinal? senão da Liberdade e da Segurança - ou do balance entre esses dois conceitos e valores tão importantes no 1º quartel do III milénio.