quarta-feira

O amor em Pitigrilli. Notas desordenadas

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  • Foi pela indicação de um amigo, o ZF e depois pelo reforço intelectual do meu Tio que o leu há umas boas décadas no Jardim do Príncipe Real, ali ao pé da Travessa do Abarracamento de Peniche onde morava o pensador Agostinho da Silva, que me atirei ao escritor e sagaz crítico italiano da década de 30, o famoso Pitigrilli.
  • Regressamos hoje aqui a ele porque além de ser autor duma obra vasta e valiosa é também um profundo conhecedor da alma humana, em particular da natureza da Mulher. Ora como ainda somos heterosexuais isso interessa-nos. Interessa-nos mesmo muito. Embora respeite muito esses novos casais "homo", mas que depois se tentam comportar como se fossem um casal normal. Em rigor, já se reparou que nesses casais ditos "emergentes" há sempre uma mulher que anda à homem, penteia-se à homem, coça-se à homem, olha e gesticula à homem e depois vem a postura da respectiva "galinha poedeira" - que se comporta como uma coitadinha submissae acabronhada: uma espécie de fêmea com o cio continuado, dócil, rebaixada e subserviente pronta a rastejar permanentemente para servir o macgo, quer dizer a fêmea. Será que o/a marido(a) também lhe bate quando discutem?!! Será que o fazem só quando o Benfica perde ou se alcoolizam.
  • Tudo questões pertinentes que passarão, certamente, a integrar os índices, também emergentes, dos manuais de Sociologia da família e de erotismo primários (além doutros primeiros socorros boca-a-boca). Tudo perante muitas dores de cabeças da padralhada (que conta com uma elevada taxa de homosexualidade, mas dentro do segredos dos deuses, dos claustros, das batinas, dos mosteiros, das dioceses e doutras pias baptismais) . Com a agravante da quebra de receita financeira se estes casamentos gay forem, de facto, para a frente: as esmolas diminuem, as crianças inocentes, entretanto adoptadas pelos "novos bárbaros" da civilização desviante, passarão a ser gozadas nos recreios da escola - como sendo os putos filhos do tal casal diferente - porque entre iguais; nas reuniões de professores haverá sempre risinhos amarelos e discretos e, enfim, os costumes rompem-se ao som erótico duma cena do filme de Pedro Almodóvar - que também contribuiu decisivamente para facilitar este clima de experimentalismo sexual com foros de cidade. Direi que todo este clima é bom para os heterosexuais, já que tendem a ganhar com esta segmentação de mercado. Mas se atentarmos melhor, não ganharão assim tanto: já elas vão com elas; eles fazem "comboios" com eles; e os tipos ditos "normais", como eu e muitos como eu - tenderão a ficar cada vez maos ostracizados pelo emergente mercado sexual que se começa a desenhar e a instituir nas sociedades contemporâneas. Há mesmo já quem diga que esta nova relação de forças entre os actores na sociedade tenderá a libertar energia para o aparecimento em força das bonecas insufladas. Mas por enquanto é só um rumor, um pouco como a OPA de Belmiro pensada a semana passada. Pois ninguém adivinharia... Excepto o próprio, os filhos, o Paulo e o Nuno, e o círculo restricto de amanuenses com cursos de gestão e de economia que fecham essa circunferência da decisão financeira em Portugal.

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  • Ma não é a OPA que me preocupa. Vem isto a propósito de no outro dia ver aquele espectáculo de desvio múltiplo da personalidade daqueles dois "cromos" que procuram reproduzir no seu pequenino microcosmos a chamada normalidade casamental. Aliás, a normalidade é sempre o mais difícil de consolidar, e em tudo. Mas se eu fosse jornalista e estivesse naquele espectáculo menor da conferência de imprensa, não resistiria a levantar o braço e perguntar:
  • - Desculpem, mas qual dos dois faz o papel de macho?!! É óbvio que a resposta sería tão visível que nem valia a pena colocá-la, excepto para aquilatar a destreza mental do marido, perdão, da senhora mais alta que andava à homem, pois pareceu-me ver ali um cowboy texano... Podia ser de Vila Franca, agora instalou-se-me uma dúvida existencial. Embora se trate duma dúvida menor, uma dúvida canina. Seja como for, observando aquelas meninas de Aveiro que vieram colher a fama à cidade - uma coisa imediatamente ressalta às pupilas do sr. reitor: com ou sem muchila, aquilo é suspeito, muito supeito...
  • Mas regressemos ao que importa, o que implica retomar a estrada do conhecimento e sabedoria do grande Pitigrilli. A dada altura, o autor põe na boca de um dos seus personagens as seguintes palavras:
  • - Se não amas a tua mulher - dizia - não podes ter ciúmes. O amor e o ciúme estão sujeitos a uma lei que lembra a da óptica: o ângulo de incidência (amor) é igual ao ângulo de reflexão (ciúme).
  • - "Imagina que tens um tubo em forma de U - dizia-lhe Axenfeld, o joven doutor em física. Se dum lado do tubo derramares amor, esta substância, que vamos supor líquida, subirá pelo outro braço do tubo, e parará ao mesmo nível nos dois braços. De um lado derramaste amor. Do outro subiu até à mesma altura o ciúme.

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  • - Ou seja, "a coluna do amor e a coluna do ciúme têm sempre exactamente a mesma altura. Se amares pouco uma mulher, serás fracamente ciumento. Se a amares com loucura, o teu ciúme tocará a loucura".
  • - Pois bem, estás errado, meu amigo - respondeu Cirmeni . - Amo-a pouquíssimo mas sou atrozmente ciumento. Tenho ciúmes de mulheres que já não amava, ou que ainda não amava, ou que nunca amei. O que produzia esse estranho ciúme terá sido talvez o amor em estado latente.
  • - Bem, então - retorquia o amigo - é porque há em ti, em estado latente, amor por uma mulher.
  • - Pode ser.
  • Porquê isto tudo, afinal. Por um lado, para reconhecer a chamada de atenção pelo autor ao amigo ZF que anda no meio de muitos processos, sendo ele também um processo resultante da relação íntima da senhora sua mãe e de seu pai; ao meu Tio porque ele sabe bem do que falo. Pois isto dos amores é mais complexo do que reter grão de areia fina em bolsos rotos; ou mais ainda do que tentar jogar uma partida de ténis com as solas dumas botas rotas ou as ferraduras dum cavalo, ainda que nobre.
  • Mas ainda subsiste uma 3ª razão para evocar Pitigrilli, desta feita, mais impessoal: é que o "Piti", com quem gostaria de tomar um martini na praia ao pôr-de-sol e conversar um bocado sob o olhar atento de Deus, que é Outro desaparecido e nunca mais me ligou, mailou, escreveu-a-punho ou até fax-i-o-nou - consegue explicar melhor a natureza do Homem (incluindo aqui a mulher, embora com os casamentos gay a fórmula tenda a inverter-se e passaremos todos, salvo seja, a dizer a Mulher - que inclui também o homem) do que os próprios médicos ginecologistas.
  • Por outro lado, não deixa de ser muito curioso a forma pela qual Piti dedicava alguns dos seus livros: "a todas as mulheres que não conheci, ou que não me agradaram ou que me disseram não. São essas que eu recordo com mais intensa gratidão.
  • Thanks Pitigrilli, you're the best

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