domingo

"Virtudes" banco-burocráticas luso-angolanas

  • Nota prévia: este post esteve para se intitular - O céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim - por homenagem a Kant.
  • Mas como era imperioso falar de alta corrupção em Angola - a todos os níveis - permitida pela Comunidade internacional - de que a República Portuguesa também é cúmplice por causa dos negócios e negociatas - e por muitos restolhos ex-salazaristas que têm responsabilidades históricas com as chamadas ex-colónias - ainda hoje vivos mas sem coragem e carácter para denunciar tais práticas - entendemos por bem não chamuscar Kant nem conspurcar os ideais da Filosofia. Razão por que mantivémos o título inicial - Virtudes banco-burocráticas luso-angolanas.

Ainda se diz que o marketing institucional do PM Sócrates tem falhas, Vejamos:

A Acege, Associação Cristã de Empresários e Gestores - desenvolveu um Código de Ética dos Empresários e Gestores que conta já com mais de duas centenas de subscritores. Entre os quais está, por exemplo, Paulo Teixeira Pinto, Presidente do Millennium BCP, que integra, juntamente com outros empresários, gestores e especuladores, a comitiva da visita oficial do PM a Angola. Ora, dois desses artigos dos respectivos estatutos dizem o que se pode ler infra. Articulado que até Sócrates aplaudirá entusiásticamente, já que favorece a ética e as boas práticas empresariais - sobretudo entre países que falam a mesma língua, embora nem sempre a mesma linguagem.

Vejam-se os Arts. 2º e 3º dos Estatutos da Acege: Artigo 2 A Associação tem por fins: a) Aprofundar, difundir e aplicar na prática a doutrina da Igreja Católica relativa à vida empresarial e às instituições empenhadas em promover a paz social e o desenvolvimento; b) Aprofundar e difundir os conhecimento dos princípios da ética económica e empresarial; c) Promover e apoiar iniciativas de solidariedade e de diálogo com os trabalhadores, empresas, associações ou movimentos empenhados em objectivos de bem comum, de paz social e de progresso. Artigo 3 Para alcançar os seus fins, a Associação: a) Promoverá acções informativas e formativas, tais como: reuniões, colóquios, conferências, jornadas de estudo, congressos, tempos de confraternização e de vida espiritual; b) Empenhar-se-á em publicar textos que facilitem o conhecimento da doutrina social da Igreja e suas implicações práticas, bem como dos estudos e dos casos com interesse para a ética empresarial. Confesso que não foi, de todo, o que vi - na letra e no espírito, das intervenções de Sócrates em Angola. Falou de Confiança.... Mas confiança em quê??? Por f.v. Sr. PM - nós aqui em Portugal ainda não somos todos analfabrutos, embora por vezes nos queiram fazer passar por tal. Portugal, que eu saiba, ainda não é o Corno d' África. Porventura, Sócrates disse o que tinha de dizer só para garantir contratos, investimentos, negócios, enfim, lucros. Mas será que disse ao ditador-mor em privado aquilo que se impunha dizer em público?? Não sabemos. Todavia, manda a ética que Sócrates, ainda que diplomáticamente, pressionasse um dos maiores corruptos do continente africano, por acaso também umas das 50 maiores fortunas do mundo. Ora, é aqui que a "bota não bate com a perdigota": por um lado, pautamos a nossa vida pela defesa e promoção de certos valores, guiados por uma certa ética na vida pública e privada; e por outro - apenas por que não temos coragem (de Estado) para denunciar crimes de Estado publicamente, acabamos por ser cumplices das piores práticas de má governação, corrupção, nepotismo generalizado por todo o governo e administração e fomentadores, ainda que indirectamente, duma teia de cumplicidades que fazem de Angola um país rico e promissor só para uma minoria de 2% da população. Que são precisamente aqueles que se (auto)governam e enriquecem enquanto as crianças, os jovens, os adultos e os idosos - o conjunto da sociedade - vivem na maior das misérias. Nem água potável têm, aqueles desgraçados... Os que eles têm, e Sócrates viu, são moscas na testa e a barriga inchada (mas não é de comida), já para não falar dos extropiados de guerra e das montanhas de proteses que se passeiam por aquelas ruas, perdão, caminho de cabras. É com esta memória que temos de conviver, a coberto dumas negociatas de bancos, refrigerantes e outras bebidas, que reflecte bem o padrão do nosso estádio de desenvolvimento económico quando negociamos com o exterior. Aliás, a crónica deste sábado do Francisco Sarsfield Cabral (que aqui linkámos), chama-nos a atenção para esse medíocre padrão de desenvolvimento em que ainda parece estarmos apostados. Não teria sido mais ético, ainda que dito com mão diplomática a fim de não comprometer nenhum negócio ou negociata, que Sócrates tivesse feito uma menção à necessidade da promoção dos direitos humanos e à instauração de um sistema genuinamente democrático e pluralista em Angola? Penso que sim. Ainda que pense também que é sempre muito delicado saber como nos vamos comportar quando (decidimos) aceitar um convite para ir jantar a casa de uma família de corruptos dirigida pelo corrupto-mor que nem sequer se veste à africana... Aqui os imponderáveis são grandes, as incertzas múltiplas, pois até se podia dar o caso das declarações das autoridades portuguesas desagradarem sobremaneira aos ouvidos das autoridades angolanas e acabar tudo na cadeia. É, aliás, assim que as coisas se resolvem em regimes não democráticos.

Para termos a certeza de que as coisas em Angola ainda não distam muito das barbaridades que se cometem em Cuba (onde Fidel mata e manda matar por mero delito de opinião), cujo regime político é em tudo semelhante (são as heranças comuns moscovitas das décadas de 70, 80 e 90 - foi muito tempo...), bastaria pensarmos o seguinte: imagine-se que queria publicar este blog em Angola..., e aguarde 12 horas pela chegada - não do leiteiro, nem do ardina mas pelo "enjaulamento" imediato de que o seu autor seria alvo. Quem não se lembra do batón do regime, nome da peça dum artigo escrito por um jornalista angolano que denunciou actos de corrupção e que foi preso, perseguido e depois pirou-se para Portugal, onde arranjou guarida na Fundação Mário Soares. E ainda dizem que a Fodação M. Soares não presta serviço púbico.. É preciso ter "lata", muita lata. Qualquer dia, dizem, transforma-se num Centro de Asilo para imigrantes brasileiros, cabo-verdianos, são-tomenses e até portugueses retornados compulsivamente do Conadá.

Last question: alguém, porventura, ouviu falar em:

1) Melhoria das condições de vida dos angolanos?

2) Melhorar os seus níveis de educação, acesso à cultura e aos alimentos básicos?

3) Atenuar as consequências dos desastres naturais e das agruras da guerra?

4) Da promoção dos direitos humanos e liberdades civis, políticas, sociais e culturais?

5) Protecção do ambiente?

6) E, já agora, por ser tão básico, e porque ninguém desejaria andar numa rua de Lisboa, porventura à saída do Conselho de Ministros alí na Gomes Teixeira ou à entrada para o Hemiciclo em S. Bento, e pisar uma bomba oculta e ir desta para melhor.... Então, por que razão o nosso zeloso PM - Sócrates (sempre mui corajoso intra-muros...) - que terá de ouvir das boas quando for prestar contas ao Parlamento por tantas e tamanhas cumplicidades com um regime corrupto e doente que vive da parasitagem do ouro negro e dos diamantes, não chamou a atenção - em nome de Portugal - para a necessidade urgente de se eliminarem todas as minas anti-pessoais semeadas em território angolano ao tempo da guerra civil??? - que durou 30 anos - e, por este andar, irá demorar uma eternidade até se conhecerem níveis de desenvolvimento e padrões éticos aceitáveis. Tudo isto se passa no séc. XXI, que é o mais incrível...

  • PS: Como diria o outro, dê-se disto conhecimento às soit-disant "elites" angolanas que rolam diplomáticamente por Portugal sobre rodas de diamantes enquanto crianças choram esfomeadas nas favelas locais e os velhos jazem nas valetas como cães atropelados e abandonados. Eis a paisagem humana que compõe o actual quadro angolano - que coabita com o estilo Armani de Zé Dú...
  • Não deveria isto ser codificado como crime contra a Humanidade? Onde estão os restolhos da fudações lusas e chinocas que teorizam o direito internacional público post-moderno? Os mesmos que falam dos pobres, do conceito de África útil, da autencidade, da imagem do poder, do papa, do vigarista e do falsário Pierre Teilhard de Chardin, e doutros crimes de que esses restolhos, sabujos e ex-ministros salazarentos, que ainda passeiam a surdez pelas ruas de Lisboa e do país, onde estão eles???? Nos gabinetes das ditas fundações, claro está...
  • Em nome da verdade, os velhos-novos salazares, que também participaram desta refrega da história, e hoje assobiam ao cochixo, preferem estar a governar a sua vidinha recebendo 3.000 cts mês numa qualquer fundação com muito salitre - como curadores, administradores, pintores e estucadores - não se sabe bem de quê - do que levantar a sua vox - sábia, papal e autorizada para promover os direitos e os bens básicos daquelas crianças e daqueles idosos que morrem que nem tordos na Angola do séc. XXI. Será que é mais gratificante fazer uns artigos na visão e lavar as mãos como Pilatos? Julgo que não...
  • É para esses restolhos das fundações que este artigo vai. Esses hipócritas do regime, que são de todos os regimes, - apesar de se dizerem democratas se amanhã a história sofresse um retrocesso civilizacional seriam os primeiros a dizer que jamais teriam abandonado a Mocidade portuguesa. Mas como esses ditos restolhos não se modernizaram e nem sabem sequer o que é a arroba dum teclado de PC, pede-se aos discípulos e persigangas do costume (vulgo lacaios e mensageiros da desgraça, qual Hermés...) que se lhes faça chegar esta informação ao tampo da secretária luso-tropical. Com todas as letras e de peito aberto. E ainda têm direito de réplica... E de tréplica deste lado, já que os noveis catedráticos, que são hoje os novos senhores dos corredores eclesiástico-universitários não se aguentam à jarda e se ficam apenas pelas meias palavras, meias-tintas, meias-peúgas...