quinta-feira

O novo movimento (cívico) dos Não-Alinhados by M. Alegre - em Porto Alegre versão lusa

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  • Todos nós sabemos que a política tem um lado romântico, sonhador, utópico, transversal. M. Alegre corporiza esse ideal, embora o faça muito tardiamente e ainda mais oportunísticamente. Lembro que alegre foi o candidato mais tíbio e hesitante destas eleições presidenciais: num dia foi à TV ler uma cábula em que criticava os partidos, as máfias judiciais que bloqueiam este país, a burocracia, enfim, Alegre desancou - e bem - no Estado que temos e depois concluiu a rábula da seguinte forma: pois é, meus senhores, eu não quero no futuro próximo ser acusado de dividir o espaço da esquerda em Portugal nem a sua família política (leia-se o PS), e assim abriu caminho para Soares entrar e se afirmar nessas já velhas avenidas da liberdade. No outro dia, pasme-se!!! o mesmo Manuel Alegre vai à tv dizer que tinha mudado de ideias e que se apresentava de facto a eleições. Este é o Alegre destas presidenciais, o Alegre dos 360 graus, o homem das tibiezas e dos arrependimentos que avança às arrecuas. Confesso que preferia o outro Alegre, o do Parlamento que fazia ouvir a sua voz tonitroante perante as injustiças do mundo e mais as balelas poéticas que ele costuma debitar à turba. Mas também só o lê quem quer...

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  • Mas agora põe-se um problema: que fazer com aquele milhão de pessoas que votaram nele: ou por acaso, ou porque já não podiam ver o Soares pela frente, ou por raiva do PS ter apoiado o "outro", ou por qualquer outra razão de índole negativa. Alegre foi, assim, uma espécie do federador dos descontentes e dos traumatizados da guerra civil à portuguesa que lhe íam chorar ao colo a fim de serem embalados por aquela poesia marialva já mui datada no tempo e remete para um Portugal que já não há. Vejo Alegre a declamar poesia e penso: que tremenda injustiça este Portugal presta aos verdadeiros poetas - que morrem esquecidos no anonimato. E muitos infinitamente melhores, o que também não é difícil.

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  • Mas Alegre sempre tem alguma experiência política, foi ou é deputado e tem alguns contactos. Seus ou propiciados pelo seu rival Louçã - que num momento de crise o ajudará a potenciar aquele milhão de homens e de mulheres. E como essa boa gente não cabe no Campo Pequeno ou no Campo Grande ou no Estádio de Alvalade - que irá levar uma cabazada na Luz do fim-de-semana - resolveu pensar em Portalegre, ou melhor, Porto Alegre, Brasil - que fica a uns 7 mil kl daqui. De barco fica mais perto mas toma mais tempo e sempre há os perigos do enjoo...
  • E como do Brasil vem sempre boas temperaturas, Alegre teve uma ideia genial: montar um Fórum Social à Portuguesa (FSP), decalcado do modelo de Porto Alegre, pois mesmo que seja um fiasco esse milhão irmanado sempre é muita gente e as multidões ou as massas são sempre empurradas para onde o vento soprar. Ou seja, não pensam, e se não pensam é porque estão alienadas. Daí poderá, portanto, e segundo os meus modestos cálculos, resultar a seguinte deriva discursiva "alegriana": temos de abater a globalização predatória de que nos falava o velho Richard Falk, desancar nos partidos políticos, especialmente no PS que não apoiou Alegre, e, quanto o antes, desgastar Sócrates até o fazer completamenete cair... e meter Portugal na agenda do mundo. Um pouco como os Forúns de Davos, na Suiça, só que desta vez é um Davos à la carte de Manuel Alegre e vocacionado para os pobrezinhos - que são os 10 milhões de tugas. SE quisermos simplificar, diremos: o Alegre quer dinamizar um partido sem partido, uma espécie do movimento dos mudos do mundo, um partido dos sem-terra e, para esse feito, terá de eliminar os partidos políticos portugueses, verdadeira causa de Alegre não ter ido à 2ª volta e, aí sim - limpar as eleições a Cavaco e entronizar-se PR. Eis o esquema mental de Alegre. Eis o poder de um homem revoltado, ressentido e que agora se irá vingar não de Soares (que já está "morto" politicamente) mas de Sócrates que ainda anda de canadiana para inglês, e de quando em vez esquece-se da fita e começa a andar normalmente. Enfim, a política também destas coisas para gerar compaixão nos tugas e, assim, amolecer e moldar os espíritos a receber melhor os impactos terríveis do aumento galopante dos impostos do Pinóquio que nos (des)governa... Nem que a vaca tussa... E Alegre tosse muito!!!
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  • Basta pôr a Lena Roseta a organizar a maralha que tudo se resolve. Causas cívicas é com ela. Ela tudo pode, desde os có-cós dos cãezinhos que consporcam as ruas de Campo d' Ourique e de Benfica até ao combate à corrupção e ao compadrio na alta esfera do Estado (CGD e afins); depois a senhora é muito amiga dos pobres, pobrezinhos e ranhosos e também dos inválidos e do Banco Alimentar contra a Fome: tudo coisas louváveis. Portanto, a Roseta parece-me uma personagem acertadíssima. Também já mudou várias vezes de partido nesta ciclotimia da política. Porque esta, a política, mais parece uma meretriz em fim de estação e em busca de novas utopias e distopias... entre outras pias!! Até por causa do aborto, da paisagem urbana agredida pelo betão, dos cogumelos pisados no Parque Eduardo VII frequentado pelas Catherines Deneuve transportadas em Jaguar discretos... e de mais uns quantos interesses regionalizados que urge combater e que só ela, Roseta do PSD, perdão, do PS, poderá erradicar em pleno Fórum Social Português... a realizar em Belém ou num qualquer armazém do Carregado a caminho de Aveiras e de Santarém.
  • Portanto, julgo que está explicada a ideia do milhão de "dólares" de Alegre, pedindo nós desde já aqui as nossas desculpas por nos termos enganado, pois chegámos a pensar que o movimento cívico se orientasse mais para combater a campanha de publicidade da Galp que promete aquelas brasas aos utentes e depois não cumpre e leva as botijas meias de gás... Enfim, um esbulho.
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  • Portanto, o esquema é este: o pano de fundo é a globalização predatória personificada pelos partidos políticos mafiosos porque não o apoiaram; o actor a abater será Sócrates; e Alegre será o "sniper" de serviço. E o milhão, a assistir nas plateias meio alienado meio a adormir, aplaude porque todas as multidões sempre gostaram de ver sangue, mesmo na política em que o voyeurismo é a palavra de ordem e a conduta clássica. Importa não pensar, urge aagir - eis o lema deste movimento pan-cívico que parece até já granjeou o apoio de D. Duarte Pia de Bragança e Vale do Tejo.
  • Será que as utopias d'hoje serão sempre as verdades de amanhã!?, como diria o grande Vitor Hugo (digam com sotaque, please).

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