O "exemplo" do dr. Seara...
- O jogo das ilusões: as promessas eleitorais e as verdadeiras realizações. As palavras e as obras...
- As diferenças entre a imagem e a realidade...
- O anti-exemplo do dr. Seara na política autárquica fez-me lembrar um conjunto de realidades sociológicas que ainda se passam, por efeito de dualidade (cidade província), no nosso Portugal profundo. Esse tipo de candidatos à política são perniciosos, desde logo porque julgam integrar uma elite bem pensante que consegue fazer obra social e cultural, e depois nem uma coisa nem outra. Sobra só umas milhares de refeições para as criancinhas ranhosas de Sintra acompanhadas por uns manuais escolares onde estas aprendem que o País em que vivem, nomeadamente o autárquico, está eivado de amadores que vão para a política porque a academia já não os seduz e a fome de fama e a ganância de poder já não os satisfaz senão na própria arena política.
- Por isso, escolhemos aqui o study-case de Seara para demonstrar aquilo que jamais se deverá repetir em Portugal em matéria de política autárquica. Com ele é-nos dado observar, na maior parte das suas promessas eleitoraleiras - para não lhes chamar mentiras clamorosas - que elas, de facto, só nos mostram claramente as suas más acções ou inclinações narcisistas quando, porventura, as tomam por proezas ou bons instintos.
- Isto faz-me lembrar o que se passa no interior do País nestas ocasiões pré-eleitorais. Vejamos algumas delas para depois fazermos o paralelo e a ponte com o esquema mental do mundinho dos "searas" que pululam lamentavelmente na nossa vidinha autárquica.
- Um candidato autárquico na província tem de fazer política a beber copos de tinto ou cerveja nas tabernas por onde vai passando. Ele pode estar proíbido pelo médico de beber, pode detestar vinho ou cerveja (e só gostar de Martini ou de chá) mas tem de enfrascar uns tintos bem aviados, doutro modo não revela a sua raça e assim a turba não vota nele. Logo, só lhe resta beber, beber e beber. Eis, grosso modo e duma forma algo tosca, o retrato que ainda tipifica o candidato autárquico na província - que, por efeito de contraste - Seara representa. Veremos como...
- O candidato a autarca na província tem de beber, mesmo contraído - enquanto faz promessas e anuncia o seu plano para o Município para os próximos 4 anos - por entre bacalhaus, beijos aos meninos e saudações aos idosos. Eis o fluxo principal desta actividade política em contexto pré-eleitoral. Alguns candidatos ganham úlceras, cirroses e aparecem alcoolizadas em casa às 3 da manhã sem nunca terem aprecidado cerveja ou vinho, mas a política impele os candidatos para esta travessia das semanas, dos dias, das horas - até ao momento da votação em urna.
- Eis o fluxo de movimentos que os candidatos autárquicos na província têm de fazer para conquistar votos. Beber e falar, falar e beber com a turba. E, não raro, muitos resultados eleitorais se decidem neste trânsito frenético que navega entre o tinto saído da pipa, a bujeca e o" dê cá aquela abraço", entre proclamações solenes em que a estrada x e a praça y serão feitas ou concluídas logo no primeiro trimestre do mandato do candidato (uma vez eleito). As coisas são assim. Embebedam-se as populações de promessas misturadas com palavras já enroladas por línguas alcoolisadas, e, às tantas, está tudo bêbedo a fazer campanha pelas vilas de Portugal. Alberto J. Jardim na Madeira é o paradigma deste cancro da democracia. Ninguém leva a mal. Muitos candidatos - que não gostavam de vinho e de cerveja - acabam por ficar com hábitos estranhos depois destes momentos eleitorais, e muitos terminam com cirroses lamentando-se pelas esquinas dos hospitais. O Portugal profundo está povoado de alguns destes casos. Ou seja, há os que só uma vez se embedaram, porém toda a vida lhes durou essa bebedeira...
- Ora bem, o anti-exemplo do dr. Seara entronca aqui neste carrefour. Não quero com isto dizer que o homem é um alcoólico, de maneira nenhuma. O que se pretende sublinhar é o paralelismo entre os comportamentos políticos na província e os comportamentos políticos nas cidades - para assegurar a mesma finalidade: capturar votos - a qualquer preço.
- Enquanto que na província os candidatos têm de se enfrascar para mostrar às populações que são homens de cepa rija, na cidade os mecanismos existentes são outros - mas igualmente ardilosos e transpersonalistas. E o estudo de caso da carreira e evolução do dr. Seara ilustra ad nausea esse trajecto. Primeiro, arranjar um palco para ser conhecido e sair do anonimato: o futebol serviu essa plataforma; depois ser conhecido e, se possível, consolidar essa notoriedade na sociedade. O comentário desportivo - de baixíssima qualidade diga-se de passagem - serviu exactamente esse propósito. O Benfica deu uma ajuda. Infelizmente, o Glorioso serve para muita coisa, a sua imagem, o seu símbolo, a sua história e toda a sua identidade cultural - servem, pelos vistos para muita coisa, excepto para conquistar títulos.
- Em 3º lugar, há que capitalizar essa projecção em termos políticos. Em rigor, importa ter um projecto político-partidário. E se está no partido do táxi (o CDS) há que emigrar imediatamente para um partido de poder, o PSD. Foi precisamente o que Seara fez, pois sabia que se ficasse fiel à sua identidade política matricial ainda hoje andaria de mão dada com Paulo Portas - quer no banco da frente, quer no banco de trás do partido do táxi.
- Depois vem o resto do "alcool político" com que se "embebedam" (e alienam) as populações que, apesar de tudo, nas cidades ainda não são muito diferentes das populações das vilas e cidades do interior do país: há, pois, que conotar-se ao futebol - que é um fenómeno de massas e arrasta multidões; há que fazer-se amigo das vedetas do desporto com cotação internacional num dado momento; arranjar um ou dois jornalistas amigos, ou até uma namorada na área..
- O dr. Seara - com esse trajecto milimétricamente calculado - representa essa alienação da futebolítica, o moderno álcool político das cidades por comparação aos copos de vinho tinto e às cervejas que se têm de beber nas aldeias do Portugal profundo para ganhar eleições autárquicas.
- Ora tanto num caso como noutro - são as populações que ficam embrutecidas pelo álcool político que os candidatos lhes impingem. Só a sua presença causa dano psicológico. Eis o que sinto quando vejo o dr. Seara na TV a fingir que é comentador desportivo sem saber dar um chuto numa bola ou o que é uma prova de atletismo. Também aí o seu perfil é o do treinador de bancada, igual ao de milhões de tugas que, do sofá, burilam táticas e estratégias com o mesmo facciosismo de um Gabriel Alves. Só que os tugas depois não decidem do destino e da vida de milhares de pessoas, como os autarcas, eis a diferença.
- Quando vejo o dr. Seara armado aos cucos fazendo-se passar por autarca lembro-me logo da conduta dos caciques de província - candidatos por toda a parte até morrerem - bebendo copos de três na casa das pessoas humildes que lhes abrem as portas do lar, em casa de amigalhaços da política que depois têm de empregar, nas adegas de conhecidos, nos bares das vedetas do Alagarve, nos restaurantes, ou nas ruas - especialmente - nas esplanadas.
- Eis o comportamento-seara que, como vimos, encontra paralelismo com os caciques de província que se querem perpetuar no poder até às suas exéquias.
- Tanto uns como outros, os pseudo-políticos na província - como na cidade se entregam à bebida, ao vinho da manhã, da tarde e da noite - sempre aprazíveis desde que rendam votos. Mesmo que não haja sede para tanto.
- Esta forma de fazer política é perniciosa, é viciante, é aviltante e só agrava os problemas das populações que estão fartas de promessas e, no final, dos 4 anos só vêem ilusões. É aqui que os "searas" deste país avultam e aviltam - as nossas almas...
- Por isso, não sejamos parvos. Não pactuemos com essas pessoas que ainda têm muito que crescer e aprender, mas por serem narcisistas ou apresentarem sérios desvios de personalidade que só se curam no divã do psicanalista - não conseguem perceber a razão pela qual a mosca não consegue altrapassar a barreira do vidro.
- O vidro está, mas a mosca continua a embater contra o vidro na vâ esperança de o atranspôr sem se magoar. Julgo que entre o programa e as promessas do candidato de Sintra - já não sei se ainda é do CDS ou já é do PSD - e o conjunto das concretizações feitas hoje - há um fosso que envergonha. É medonho como se pode - ante o pouco que se fez do prometido - uma pessoa apresentar-se de novo ao eleitorado!? Eu morria de vergonha, e fingia ir ao WC e pirava-me. Pois o dr. Seara não sabe qual é o seu momento para fingir ir ao quarto de banho...
- Ele que é o pai do IC19 - onde as pessoas para percorrer 20 Klm de Lisboa a Sintra ainda demoram nesse simples trajecto 2 horas, quando não é mais.
- Mas o dr. Seara diz que é o pai do projecto, pois por aí se vê o desrespeito pelos cidadãos residentes que todos os dias têm de passar por aquele calvário. Quatro anos para só agora se começar a alargar o IC 19.. brilhante.
- Pois aqui se deixa uma nota ao visado - que esperemos não seja reeleito em Sintra. E a nota é a seguinte: nem sempre o poder é saber, muito menos saber científico. O saber - de que o homem se arroga no seu estreito mundinho da futebolítica - por onde geriu toda a sua imagem que o catapultou para o poder autárquico - por seu turno, é poder - embora no seu caso - uma vez que o fosso entre as promessas políticas entre o que disse e o que realizou são tão vergonhosas - que o referido saber jamais se traduzirá em poder político.
- Saber ser um camaleão da política pode mostrar uma parte da virtú maquiavélica para se ir navegando nas águas do poder, mesmo que se seja um troca-tintas mudando-se de partido como quem muda de camisa - mas não é essa a qualidade que faz de um político um bom político.
- O problema da ciência política - vista agora como ciência do poder (e do Estado) aplicada ao comportamento destes actores-menores ligados ao meio do caciquismo é que ela se alimenta de muitas articulações, como quem quer jogar xadrez e, ao mesmo tempo, mudar as regras do jogo ou mudar o valor e funcionalidade das suas peças.
- Eis o que o dr. Seara nos confessou quando mostrava a sua verborreia completamente inflamada e descontrolada: parece, afinal, que as suas promessas eleitorais em 2002 - piscinas e ciclo-vias, centros de saúde e salas de aula entre outras infra-estruturas de valia social - só são para validar em 2007/09. Ora isto em democracia em brilhante... Percebemos agora como na cabeça do autarca os mandatos se reportam a outros mandatos, e os próximos - por seu turno - remetem para o próximo quadriénio, e assim o actual autarca de Sintra atravessa a linha do tempo e conquista a eternidade política e salva-se pessoalmente... Por este andar o IC 19 de que a criatura se diz ser o "pai" estará concluída em 2020... Brilhante..
- Tudo aquilo que o dr. Seara disse - na letra e no espírito e até no tom - foi lamentável. João Soares - não raro - também armadivalhava o diálogo de surdos... Uma coisa é certa, com pessoas deste calibre não se pode jogar xadrez, porque a qualquer momento querem alterar as regras do jogo e mudar as peças e alongar a própria dimensão do tempo, coisa que até Eisntein não conseguira.
- Com homens assim na política à portuguesa as surpresas são sempre desastres para as populações; a evolução uma regressão; e a liberdade um verdadeiro cárcere - limitando a liberdade de movimentos das populações.
- Acho mesmo que a melhor terapia para que o actual autarca se cure da política - seria ser obrigado a percorrer todos os dias pelas 8 am o trajecto Sintra-Lisboa e depois obrigá-lo também a fazer o mesmo trajecto com direcção contrária (Lisboa-Sintra) pelas 18h. Talvez aí ele ficasse um pouco mais humilde e chegasse à brilhante conclusão de que a veia dele para autarca é igual à sua veia como comentador desportivo: uma lástima... Só ele é que não vê isso.
- Recuso-me a a crer que não havia no PSD ninguém mais qualificado e credível para se apresentar a eleições em Sintra...
Aproveitando o study-case de Sintra apraz-me concluir com mais uma nota final: há certos políticos, porque são camaleões e oportunistas, que ora se apresentam como verdadeiras ratoeiras para o eleitorados, ora se oferecem (alegadamente) como isco. Mas, curiosamente, em ambos os casos - os dispositivos estão armadilhados, e são sempre as populações que acabam por ficar entaladas no metal da ratoeira. Ora isto dá que pensar, ou não dá...
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