segunda-feira

O Papa - Homo Futurus...

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  • O tempo é o espaço onde decorrem as coisas, como dizia Sto. Agostinho. E João Paulo II integrou o tempo do meu espaço no espaço do meu tempo nestes últimos 27 anos. Cresci com ele, que foi o nosso Pai universal. Assim, junto-me aos que procuram compreender a razão do seu legado, o qual pode significar o alfa e o ómega (Ω) na vida dos mais crentes. Conhecemos já a sua importância religiosa, evangelizadora e política. As voltas que deu ao mundo, falando em nome dos que não têm vox, acelerando a queda do Muro de Berlim coadjuvando a perestroika e a democratização do Leste europeu, numa revolução política sem precedentes no séc. XX.
  • Os 3A - África, Ásia, América Latina - estiveram sempre no seu horizonte, aproximando culturas, economias e religiões desavindas, tentando pacificar a turbulência do mundo pós Guerra-Fria.
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  • Tudo isso é sabido pela história e registado pelas múltiplas biografias. Mas o que aqui priorizo é a sua dimensão espiritual. I.é, creio que a busca da verdade, o desenvolvimento de qualquer investigação, o conhecimento de qualquer empresa humana, é um acto sagrado. Consciente ou inconscientemente, uma aproximação a Deus. Eis como me habituei a ver o Papa. Um homem que se revelou excepcional e tentou melhorar a convivência global, mudando o feitio do mundo, tornando tudo mais pacífico e perfeito. Veio várias vezes a Portugal, e a Fátima em particular, e de todas elas mostrou que o céu não é um sítio, mas um estado d’alma. Será? Obrigava-me a reflectir sempre que o via.
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  • O seu traço espiritualista, simbolista, místico, neo-cristão caldeava-o num movimento cultural que usava em favor do progresso material e espiritual dos mais pobres. Além dessas bengaladas espistemológicas, que surpreendia até a própria Igreja, não me admirava nada que um dia, se tivesse de ser, roubaria aos pais para dar pão aos pobres e, de tanto amor que tinha para dar, até se abraçava às árvores, a exemplo de S. Francisco de Assis. Foi esse universalismo ou globalização personalista que coincidiu com o que chamámos globalismo cultural emergente. Uma lição moral e de bondade para o mundo em vista a erradicar as condições objectivas e subjectivas que perpetuam as prisões que encerram a pessoa humana.
  • Era assim que o via. Um libertador do cone do tempo, mostrando que tudo que sobe converge, como diria o Pre. Chardin. Era já um santo feito homem, alargando os meus horizontes, ante a crise moral, económica e civilizacional do nosso tempo. Via-o como um ser imune à dor, em correspondência directa com a Divindade, em êxtase e conhecedor do futuro. Sabia, como Savonarola, que o 1º instrumento da tirania é a corrupção dos súbditos, por isso diligenciava pela Liberdade, inoculando a sua santidade evangélica no coração dos homens. Tentou fazer isso em África, na Ásia e até em Cuba onde, apesar do trambolhão do ditador Fidel Castro, não conseguiu incluir o povo nos negócios políticos.
  • No fundo, integrou o Homem no mapa genético da Humanidade, roubaria para edificar capelas e dar pão aos pobres, e por eles abdicou de tudo: ouro, status, poder mas não a autoridade da mensagem com que se fazia ouvir transformando-nos a todos em pequenos reis, nesta nossa breve passagem na curva do tempo. Ultimamente, quando o via pela TV, pensava: tudo é vento que passa, e na muita sabedoria há muita tristeza, e o que aumenta a sua ciência, aumenta a sua dor, num elogio a Eclesiastes.
  • O Papa, em suma, deixou-me uma forte mensagem. É que nesse cone do tempo podemos sempre edificar uma visão evolutiva da Vida e do Universo. Uma visão cosmobiológica que inclui 3 fases: a pré-vida animada pela energia pré-atómica; a Vida; e o trans-humano, o homo-futuros, enfim, a espiritualização que incorporamos, resultado da educação, da cultura e dos factores psíquicos. Tudo isso nos dá a busca de Deus no mundo, e a evolução até lá é essa sublimação espiritual que ascende ao ponto Ω das nossas existências.
  • Todos nós podemos escolher entre a evolução e a destruição, entre a divergência-convergência-emergência. Ao assumirmos essa humanidade comunitária, antecâmara do ponto Ω, quem não desejaria, como João Paulo II, ascender a um estádio ultra-humano, em convergência com o Universo, que nos permita a todos ser íntimos de Deus?! Sermos o tal Homo Futurus, num pensamento superior chamado noosfera, tocando as estrelas .
  • Provavelmente, nunca ninguém no séc. XX contribuiu tanto para humanizar e personalizar as relações humanas como João Paulo II. Ele recriou os fundamentos da sociedade internacional, acreditando sempre na paz, mesmo quando a guerra se fazia ouvir. Recriou estruturas, dinâmicas de cooperação e de apaziguação de conflitos por todo o mundo, enfim, pela mensagem de inspiração divina examinou o homem, tentando aperfeiçoá-lo. Foi, pois, esse processo em virtude do qual são questionados os fundamentos do homem - em vida na sociedade - que se chamou reflexividade. João Paulo II, pelo seu majistério, obrigou-nos a participar dessa reflexividade - dando-nos a possibilidade de melhorarmos a transição do capitalismo selvagem - que ainda está em curso - para um regime - que ainda não se sabe o que é - mas que terá de atender mais às necessidades do homem.
  • Nesse sentido, o Papa João Paulo II foi um antecipador, um adaptador na organização dessa reflexividade social difusa, potenciada pelos media - que desempenharam um papel de amplificador da sua mensagem, da sua agenda evangelizadora, social e política, alimentado-a sempre com novos conteúdos e oferendo à tribuna da opinião pública global um sentido, uma mensagem, uma missão. A missão de Paz e Amor que o Papa nos deixou e que nós, todos nós, teremos de saber honrar, aproveitar e potenciar junto das gerações vindouras.
  • Por isso, o Adeus é até sempre...
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