Mau serviço prestado à democracia - por Joaquim Paula de Matos
Rui:
- Ao alertar-te para o debate de ontem, na SIC, entre o João Soares e o Fernando Seabra, estava longe de pensar que as coisas atingiriam aquele lastimável espectáculo que envergonhou a nossa democracia e constituiu um verdadeiro e justificado estímulo à abstenção. Daquela forma, aqueles senhores, não merecem os votos que os eleitores resolvam entregar-lhes. Desrespeitaram os cidadãos, subestimaram a sua inteligência e negaram-lhes o direito à informação e esclarecimento político. Se fosse um espectáculo de boxe o árbitro teria, obrigatoriamente, que suspender o combate e desqualificar os opositores por comportamento incorrecto.
- Incapazes de deixar passar qualquer mensagem que fosse desfavorável à sua campanha de caça ao voto os dois políticos decidiram anular-se reciprocamente falando ambos em simultâneo e transformando o que devia ser um diálogo num mar de palavras que se sobrepunham com a única preocupação de tornar imperceptível a mensagem do oponente.
- Em resumo, João Soares, pretendia convencer os cidadãos de Sintra que Fernando Seara nada tinha feito durante os seus 4 anos à frente da Câmara o que é, obviamente, um descarado exagero. Fernando Seara, por sua vez, não aceitava lacunas ou falhas na sua acção à frente da edilidade, o que é outro exagero. Em suma, um atentado ao bom senso. O Sr. Coronel, em representação do PCP, que tem a disciplina da escola do Exército não se deixou arrastar pelas provocações de João Soares de que, não condenando em bloco o executivo anterior, estaria a atraiçoar a esquerda e a servir os interesses da direita ao bom estilo do PREC. Assim, limitou-se a afirmar o que era elementar: a sua posição era crítica e, de acordo com ela, alguns aspectos da acção de Fernando Seara terão sido positivos e outros nem tanto.
- Esteve mal Fernando Seara quando enveredou pela defesa acossada e quase em pânico da sua acção como Presidente da Câmara de
- Sintra, tanto mais que falava para os Sintrenses que inevitavelmente, ao longo dos anos, se aperceberam de coisas boas e más que fez ou não fez.
- Pior esteve João Soares com os seus exageros acusatórios esquecendo-se que entre as pessoas que o ouviam não estavam apenas os indefectíveis do PS, que talvez apreciem aquele estilo de “bota a baixo,” mas principalmente pessoas do centro político sem grande cultura ideológica ao nível de esquerda e direita cuja destrinça já não é fácil de perceber entre PS e PSD o que levou, de resto, Fernando Seara a perguntar a J. Soares, a certa altura do pretenso debate, o que era ser de esquerda. Na verdade, no actual panorama político do nosso país, esquerda e direita já não passam de chavões sem nenhuma tradução no concreto, para alem de uma ligação a um passado político que vai ficando cada vez mais longe e deslocado nos dias que passam.
- Portanto, assistiu-se apenas a uma cena de luta pelo poder, na minha opinião, de uma triste cena ou apenas mais uma em que se vai traduzindo o panorama político do nosso país. Os políticos, mais ou menos oficiais, perderam discernimento e até algum descaramento face aos cidadãos que os elegem. Disputam o poder sem respeito uns pelos outros recorrendo a truques e artifícios em que impera a lei do vale tudo e o resultado é o desgaste da nossa democracia cada vez mais a funcionar em circuito fechado. Sinceramente, de debates políticos para as autárquicas, parece-me que fiquei cheio e não vejo razão para os outros, que se vão seguir, serem diferentes destes.
- Vamo-nos guardar para as presidenciais para ficarmos a saber o que é que o Dr. Mário Soares e o Dr. Cavaco Silva terão para dizer um ao outro.
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