quinta-feira

A Tragédia é a Política

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A oposição considera grave a saída do ministro Campos e Cunha da pasta das Finanças. PSD e CDS-PP falam em “instabilidade política” e em “quebra na credibilidade externa do país”. PCP e Bloco de Esquerda apelam a uma mudança das políticas que estão a ser seguidas pelo Governo.
  • Na sequência desta demissão pergunto-me - em que País estamos?! Campos e Cunha assina um artigo no Público em que coloca sérias reservas à qualidade infra-estruturante dos projectos da OTA e TGV - por achar que ambos não são nem úteis, nem nem necessários nem prioritários a Portugal neste momento. E como não quiz ser responsabilizado pelo seu fracasso - fez o artigo e mostrou as reservas a ambos. Deixando - pelo caminho - uma catadupa de recados aos seus colegas de governo. Isto colide com a estratégia do PM, óbviamente. Depois, o ministro das Obras Públicas contrariou o ministro de Estado e das Finanças asseverando que aqueles dois projectos eram tanto necessários quanto prioritários. Campos e Cunha deixou de ter espaço político para esbracejar, e resolveu demitir-se. Fez bem. Ao menos actuou segundo a sua consciência. Actuou em coerência. Recordemos o facto de ter sido ele - horas depois de ter tomado posse - a falar na necessidade de aumento de impostos. Então fora muito criticado, até por Marcelo na RTP, dado que essa era uma matéria que devia ser primeiro divulgada pelo PM. Bom, isto são alguns factos conhecidos.
  • Mas para além dos factos há sempre algo de Trágico por trás deles. Os factos, por vezes, são apenas a aparência das essências. E estas encontram-se quase sempre no limite da razão (ou da loucura).
  • Vejamos esse trajecto no mundo desordenado em Portugal nos últimos tempos. Diria mesmo que este facto revela que a Tragédia é a própria Política. E porquê? Também pelos factos? Mas a Tragédia transbordou os cenários da Política lusa e derramou-se pelo asfalto da própria Linguagem dos homens. De certa forma, é como um regresso às origens - de ausência de linguagem em que cada um faz o contrário do que afirmou antes. E tudo parece normal. Ora, é isto que é deveras estranho.
  • Pois é a Linguagem que melhor se percebe, hoje, que assume a face do caos. Ao falar num aeroporto e numa linha ferroviária de alta velocidade - não é bem o mesmo que falar num quadro de pintura abstracta produzido por um artista desconhecido. É preciso rigor, estudos, projectos, ou seja, a Política carece duma certa Matemática para não ficar no vazio das intenções que tantas e tantas vezes Campos e Cunha - deixou entrever nas vezes que foi à Comissão parlamentar de economia e finanças falar da matéria. E à medida que falava - por não dispôr da tal matemática política (revelando um amadorismo preocupante - especialmente para um cientista social que é Catedrático de qualquer coisa) - mais se enredava. Era visível: o homem corava, diminuia-se nas palavras que proferia. A insegurança e o stress acabam sempre por "matar" as pessoas. Só lhe restava uma saída... Pecou por tardia.
  • Mas esta desconcertação de posições entre Campos e Cunha e o PM não significa que seja Sócrates que tenha razão. Pois eu acho que é a parte mais fraca que a tem, ou seja, quem se demitiu por insustentabilidade. Campos e Cunha perdeu a força mas não quer dizer que tenha perdido a razão. Tanto a OTA como o TGV não são prioritários neste momento para Portugal. É tão intuitivo quanto científico. Não gera riqueza nem cria emprego. Importa toda a tecnologia. É só uma modernidade aparente - que ajuda os taxistas e os patos bravos - crónicos especuladores - a fazer mais umas negociatas que nada têm a ver com o bem comum e o desenvolvimento do País. Isto é tão claro como a água. É algo que dispensa estudos, projectos, etc. Daí a tibieza de Campos e Cunha sempre que falava naqueles dois projectos artificiais - que agora prosseguem pela mão de Teixeira dos Santos.
  • Portugal precisa é de um tecido empresarial mais dinâmico e competitivo que produza inovação como a Natureza foi magnânime com o sol em Portugal. Portugal é um País pequeno - que se percorre na vertical em 3/4 horas e em duas na horizontal. Para quê tanta pressa com o TGV? Importamos quase toda a tecnologia e não geramos empregos. Será mais um elefante branco que o país não rentabiliza. Será mais um quisto para o défice crónico das nossas finanças públicas.
  • Mas regressemos à Tragédia. São incoerências como estas - entre o ministro das Finanças e o PM - que revelam como perdemos a esfinge, ié, como o homem se perdeu a si mesmo nos labirintos da Linguagem - que está sempre para lá dos factos. Parece até - que Portugal perdeu os deuses que tinha só para nos passarem a expiar lá do alto, talvez dos céus da OTA ou da velocidade da luz do TGV. A sensação que fica ao discutir-se esses dois projectos é que Portugal ficou sózinho buscando os caminhos do Destino, só que já não temos mais palavras capazes de realizar essa obra. Um obra sem destino.
  • Era como se Shakespeare fosse o ser mais actual em Portugal. E o povo fosse uma espécie de Hamlet. Só que ainda não sabemos bem onde está o nosso reino da Dinamarca... São, pois, estas incertezas e incoerências - fatais em política - que revela que Portugal está sem deus, embora tentemos abrir os olhos ante a brutalidade das estórias que colocamos a nós próprios. E por isso somos pobres Trágicos duma pobre Tragédia. Eis o que somos.
  • São estes projectos nitidamente megalómanos que nos vão fazer perder na curva da estrada. O tempo que consomem é uma eternidade. Os recursos que absorvem é uma outra tragédia, fazendo lembrar os estádios de futebol. Pois se não temos uma florescente actividade económica - queremos o aeroporto e o TGV para quê? Para dinamizar essa mesma actividade económica - observando as velhas receitas de J. M. Keynes!?... Tamanho erro. Os governos hoje devem regular e induzir investimentos (mistos), mas daí a ser o motor desse mesmo desenvolvimento vai uma dramática distância a que não se pode dar ao luxo.
  • Hoje, já nem pela Linguagem conseguimos distinguir o Ser e o Não Ser - Eis a questão. Será isto um convite à Loucura como antítese da lucidez com que habitualmente confrontamos a política para a resolução dos problemas comuns?!
  • Julgo que Portugal confiou a Política à Tragédia - julgando que esta não retornasse mais à Linguagem - para não errar de novo. Assim, evitamos falhar pelas duas maneiras: pelos actos e pelas palavras que - supostamente - os sustentam.
  • Então, qual é o objectivo da Política - especialmente em Portugal? Será "destragedisar" a própria Tragédia. Inventando, desde logo, uma nova linguagem (mais rigorosa - própria de catedráticos de economia que não se percam nos labirintos das palavras nem da memória), e depois identificando novas prioridades para o futuro imediato do desenvolvimento do País. O que não passa, necessáriamente, por aqueles dois elefantes rosa que ainda estão em gestação. Aflige-me pensar que esses projectos sejam falados sem estudos que quantifiquem a sua necessidade. Na realidade, é este convite à Loucura que está a destruir Portugal. E isto acontece assim porque o tempo rápido da Política não deixa tempo aos mais preparados para se pronunciarem pelas prioridades. É, pois, a velocidade em política que está a matar a própria Política. Podemos até dizer que a tragédia de Portugal é não perceber que são os TGVs avulsos de Portugal que vão decretar o óbito ao País. Para depois - qui ça - recomeçar tudo de novo.
Resenha histórica sobre Hamlet do génio da literatura Universal William Shakespeare: Onde terá o génio ido buscar este enredo sombrio ... à História Dinamarquesa. Conforme a lenda de Hamlet - Cláudio, rei da Dinamarca, casou-se com a viúva de seu irmão, poucas semanas depois de haver assassinado este para lhe suceder no trono. Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us
Quando escrevemos uma carta a alguém para lhe dizer o que quer que seja - podendo fazê-lo pessoalmente ou por telefone - significa que algo está podre no reino da Dinamarca... Ao menos Freitas do Amaral deu uma grande e inteligente entrevista - mostrando ao País que ainda há quem pense política. Enfim, consequências do progresso.