quinta-feira

O prefácio por - Francisco Sarsfield Cabral

Image Hosted by ImageShack.us Prefácio por Francisco Sarsfield Cabral
  • Faz sentido coligir em livro artigos que comentam a actualidade e que foram inicialmente publicados em jornais? Como jornalista e comentador tenho feito muitas vezes esta pergunta a mim próprio. A dúvida tem a ver com que, entre a saída num jornal e o aparecimento do livro, medeia necessariamente algum tempo, no decurso do qual se desvanece uma série de referências. O leitor do jornal possui essas referências, dada a actualidade do artigo. Quando este sai em livro, o respectivo leitor terá muitas vezes de fazer um esforço para reconstituir a situação que originou o comentário e sem a qual o texto perde uma parte do seu sentido.
  • Penso que este risco é mínimo nos artigos do Doutor Rui Matos. É que, embora escritos para jornais e com um agudo sentido de actualidade, tais artigos tomam sempre uma considerável distância face aos assuntos abordados, procurando – e regra geral conseguindo – perspectivá-los e colocá-los num plano de abstracção que transcende o circunstancialismo de ocasião. Naturalmente que não faz isto quem quer: para tal é indispensável uma bagagem cultural e uma capacidade de descobrir o geral no particular que não são comuns, mas que Rui Matos possui em grau apreciável. Essa foi uma das razões em função das quais aplaudi a publicação desta colectânea de textos. Há muito neles para aprendermos, hoje.
  • Um outro motivo para ter encorajado a organização deste livro é de carácter mais pessoal: os temas de que o autor se ocupa são, em larga medida, aqueles que mais me interessam. Assuntos internacionais e nacionais, problemas de política, de economia, de comunicação, de cultura, de ambiente e sobretudo de sociologia. Uma atenção especial é dada aqui às questões do nosso tempo, como sejam a sociedade do conhecimento, a globalização, as ONGs, a soberania dos Estados e a integração europeia. Ora reflectir sobre a novidade, aquilo que muda ou apenas esboça uma mudança, é extremamente estimulante. E nunca se faz isoladamente: ler os textos de Rui Matos é entrar num diálogo exigente e que não tem fim à vista.
  • Sem querer puxar a brasa à minha sardinha de jornalista, penso que atitude de Rui Paula de Matos tem algo daquilo que é o melhor do jornalismo: o interesse pelo real, a curiosidade de perceber o que acontece e porque acontece, o desafio de tentar encontrar tendências, direcções, significados, no turbilhão das notícias com que, hoje, todos somos agredidos. E isto, note-se, sem nada perder do estatuto de académico ilustre que é o seu. Pelo contrário: Rui Matos usa a sua cultura e o seu saber para pensar a actualidade em permanente evolução. Por isso nos ajuda a compreender o mundo em que vivemos. Por isso lhe estou grato.
Francisco Sarsfield Cabral. (Director da Rádio Renascença)
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