Ideia de progresso: um pau de dois bicos
Vivemos num tempo em que avulta a ideia de progresso. Ela está omnipresente em cada acto, em cada gesto, em cada procedimento, público e privado, pessoal ou colectivo. O progresso transformara-se numa espécie de oxigénio que, bem ou mal, lá vamos respirando. O escritor evolucionista Samuel Butler, também filho do progresso, fala-nos dessa evolução e observou o seguinte: o progresso baseia-se sempre no desejo inato e universal que qualquer organismo possui de viver acima das suas possibilidades". E eu lembrei-me duma definição conexa, embora de valor e potencial mais limitativo, como tudo o que emanava da comezinha e pacóvia testa de Salazar. Isto para dizer que o velho "Botas" permitia-se só comprar um fato quando tivesse dinheiro para dois. Esta asserção, bem ou mal, contrasta com os tempos modernos, em que 90% dos tugas estouram a massa toda na casa, no carro e no consumo. Não há dinheiro, mas tudo anda sempre em todo o lado de férias. Também aqui o fenómeno do homem-massa do grande Ortega y Gasset nos dá que pensar e interpela o próprio conceito de modernidade cujo padrão de desenvolvimento já não é mais linear, progressivo e previsível. Hoje, como dizia o outro, todos estamos submetidos à ditadura dos mercados, e estes são irracionais. Raios parta a ideia (post-moderna) de progresso.
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