Diogo Freitas do Amaral e a alta diplomacia. Um homem de Estado
- Diogo Freitas do Amaral foi hoje à RTP dar uma lição de diplomacia, de política (doméstica e internacional), de história, de relações internacionais, de direito comunitário, de estratégia negocial, de direito comunitário, de ética e, claro, pelo caminho, chamou garoto a Paulo Portas com a "estória" da fotografia do Caldas. Uma "criancice", disse. Freitas foi igual a ele próprio: um homem de Estado, um eminente académico, um grande português, um exímio comunicador.
- Foi coerente com tudo: com a política internacional, designadamente com a posição norte-americana no Iraque. Foi G. W. Bush quem mudou e evoluíu para uma posição mais consentânea com o direito internacional e com a diplomacia multilateral. Só os facciosos do PP e alguns obtusos do PSD é que não percebem este B-A-BÁ da alta diplomacia. Do BE nem valerá apenas falar, a sua posição ainda é mais radical do que a do PCP -: a América é um satã, sempre e em todo o lado, e pronto(s)!!! O homem já está convidado pela Rice... Teve 10 datas à escolha... Isto é obra. E aposto que lhe leva um seu Manual de Direito Administrativo para ela, com o seguinte autógrafo: para a Condoleza Rice - do principal discípulo do Marcelo Caetano e maior sumidade em Direito Administrativo e grande equilibrista de Portugal. Teu, perdão -
- Em matéria comunitária ou as perspectivas financeiras de 2007-2012 do III Quadro comunitário são interessantes para Portugal ou o veto começa a gatinhar sobre a mesa das negociações. Portugal impõe-se com unhas e dentes, mostrando como uma pequena potência política pode ser uma grande potência diplomática, e tem trunfos teóricos para se bater por essa posição de alguma rigidez negocial. tem números, mas não os revela. Manteve o segredo q.b. Foi de mestre. Hitchcok não faria melhor. E Poirot ficaria incomodado.
- A diplomacia económica vai agora substituir a diplomacia do croquete de Jaime Gama e de Durão Barroso. Freitas quer cruzar várias linhas de diplomacia económica para os 3A: África, América Latina e Ásia. E também captar as atenções dos países do golfo pérsico onde há imenso capital mal parado. Freitas, de facto, sabe da poda. O homem domina bem os meandros dos negócios, especialmente em matéria de petróleos e derivados, sabe como os captar e julgo até - que irá depois abrir um programa de doutoramento na Universidade do Porto para ajudar o dr. Miguel Cadilhe (que repete o engº Belmiro ou o contrário) - que agora anda a dizer mal do Cavaco - a compreender o óbvio: como se captura investimento directo do exterior. É que Cadilhe fala, fala, fala, mas não faz nada. Freitas disse-nos hoje o que fazer, como fazer, onde e quando. Deu o mapa, só falta tempo para o executar.
- Deu ainda uma poderosa ajuda ao PM e ao Ministro de Estado e das Finanças - puxando pela economia e subscrevendo posições difíceis que ambos tomaram, designadamente em matéria fiscal e de finanças públicas. Explicando as medidas ajudou o governo na sua globalidade, e retirou espaço de crítica à oposição. Luís Marques Mendes deverá ter pensado: "um Freitas daqueles é que me fazia jeito no meu grupo parlamentar"... Louçã e Jerónimo devem ter pensado o costume: "é um vendido ao kapital, e agora é um discípulo do nazi G. W. Bush. Já está enfeudado à América outra vez. Traidor, hipócrita etc e tal... Mais umas lérias do marxismo-trostskismo da área.
- Que mais???. Ah, Freitas trabalha 16 h. por dia. Por isso está mais magro. E com mais cabelos brancos - que lhe ficam muito, por sinal. Mas faz a coisa com gosto. Muito gosto. Até deu gosto ver o gosto dele. O homem está feliz. Muito feliz. Ver isto num país a agonizar ou é loucura ou é razão, ou ambas as coisas.
- Falou de Cavaco e das presidenciais para afirmar a sua putativa neutralidade, por dever de solidariedade e de fidelidade - quer ao PS quer a Cavaco. Foi bonito. Pelo menos Freitas consegue fazer estes equilibrismos sem a hipocrisia espalhafatosa do Paulinho das Feiras - que em iguais circunstâncias, até faria a teleobjectiva da câmara chorar a rir com tanto teatro. Dito pela boca de Freitas até acreditei. Mas também acreditei noutra coisa, que terá, porventura, escapado num ou noutro sorriso - denunciado pelas traições do rosto: poderá até ser ele o próximo candidato à Presidência da República. Depois de ter afirmado que fez mais em 2 meses do que Sampaio em 10. Basta que a esposa de Cavaco se oponha para Cavaco não avançar. Vitorino não se sente à vontade em Belém, ainda não terá ultrapassado o complexo da altura. E Manuel Alegre será um candidato perfeitamente derrotável. Alegre é passado. Passado e prosa - para leitor dos 50 anos para cima. Pode ser que ainda vejamos uma compita entre Freitas (pela esquerda) e Marcelo Rebelo de Sousa (apoiado pela direita - inclusive por Cavaco - que aparecerá de mão dada com a sua Maria na campanha eleitoral, descendo a Av. da Liberdade...). Seria giro... Com santana Lopes a chorar nos bancos da escadaria do cinema S. Jorge na Avenida - repetindo a frase: é uma injustiça, é uma injustiça, é uma injustiça... Ladeado por Gomes da Selva - a ampará-lo com lenços clinex e soletrando a habitual verborreia: é mais uma cabala, é mais uma cabala...Desta vez, uma cabala subjectiva!!!
- Diplomacia económica, perspectivas comunitárias, política internacional, América, mundo, referendo, política doméstica, ética, história (até poesia...que a Judite quase...) - o homem não cometeu nenhum deslize. Pelo menos que eu visse. E eu nem sequer estou a ser avençado para escrever estas coisas. Pois se o estivesse, talvez não faria tão bem. Brincadeiras à parte, Diogo foi à RTP dar mais uma lição ao país. Deve dar imenso gozo entrevistar aquele homem. Especialmente porque dá um tremendo prazer ouvi-lo. Ainda é mais lógico do que os artigos do sr. Arqº José A. Saraiva do Expresso - que lhe parece ter chamado conservador há 3 décadas... Nesse tempo, o homem não tinha cabelos brancos, apesar de poder já sonhar vir a ser MNE de um governo socialista.
- Não se esqueçam que Freitas é do velho partido com a bola ao Centro - e com as duas setas a convergir para aí. Ora isso quer dizer isso mesmo: uma boa amante é como a face de Janus - olha para leste e para oeste at the same time... E ora vai com um, ora vai com o outro - mas sempre ao serviço da Nação, de Portugal.
- Mas o que Freitas foi ali fazer ainda está por dizer, e é o seguinte. Com efeito, Sócrates encarrega "Coelhone" de dizer umas pataculadas quando vai ao Algarve e viaja pelo Norte de Portugal. Ele esfrangalha a gramática, promete ananases na terra, tomates na lua, hospitais sobre escolas, escolas sobre hospitais, hospitais e escolas dentro de universidades, campos de golfe no meio de sobreiros (com porcos à mistura pastando bolota), campos da bola dentro de refeitórios de lares para a 3ª idade e o mais. Pelo caminho exalta-se e faz lembrar Nikita Kruchev num belo dia na já longíqua década de 60 - quando discursava na Assembleia Geral da ONU e sacou do sapato e começou a bater com ele no púlpito donde discursava. Ora assim é Jorge Coelho - quando anda por aí. Coelho é a versão moderna de Nikita. E assim ele vai dizendo umas coisas que Sócrates lhe sopra de véspera. Só que depois o PM tem uma pessoa de folego maior, como Freitas - a quem é pedido um serviço de Relações Públicas mais aprimorado, mais fino, mais polido. E isso Freitas faz na perfeição. Com método, com rigor, com ciência e com muita geometria. Sempre em movimento.
- Freitas é um Public Relations extremoso, extraordináriamente eficaz. E fez na RTP aquilo que o governo todo não consegue fazer em 10 conselhos de ministros - quando comunica ao país as suas medidas políticas. No fundo, o homem parecia o Primeiro-Ministro a falar do Ministro dos Negócios Estrangeiros. Por momentos, pensei que ele era o PM e Sócrates o MNE. Constatei que a troca não seria nada má para a nação. Mas ainda é cedo para avaliar, e Sócrates vai no bom caminho, sempre ouvindo o bom conselho do amigo Freitas, que sabe muito de direito do ambiente. Desde então a amizade consolidou-se, e ainda bem.
- Em suma: Diogo foi à RTP reinterpretar a história e afirmar que os Descobrimentos portugueses ainda estão por fazer. Que temos agora mais influência no mundo do que jamais tivémos. Exemplificou isso com pedidos de porta-vox de interesses africanos e sul-americanos na UE... Fiquei cilindrado com o fulgor do homem, confesso.
- Com um discurso tão brilhante quanto simples, de modo a que ricos e pobres, letrados e não letrados o percebessem. Fez o pleno. Foi, na prática, um verdadeiro diplomata. Um Tailleyrand do do séc. XXI. Um Kissinger do III milénio. Mas sem as mulheres loiras ao lado, ok (tão do gosto do Henry Albert... que depois rematava que o Poder era o maior dos afrodisíacos). Já que afirmou ali ante os olhos do país os elementos constitutivos da arte diplomática:
- Freitas - "estás" de Parabéns. Há muito, confesso, que não sentia orgulho em ser português. Afinal, o Diogo afirmou aos milhões de portugueses que o viram e ouviram com atenção o seguinte: a credibilidade é como a virgindade. Uma perdida perdida nunca mais...
- E assim é nos negócios, na captação de investimento, na geração de poupança, na consistência das políticas públicas, nas relações pessoais, etc. Mesmo que tudo aquilo seja depois vento que passa e pouco do anunciado se concretize, julgo que se tratou de um grande momento de televisão e de comunicação pública ao país. Um retrato de Freitas - a somar às já inúmeras biografias que o caracterizam. Viva Portugal.
- Freitas para Belém!!!
- O Cavaco que se cuide.
- E Marcelo que pense bem...
- Ao Vitorino bastam os microfones da Judite às 3feiras à noite - onde procura imitar o Marcelo. Anda perto, mas se esbracejar menos fica mais autentico e, assim, não dá tanto a sensação de que vai partir o estúdio todo depois de ter esganado o pescoço da Judite. E eu pergunto porquê? Já que ela foi sempre tão simpática...
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