A origem do mundo & Deus S.A.
Há dias colocámos aqui uma pequena reflexão sobre o que seria o mundo fora das nossas percepções. Ou como diria alguém, talvez o L.W. - será que a vaca deixa de existir depois de lhe virarmos as costas? É claro que o sentido da formulação era reflexivo, meta-físico: além da nossa imperfeição enviezamos sempre as coisas que compõe o mundo exterior que procuramos captar e compreender. Qualquer lente distorce, mormente a dos nossos olhos... A ideia foi utilizar o termo Enviezamento (E) não no seu sentido corrente e vulgar mas na sua acepção sociológica e até filosófica. Ou seja, ocorre um E. sempre que projectamos os nossos juízos, os valores, projecções, nóias e paranóias entre outras expectativas mais ou menos caóticas dos observadores nesse processo de captura da verdade - que é sempre uma convenção marcada no tempo. As verdades são erros a aguardar vez, como dizia o Vergílio Ferreira alí na Av. de Roma quando estava bem-disposto. Provavelmente sacou a fórmula d'alguém ou então inventou-a mesmo, foi feliz.
Assim, o E. intervém nas relações interpessoais, organizacionais e em cada decisão, acto ou processo lá depositamos uma cota de E. Portanto, o E. afecta o próprio curso dos acontecimentos: o mercado de acções é disso exemplo, o jogo de expectavias do up & down das acções ilustra o carrossel do valor do dinheiro. Logo, o E. não é uma variável passiva, ele afecta sobremaneira o curso dos acontecimentos que supostamente espelha.
Se refinarmos o dispositivo do E. verificaremos o seguinte: afinal, é sempre do futuro que se trata. Saber como antecipá-lo. Numa palavra: comprar futuro. Importa saber como certa pessoa irá reagir; se a economia irá fazer o take-of e crescer; se o mercado de acções vai intensificar-se e por aí fora... Até esbarrarmos com D... A ideia foi dizer que o futuro não se encontra à venda em pó numa drogaria do Bairro Alto nem em pó sob a forma de Coca. A questão do futuro, quando se coloca à decisão (individual ou colectiva, privada ou institucional) é sempre influenciada pela previsão que o precedeu. Logo, o futuro vai beber ao presente - que também já não o é.
Um exemplo cristalino que ilustra esta asserção radica no seguinte: essa reflexividade - interferida pelo tal E. - revelou-se na recente explosão das acções das empresas da Internet (as dot-com(s), especialmente pela popularidade dos negócios na WWW, daí que a popularidade da Internet e as acções das suas empresas se reforçassem mutuamente numa simbiose perfeita. Foi o que sucedeu e o valor desses títulos disparou e muita gente enriqueceu.
Mas esta pequena formulação não está livre de perigos, é aí que voltamos ao lugar donde partimos: todos nós, consciente ou inconscientemente, utilizamos o E. na avaliação das pessoas, das instituições, do mundo. É impossível não trabalhar com um Enviezamento - essa tal projecção, esse juízo que fazemos do "outro" ou das circunstâncias que procuramos capturar. Por vezes, porque somos trapalhões, misturamos tudo e tropeçamos na nossa própria soberba e arrogância ou até ingratidão. O velho Sócrates sabia do que falava ao dizer que a melhor forma de demonstrarmos o nosso conhecimento, se é que temos algum, é recorrermos à própria fórmula - Eu só sei que nada sei.
Eu - nem isso sei...
Mas o ponto de partida é este: jamais poderemos quantificar o conceito de Enviesamento - essa lente atrofiadora que nos permite apreender algo, porque, precisamente, desconhecemos como seria o mundo livre desses enviesamentos. Que são, afinal, lentes deformadoras (e formadoras) da nossa realidade(sinha)... Apesar de nos ser impossível viver sem um... Nem que seja para percebermos tudo ao contrário. Mas é essa alquimia permanente que nos aguça o sentido crítico para irmos mais além, nem que seja para fixarmos a ideia que não há uma realidade independente do pensamento dos observadores - que somos todos nós.
- Dissolvida esta questão emigramos agora para uma outra que lhe é conexa. No fundo, isto redunda numa questão-maior: Quem me criou? - se dissermos que foi o nosso paisinho através duma queca à nossa mãesinha é curto.. Porque imediatamente essa questão levaria a outra: Quem criou Deus? E aqui ficamos pendurados... as usualy.
É esta frase tão simples que está na origem de tudo, até dos miseráveis enviesamentos que temos quando vamos para a cama e tropeçamos num montão de problemas para os quais só temos mais perguntas ainda... Respostas é só com o PM, Sócrates.
Aí, na "cama" com Deus, caímos no tal argumento da Causa Primeira de tudo isto, até da razão de eu estar aqui a teclar, blogando e a recordar as matérias que dava na escola na esfera da Filosofia e da velha "abelha Maia" - que era a alcunha da professora que dava a cadeira no velhinho liceu dos Anjos que hoje é um posto para legalização de imigrantes, ali mesmo ao lado da Sopa dos Pobres sob o olhar atento da Igreja dos Anjos. E eu que gostava tanta da Sofia e também da Filó (que dá Filó-Sofia). Duas amigas do peito do lado esquerdo que jamais esquecerei (a razão e a emoção). Depois, só mais tarde, veio a reflexão. Mas adiante.
Então se tudo deve ter uma Causa - também Deus a dever possuir - ainda que a desconheçamos; e se algo existe sem causa tanto pode ser o mundo como Deus, daí a razão da inutilidade deste argumento. Basta lembrar aquela velha história do indiano que declarava que o mundo estava assente num elefante e o paquiderme sobre uma tartaruga e esta sobre um cágado que, por sua vez, estava assente sobre um rato.
E quando se pergunta - : Então e o rato está sobre quê? - é aí que o indiano responde : E se mudássemos de assunto.
- Tudo para dizer que o argumento do Enviesamento e o da Causa Primeira não tem mais valor do que este: obrigar-nos a discorrer. No fundo, a ideia de que as coisas devem ter um começo é uma verdade decorrente da pobreza da nossa imaginação. Nem sequer haverá razão para que o mundo não tenha nascido sem causa, como muitos que andam por aí, (filhos de preservativos furados ou da pura maldde de amigos)... Ou que não tenha existido sempre. Não o sabemos.
Desta feita, não me parece - na boa companhia de Russel - a quem dedicamos este texto - necessário ocupar mais tempo com Deus nem com os enviesamentos que jamais nos permitirão conhecê-lO. Ou será que...
- Nota: agradecemos ao blog sapatos pretos e à sua autora os comentários, qui ça exagerados, que fez ao autor deste blog e destas linhas mal cozinhas, porventura também já enviesadas. Ou será que é o mundo que é turvo... Hipótese que nem Russel equacionou. De facto, da ignorância nascem grandes ideias - que de tão grandes - depois não encontram sítio onde caber.
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