Blogosfera vs mediasfera
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Quando compulso as relações entre a blogosfera e a mediasfera constato que as mudanças ocorrem mais no quadro das relações, e não tanto através dos conteúdos; opinião, excepcionais editoriais, informação de actualidade doméstica e internacional, conteúdos temáticos diversos - tudo isso é comum a ambos os media, com a vantagem de a blogosfera ser "n" vezes mais veloz na recolha, tratamento e análise desses produtos culturais. Isto pode levar-nos a concluir que os dois sistemas não estão, como à priori se supõe, em concorrência, nem têm necessáriamente de viver em contraposição, como quer o mau jornalismo e a má blogosfera. Quero dizer que ambos são (ou podem ser) mais complementares do que antagónicos, desta feita trata-se de dois sistemas diversos da galáxia dos media - hoje fortemente ligados por regras escritas (e não escritas), cuja quebra leva à falta de atenção e de reputação entre esses delicados equilíbrios. Então, creio que devemos ver a actividade de blogging como um fenómeno em franca expansão que pode ajudar mais o jornalismo do que ameaçá-lo ou enfraquecê-lo. Com excepção daqueles velhos jornalistas de poltrona e redactores que não se adaptaram e ainda hoje procuram a "@" na vitrina da sala de jantar. Mas com excepção desses creio que a solução reside mais em identificar formas e pontes de cooperação do que engendrar trilhos e esquemas de competição desenfreada deitando tudo a perder. Sendo que em ambos os casos seria desejável que se observassem regras claras de deontologia profissional ou regras de conduta a fim de civilizar e potenciar as regras do jogo. Depois não podemos esquecer-nos que há já inúmeros jornalistas que são simultaneamente e
ficientes bloggers; e também há talentosos bloggers que se tornaram bons jornalistas. Tudo isto povoa silenciosamente a história cruzada da Internet e introduz mudanças de mentalidade e na forma de pensar, agir e organizar o trabalho, a produção e o lazer em milhões de pessoas. Mas a mediasfera tem de perceber uma coisa: o velho monopólio de que usufruía - em públicos ou capital de atenção e de reputação, meios, e logística - toda essa "marmelada" acabou, ruíu, kaput. E acabou porque no mercado global - sem fronteiras nem gavetas estanques - passaram a operar cérebros superiormente inteligentes, pessoas técnica e culturalmente melhor preparadas e dotadas duma imaginação e criatividade incomensuravelmente superior ao velho e previsível jornalismo de poltrona. Em suma: quem agrega, quem federa, quem mobiliza as vontades (subterrâneamente) dos milhões de pessoas que querem ser ouvidas, consideradas e respeitadas não é, certamente, a mediasfera - que tem só ouvidos para as estrelas mediáticas tipo P.Pereira (cujo sucesso pessoal, curiosamente, também se nutre e engorda da própria blogosfera), mas sim a blogosfera. Por todas estas razões, e pelo futuro que ainda está em emergência e vai em suporte da blogosfera, acho que quem tem mais a perder se não souber cooperar é o velhinho jornalismo que procura a "@" na vitrina da sala de jantar e não a galáxia virtual de que a blogosfera é a ferramenta mais madura e perfeita do Rizoma. Até porque os bloggers fazem o que fazem de forma completamente gratuita, por amor à camisola, ao invés dos jornalistas que vivem disso para comer. Até aqui a mediasfera está em desvantagem, na medida em que a blogosfera - alguma dela, evidentemente, oferece um capital intelectual, de esperança e de altruísmo que moralmente a superioriza relativamente a qualquer outro meio ou forma de comunicação jamais concebido na história da comunicação do mundo. Isto não é teorização projectiva, não é blá-blá-blá para integrar prefácios de livros de comunicação social, passa-se aqui e agora, nas cidades e aldeias do Portugal-profundo: do Minh
o a Timor, com excepção do continente africano
onde as ditaduras, os nepotismos e a corrupção generalizada têm impedido a cobertura de redes de telecomunicações e de digitalização daquela parte do mundo, privando-a deste bem que falamos: o cristal espelhado pelo diamante da blogosfera. Até aqui fazemos história. Até aqui a história é feita pelas dinâmicas da blogosfera, ainda que silenciosamente...
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- Rui Paula de Matos
- Este post é dedicado a todos os bloggers de qualidade que conheço e àqueles que estão agora em gestação e irão fazer a história da história do futuro próximo.
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