segunda-feira

Impedir a corrupção das almas através da futebolítica...

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  • Referimos nos dois blogs anteriores que um dos vícios da política à portuguesa tem sido a instrumentalização hedionda que certos players do espaço mediático fazem para tomar de assalto o poder municipal, ou seja, na prática servem-se do futebol, do comentário desportivo e do fenómeno mais complexo que é a futebolítica para convencer as mentes alienadas de que o seu valor para as autarquias é inestimável, e assim lá conseguem iludir a turba que vota neles. Vota em pessoas que não têm vocação, nem perfil nem experiência para a gestão dos governos de proximidade, como são os governos autárquicos e o poder local em Portugal.
  • Perante isto, muitos portugueses já se interrogaram acerca da melhor forma de pôr termo a esta corrupção de almas - em que certos autarcas deste país - que fazem promessas descaradas aos munícipes antes das eleições e depois nem sequer realizam 10% dessa quota de promessas - remetendo o que falta para o mandato seguinte. Foi o que fez - abusivamente o sr. dr. Seara no debate da SIC com João Soares da semana passada. Julgamos que João Soares em Lisboa, nunca chegou a esse descrédito e, ainda por cima, perdeu Lisboa para um dos maiores logros políticos post-25 de Abril que volta e meia vem à tona em Portugal, o dr. Lopes.
  • Este tipo de pessoas e de comportamentos políticos são, precisamente, os que ajudam a política a entrar nos caminhos do descrédito, a entrar pelas ruas da amargura e, portanto, contribui para afastar ainda mais os eleitores dos eleitos - sinalizando preocupantes taxas de abstenção em Portugal.
  • Por isso, quando vejo 3 min. dos comentários futebolíticos do dr. Seara na TV - antes de enjoar ainda consigo estabilizar alguns raciocínios que aqui partilho com o ciber-leitor. Desde logo, começo por dizer que em política algo de semelhante sucede ao que se passa com as moscas quando estas chocam com a janela. Ou seja, elas não percebem porque é que não passam para o lado de lá do vidro. Há tempos isto passou-se comigo quando bati o meu récord (em 15 min.) ao assistir aquele programa desportivo em que colaboram os "searas" e companhia... Depois percebi que estava a ficar alienado, desmiolado, estupidificado.. Algo em mim me dizia que aquilo era nefasto, pernicioso, vazio, narcísico, verdadeiramente inerte, execrável - e, apesar de tudo isso - deixei-me chegar até aos 15 min., uma eternidade. Parece que tinha perdido a força para fazer zapping e emigrar para um programa menos humilhante, menos aviltante do ponto de vista formal e de conteúdo.
  • Foi então que acordei e disse para comigo: "tens de deixar imediatamente de ser mosca"... Mas percebi que não era só eu a arcar com aquela alienação medonha dos "senhores da bola". Eram milhares de pessoas - que não íam já até aos 15 minutos mas consumiam aquela droga do início ao fim. Hoje interrogo-me como essa pobre gente ainda não morreu de overdose de mau gosto..., que dá cabo da coesão familiar e da sã convivência entre amigos...
  • Em face do exposto, há uma questão que se deve colocar: como impedir que em democracia essa sedução da futebolítica se adapte a qualquer circunstância do mercado político dominado por consumidores de "comentários desportivos oriundos da futebolítica" - que garantem e reforçam o potencial político desses players que instrumentalizam o futebol (e a notoriedade que ele proporciona) em nome de interesses e de ambições pessoais depois mais ou menos sufragadas pelos partidos do poder??? Como impedir esses quistos em plena democracia?
  • Parece-nos que esta é a grande questão de molde a evitar que não hajam muitos e diversificados cancros na nossa vida política, maxime ao nível do poder local - como hoje parecem proliferar de Norte a Sul do país...
  • Libertemo-nos dessa canga - de que o dr. Seara é apenas um exemplo mais visível porque o Benfica tem uma identidade e uma história ligada ao Glorioso. Pois, quando o povo e o eleitorado português fôr um pouco mais evoluído, ié, menos alienado as percepções e as avaliações de risco mudarão... Mas para isso há que defenir um novo quadro de responsabilidade política - o qual terá de passar a propor também um novo tipo de "produto" totalmente liberto das contingências do mercado político que, neste caso - se alimenta e retro-alimenta dessa corrupção d'almas que o fenómeno da futebolítica tem promovido em Portugal.
  • Não se admite é que os partidos políticos conquistem o poder sem se comprometer verdadeiramente com uma espécie de contrato-programa verdadeiramente credível, exequível e transparente. Um contrato político sério, onde o autarca (ou o candidato a tal) seja proibido de fazer demagogia barata - servindo-se, para o efeito, da popularidade do comentário desportivo que o mantém à tona da política - que lhes permitem penetrar no subconsciente das populações de modo a que quando votam é impossível esquecerem-se daquelas caras (medonhas).
  • Em suma, a esfera política deverá urgentemente passar a adoptar alguma da boa metodologia que certos hospitais mundo fora já desenvolvem na sua gestão corrente. Com isto não se pretende dizer ou alterar a natureza e finalidade dos hospitais, mas antes questionar o modo como eles são geridos em ordem cumprir as suas efectivas obrigações.
  • Na política - central e local - a coisa deveria afinar pelo mesmo diapasão. Pois sabemos que os hospitais na Europa do Norte funcionam eficazmente - ficando todos satisfeitos - utentes e prestadores de serviços. Mas nos países latinos - em que os jogos de futebol e os interesses (financeiros, comerciais e imobiliários) que giram em seu torno são o cancro colectivo que contribui para alienar boa parte das pessoas - adopta-se a determinação ( e a "mobilização) do funcionalismo público...
  • Por mim, quando vejo aqueles programas de comentário desportivo de 3ª categoria desligo imediatamente. Mas não sem antes fazer o seguinte juízo: aqueles sujeitos que estão para ali a debitar verborreia - como a generalidade dos cidadãos faz a partir dos seus sofás - são os verdadeiros oficiais do poder: estáticos, alienantes e inamovíveis. Depois, continuam a ir para a TV mandar perdigotos às pessoas na esperança de que os consumam...
  • Mas será que o "searas da futebolítica" em Portugal não têm assessores de imagem que lhes digam: "é pá vão-se embora e não apareçam mais, sob pena de continuarem a botar mais porcaria no ventilador. Porque não se dedicam eles a um concurso de matraquilhos... Assim, poderiam sujar as mãos à vontade, a cara também - mas não envolveriam milhares de pessoas - populações inteiras - que vivem na miséria - isolados e sem transportes, sem acesso à cultura e aos bens de 1ª necessidade que municípios supostamente cosmopolitas como Sintra deveriam assegurar. Mas não!!! O que o dr. Seara assegurou - neste 4 anos de gestão indigesta - foi tão somente a eficaz colocação de várias dúzias de compadres políticos sem que com isso - mostrasse uma obrazinha de jeito em benefício das populações. Bolas, até a Edite faria melhor com um simples concurso de gramática...
  • Confesso não aceitar - como cidadão preocupado com a qualidade técnica, cultural e moral da política a que chegámos - que o PSD não disponha de um melhor candidato para Sintra. Um candidato do PSD genuinamente interclassista, e não um actor do CDS disfarçado de PSD - que tem um patológico tique elitista que o impede de ser verdadeiramente um autarca que governa para todos naquele concelho tão grande quanto problemático. A segurança nos comboios da linha de Sintra - é, apenas, um exemplo de como aquele autarca não serve para a liderança do Município de Sintra. Ou talvez servisse se, um dia, um familiar seu tivesse o azar de cair nas mãos daqueles bandos da Cova da Moura que fazem dos transportes públicos uma verdadeira selva da naifa em busca de uns cobres que roubam vilmente às pessoas inocentes que, cansadas e frustradas, regressam a casa depois de um dia de trabalho. É óbvio que o actual autarca de Sintra reconhece esta situação, mas não a sente verdadeiramente como um problema seu ou de um familiar. Será que ele já andou de comboio sem ser por altura daqueles momentos solenes em que as composições vão repletas de ministros e secretários de Estado???!!! À avaliar pelas suas (inexistentes) políticas de segurança - cremos que não ...
  • Confesso, sinceramente, e sem querer ser ofensivo - que a democracia portuguesa merecia pessoas melhores, ideias melhores, projectos melhores, tudo melhor...
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