sábado

Razão: o "Director-Geral" de paixões. Um case-study..

Quem não sabe o que é uma paixão... Todos nós já as tivemos e em vários domínios, graus e intensidades. Elas, contudo, opõem-se umas às outras, e umas servem para equilibrar as outras. Tudo é paixão, até a razão... que será uma espécie de paixão-mor. Elas são o verdadeiro contrapeso no jogo que estabelecem entre si. No tal jogo bipolar, no tal black & white das decisões pessoais e institucionais, públicas e privadas. Logo, as paixões comandam as nossas vidas. Por isso, não devemos destruí-las, mas antes dirigi-las. Substituindo, sempre que possível, as que são nocivas pelas que são mais úteis e convenientes à nossa vida em comum, em sociedade. Afinal, o que é a razão senão aquela esfera que controla o acto de seleccionar as paixões que devemos seguir a fim de atingir a Felicidade, o bem supremo que falava o Aristóteles, o fundador da (ciência) Política. Assim, a razão não é mais do que o "director-geral" das paixões. E quando a razão não é assaltada pelas paixões - dirige-as no melhor sentido. É como se a sub-mãos ajudassem mão-mãe a crescer e a desenvolver-se melhor.

Depois de ler aquela pequena teorização sobre a razão das paixões e as paixões que fazem a razão imagine agora o seguinte: que Sócrates, mais 15 como ele, que podem ser os seus Ministros, correm atrás de si com canivetes suíços, naifas de ponta-e-mola, furquilhas com pontas em fogo e catanas ultra-afiadas. Imagine também que o ministro da Finanças, dos Santos, segue nesse encalce com uma caçadeira de canos cerrados. Imagine o leitor esta coisa simples: ser perseguido por este conjunto de homens bem intencionados a que outros apelidam a equipa da Gomes Teixeira que joga ao Simplex às 5ªfeiras. Vê-se perseguido por este bando de homens bem intencionados, com naifas, furquilhas e caçadeiras... E perseguem-no não por ser magro ou gordo, mestiço ou branco, rico ou pobre, feio o bonito, perseguem-no apenas porque sim. O leitor - perseguido - sabe que tem de se pirar, doutro modo a estória acaba mal. Vai daí e à medida que que os elementos do bando se aproximam, o perseguido (ié, o leitor que veste agora esta pele e que está em fuga) atira-lhes algumas notas enquanto tenta escapar. Cada um dos elementos do bando passa a concentrar-se em apanhar essas notas. Ao escapar o leitor pode dizer que teve uma sorte terrível, já que os elementos do bando estavam agora preocupados no seu respectivo interesse pessoal, que acham benigno para cada um deles. Quer isto dizer o seguinte: as paixões, mesmo as mais violentas podem ser reprimidas pelo interesse em obter riqueza, seja por que via for. Não estamos com isto a dizer que Sócrates integra um bando, juntamente com os seus ministros e ex-PR, a maior parte deles pessoas bem intencionadas e amáveis. Mais a mais sampaio e o ex-ministro das Finanças já há muito estão fora do baralho. Não! O que quisémos enfatizar com este abstruso exemplo é que o capitalismo tem um mérito terrível em revelar a natureza das pessoas. E ainda que algumas das nossas mais malvadas paixões possam encaminhar os homens à maldade, eles têm, ao invés, todo o interesse em não o ser. Claro que dizer isto é defender que o lucro constitui o mais eficaz dos freios contra a loucura do não fazer nada, da resitência e do deixa-andar. É dar razão a Marx quando não queremos fazer. Se Sócrates sabe disto qualquer dia vêmo-lo pelas ruas da kapital distribuindo notas de 50, 100 e 500 € à populaça em alvoroço que se apoquenta para apanhar as notas em pleno vôo. Na capitalista esperança de reformar o Estado e dar a Portugal um lugar de dignidade, paz, desenvolvimento e harmonia. Que é coisa que ele já não tem desde que Cavaco deixou de ser PM, e isso já foi há uma década, no séc. XX do II milénio.