Manuel Castells continua in very good shape
Para o sociólogo, o sector público não é um travão, mas um motor, que não dispensa, naturalmente, o sector privado. "A diferença é que, de um lado, há apenas o modelo empresarial e no outro é o Governo que primeiro cria condições para a inovação e garante que os benefícios são redistribuídos por toda a sociedade. Um sistema de segurança social não detém a inovação", explica.
"Toda a Europa tem de integrar o modelo social europeu no modelo empresarial. A forma como a sociedade americana funciona não é transponível para a Europa. Não se pode tocar no Estado social. Podemos mudá-lo e torná-lo menos burocrático, mas só isso. Não se pode trazer Silicon Valley para a Europa. A forma de entrar na sociedade em rede depende de cada país".
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_________________________________________________________ Breve reflexão a propósito da teoria das redes e sua incidência na configuração e função social, económica e política do Estado no séc. XXI. O Estado-rede e a globalização feliz Faz hoje sentido dizer que as raízes do Estado já não estão na nação, existem na escala global; os governos descobrem que o Estado desenraizado que gerem já não lhes pertence, nem ao povo; e as origens das suas regras são multilocais e policêntricas.
Enquanto uns falam em Planos Tecnológicos, outros repensam o papel do Estado, agora como uma teia mundial de práticas, sem um centro. A informação assume o vector primordial de desenvolvimento. Pois as sociedades que têm maior potencial de modernização são as que a utilizam de forma intensiva, reorganizando a produção e os padrões de vida. O Estado fica assim associado ao modo informacional do desenvolvimento, também gerador de desigualdades, já que nem todos os grupos sociais têm à sua mercê as mesmas ferramentas e skills para se adaptarem às novas condições da globalização. Daqui decorre a dualização social, estruturada em função do conhecimento e da capacidade integrativa na malha informacional.
Mas qual é a vantagem da tecnologia na política? Miniaturizar equipamentos com capacidade de tratamento rápido de informação, integrando-a em redes de valor que abrem janelas de oportunidade para uma reformulação dos formatos organizativos. Tais redes cooperativas são assimiladas a micro-unidades com grande flexibilidade. Ora é aqui que o Estado deve investir, uma vez que os dispositivos tecnológicos disponíveis controlam o tempo e o espaço acelerando reformas que potenciam rendimentos crescentes. A dificuldade está em conceber políticas unificadas para espaços fragmentados, com expectativas sociais segmentadas consoante a escala seja global ou local.
É assim que o Estado deve ser equacionado: numa dinâmica de fluxos de crescimento continuado. Criando espaços globais onde existiam territórios e o clássico conflito social se diluiu. Agora existe só o sistema capitalista global onde os fluxos do poder são substituídos pelo poder dos fluxos. E o real é tratado em função de códigos e contextos simbólicos digitalizados susceptíveis de serem transmitidos pelos fluxos. É assim que Estado (empresas e pessoas) estão submetidos à simultaneidade do real, à rede de significados do hipertexto cujos acontecimentos remetem as leituras de uns para outros, de modo a que essa rede cruzada se reforce mutuamente.
O Estado-rede contrasta assim com a hierarquia militar ou a família patriarcal. Impedindo o Leviatão de legislar as regras de comunicação e o modo de transmissão dos seus conteúdos. O que choca as concepções tradicionais do poder político que se confronta com tal evolução, pois perdeu a sua prerrogativa de ser o emissor único das mensagens que fabricava junto dos eleitorados.
Qual é, então, o desafio? Evitar que o Estado utilize os indicadores de informação, digitalizando o real em função do seu ciclo eleitoral. Hoje todos recebemos informação ao mesmo tempo, o que pode conduzir a comportamentos de crescimento como de destruição. O carrossel do mercado bolsista é um exemplo dessa ambivalência.
Só haverá escapatória para o Estado se entroncar na globalização feliz, evitando a generalização da exclusão social e a perda de potencialidade de crescimento contidas na sociedade da informação. Para ser sustentável terá de ser ao mesmo tempo uma sociedade educativa e competitiva, gerando um novo tipo de responsabilidade política e capacidade para acrescentar valor às pessoas, recorrendo ao risco e à inovação para gerir a turbulência dos fluxos. Navegar é preciso, como diria Fernando Pessoa..




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