quinta-feira

A minuta

"O corporativismo em algumas universidades portuguesas é tanto mais condenável quando esperamos que elas sejam pólos de excelência e exemplos a seguir. A endogamia, no contexto do ‘job market’ universitário, consiste na contratação preferencial de indivíduos da mesma instituição. Do ponto de vista da racionalidade, a endogamia é perfeitamente entendível: trata-se de uma forma de protecção mútua entre agentes que estabelecem, de forma não necessariamente explícita, um contrato de protecção mútua. Num país de cidadãos avessos ao risco, o comportamento não surpreende. Mas se a endogamia é racionalmente entendível, ela não é, obviamente, aceitável. Uma universidade que pretenda fazer investigação e oferecer ensino de qualidade, não pode fechar-se ao exterior nem ter um corpo docente receoso de competição. O corporativismo que existe em algumas universidades portuguesas é tanto mais condenável quando esperamos que elas sejam pólos de excelência e exemplos a seguir.Um caso caricato chegou-me há dias ao conhecimento. Rezava assim: um cientista português, radicado no estrangeiro, respondera a um concurso duma universidade portuguesa, publicitado na internet. A sua candidatura fora desqualificada, informava a Reitoria da instituição em causa, por não incluir “a minuta de candidatura”. A dita “minuta”, que não era referida no anúncio nem estava acessível ‘online’, não passava de um formulário no qual se requeriam o nome próprio, a filiação e a referência do concurso. Só a informação relativa à filiação não era deduzível da restante candidatura. Conclusões? Duas. Uma geral e uma particular. A primeira: é nos pequenos detalhes que muitas vezes se percebem as grandes diferenças. Este tipo de requerimentos, essencialmente burocráticos, mesquinhos e alimentadores da mediocridade, não se coadunam com uma cultura meritocrática. Erguer este tipo de “muralhas”, de forma kafkianamente engenhosa, para proteger os habitantes do “castelo” não é prática admissível numa instituição onde a busca de conhecimento seja o móbil maior. A segunda: só com uma invejável dose de ingenuidade conseguiremos não suspeitar que a instituição em causa, a Universidade de Lisboa, tenha encorajado, ao mais alto nível, a contratação preferencial de pessoas da casa.Confesso-me particularmente à vontade para expor este caso por não ter qualquer relação pessoal ou profissional com o visado (o biólogo Miguel Araújo). Cumprindo, ‘en passant’, a máxima de que a justiça deve ser cega. Não fora a seriedade da questão, mais a autonomia universitária, e o título do texto poderia ter sido “A 334ª” - a medida “essencial” e “emblemática” que faltaria à desburocratização do país. Como assim não é, opto por citar o visado nesta história: “Não há planos tecnológicos, estratégias de Lisboa ou protocolos com o MIT que resistam a uma burocracia cuidadosamente arquitectada para defender os interesses da mediocridade instalada. Assim, não vamos lá.” Pois é".
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  • Infra seguiu o meu comentário ao artigo oportuno de denúncia do Tiago Mendes escrito no Diário Económico.
  • Deixei este comment na caixa dos comentários do DE que se reserva a publicá-lo ou não, como se diz nas regras editoriais do jornal. Em todo o caso, damos aqui à estampa esta "maravilha" dos nossos tempos. Uma maravilha que revela uma coisa: a natureza humana não muda, excepto nos meios, nas modalidades e nas tecnologias de que se serve para demonstrar ao mundo que ele tanto pode utilizar a sua inteligência para o bem como para o mal. Eis a ambivalência da condição humana de que as práticas da corrupção organizada dentro das organizações são objecto. E o mais "giro" é que aqueles homens de cátedra em quem nós confiámos, em quem nós depositámos alguma expectativa para inverter a situação pouco ou nada podme fazer. Por isso, resta-nos uma coisa: rezar. Alguns fazem-no de joelhos; outros de gatas; outros ainda rastejam. Casos há, felizmente, em que há vertebras e as pessoas podem rezar erectos. Perfilo-me neste caso.
Felicito o autor por denunciar um tema que já tem barbas, é tão velho quanto a prostituição e perdurará depois de nós. Contudo, devemos poder limitar, circunscrever esse virus dando publicidade a este tipo de actos que lesam a sã concorrência, o rule o law, adiam a qualidade e a competição saudável nos centros de produção de conhecimento e, em última instância, adiam o futuro do país e dos portugueses. Lembro, por exemplo, a cunha do actual ministro da Justiça, o sr. costa ao "meter" uma funcionária recém-licenciada no seu gabinete para lhe tratar da manutenção do site. Pela tarefa o Estado português paga à dita senhora cerca de 600 cts (em moeda antiga para se perceber melhor). No fim da estória - a senhora parece que é filha do sujeito ou uma familiar muito directa. Enfim, o caso é conhecido dentro e fora do ciber-espaço. Depois ocorreu problema similar com uma brasileira que tinha trabalhado num restaurante e que, de súbito, passou a dirigir um departamento da Justiça pela mão do mesmo ministro, creio... Aqui a coisa não durou mto tempo, a denúncia pública surtiu + efeito. A corrupção - baixa, média e de alta intensidade - está nos genes do homem. Do homem português. Este compadrio é tipicamente luso e tem múltiplas motivações: desde protecção de classe, motivações sexuais, económicas, sociais até à necessidade de concertar alianças internas nos jogos de força dentro destas instituições de ensino. Quase todas as universidades em Portugal têm este cancro no seu seio. Sao seios com cancros, embora não se trate de cancros da mama... Nuns casos a coisa está mais oculta do que noutros devido à herança deixada pelo corpo docente e da história individual dos pequenos salazares que mandaram durante anos nas universidades, e hoje continuam a fazê-lo através de outras estruturas de avaliação do ensino superior. Conselhos nacionais de avaliação e conexos estão cheios deles... E os actuais agregados, catedráticos... todos eles beneficiaram de favores dos velhos jarretas que lá os colocaram. É o ciclo, a estória repete-se, é como respirar. O poder destes cromos está precisamente na dominação destas práticas veladas, no uso do segredo, da ameaça implícita, da coação psicológica mais ou menos organizada e o mais. Esta é, infelizmente, a regra. Sobretudo nas universidades que ministram cursos de ciênciais sociais - onde há uma maior taxa de políticos frustrados que - por o serem - emigraram para a academia - e aí fazem carreira, aí ministram as suas pequenas pulhices como se estivessem na política. O ministro da tutela sabe que isto é um ninho de cobras e pouco ou nada faz, pouco ou nada pode fazer, doutro modo compraria uma guerra com esta corporação - que está, como sabemos, vitaliciamente sentada à manjedoura do Estado comendo e bebendo - à semelhança dos militares - dos impostos de todos nós...Sabem que nunca serão despedidos, conquistaram o tal lugar ao sol e comportam-se como tal: com arrogância e soberba. E muita, muita manipulação. Quem souber um pouco de psicologia das organizações identifica estes relacionamentos nos corredores das universidades em Portugal. Só debelamos este cancro - com actos de cultura como este e, passo a pub., como aquele que também enquadrei no blog - www.macroscopio.blogspot.com - e que me parece explicar o problema com outra profundidade que não é possível num simples artigo de jornal, obviamente. Mas não posso deixar de achar "piada" (cínicamente falando, como é óbvio...) que um pequeno artigo como este, que está bem visto e é um tributo à justiça deste país, suscite tanto interesse por parte das pessoas. Quando uma reflexão mais estruturada por quem sabe da poda e se dedicou ao assunto pouca gente liga. Sem obviamente querer diminuir o mérito do Tiago (autor deste artigo) - com quem até já troquei algumas notas, antes pelo contrário. Quero, contudo, se me permitem, dizer a este pequeno fórum que este tipo de reconhecimentos também não deixa de ser uma modalidade de corrupção que todos nós temos no nosso íntimo. Ou seja, nuns casos identificamos o problema e nada fazemos ou dizemos; noutros casos, como este, as pessoas - talvez para revelar à humanidade que são sérias, competentes e zelosas, indignam-se. E amanhã tudo continua como dantes quartel-geral em Abrantes.. Há nisto, confesso, uma ponta de hipocrisia em cada um de nós, salvo seja. Por mim, q já venho denunciando isto há anos, e até com outro enquadramento, não tenho visto resultados alguns. Mas as leis da comunicação e da publicidade têm o seu segredo e as suas revelações comunicacionais também. Resumindo e concluindo: a única forma que temos para combater estas práticas é através da sã competição e duma aposta séria na cultura. E este artigo, por mais importante que seja, e é - na denúncia destas situações, também não deixa de ser uma gotícola num mar de reflexões estruturadas que existem sobre o tema. E será que alguém lhes liga? ou é preciso escrever um artigo num jornal de papel - à moda antiga - para que as pessoas se sintam inconformadas e indignadas? Daí a hipocrisia institucionalizada... É este tipo de inconformismo (que tem dias) - que só se manifesta quando a coisa encontra veículo de prata - que me confrange. Meditem nisto, pois a corrupção é um vício permanente que nos assalta o pensamento. Só a cultura o pode combater. Artigos como este animam a malta, purificam-nos. Mas o que fazemos depois? Zero. O jornal vende mais uns exemplares, mas a eficácia perante a natureza das coisas é ZERO. Afinal, todos devíamos ser responsáveis por cada um de nós. Até porque a cabeça engana-nos + vezes do que o coração. E a corrupção das almas - dentro e fora da academia - é sempre filha de ambas. Leio o artigo e louvo. Mas de seguida apetece-me dizer: olhem para as rosas do meu jardim a desabrochar e sem espinhos; vejam como podemos passar excelentes fins-de-semana em grandes castelos de areia... Vejam como o sol é azul e a lua amarela Vejam, já agora, que a natureza do homem, há milhares de anos, não muda. Vejam como nos indignamos todos aqui. E amanhã, meus amigos, o que fazemos lá fora... Talvez metamos o rabinho entre as pernas e façamos todos mais uns artiguitos e reflexões para animar a malta e provar ao mundo que ainda estamos vivos e perseguimos a Justiça. obrigado pla V/ atenção desculpem-me a falta de síntese e boas acções Amén Rui Paula de Matos