Macro de grande, skopein de observar: observar o infinitamente grande e complexo. Tentar perceber por que razão a ave vive fascinada pela serpente que a paralisa e, afinal, faz dela a sua presa.
sábado
Jesus Cristo feito Homem... Ele passou por cá, disfarçado de homem
Tudo o que se possa dizer sobre João Paulo, sucessor de Pedro, é sempre pouco. Fica sempre aquém da sua dimensão como homem extraordinário, que serviu a igreja e fez mais pelo mundo nestes últimos 30 anos do que políticos, empresários e financeiros durantes séculos.
Foi um peregrino excepcional, visitou quase todos os países do mundo, falando sempre em nome dos mais pobres, dos que não têm vox. Puxou por África, pela América Latina, reformou o Leste europeu - então satelizado ao império soviético, que acabou por ruir - sob sua influência e patrocínio. Aliado tácito de Gorby - que depois sucumbiu aos ideias da revolução socialista - que acaba sempre por engolir os seus próprios filhos.
Aproximou culturas e religiões desavindas, continentes, criticou o comunismo colectivista do mesmo modo que censurou o capitalismo selvagem, que hoje produz gente feliz com lágrimas. Foi, de facto, um homem sobredimensionado que soube viver no seu tempo e acompanhar as tecnologias das informação e da comunicação, um ser verdadeiramente globalizado, no sentido mais personalista, justicialista e desenvolvimentista do termo.
Criou uma liderança moral que se confundia com a esfera política, mediava, reformou aspectos internos da igreja, adorou Fátima e teve vários cuidados para com Portugal. Enfim, era um Papa da Polónia que só podia ser do mundo, cosmopolita por natura. Anti-guerra, porque sabia o que isso significava no seu país, mal estacionado, e recorrentemente esbulhado e ocupado pela Alemanha nazi e pela Rússia soviética. Uma amputação que depois se transformou numa força moral que colocou ao serviço do mundo.
Um poliglota, era amor em movimento, tinha carisma, fascinava, enfim, era um santo que, se pudesse, até abraçava as árvores como dádiva de Deus. Tanto era o seu amor para dar ao mundo. O seu sentido de missão e de permanente serviço ao outro, mesmo perante a limitação e o sofrimento da doença, é uma lição de resistência e abnegação - revelando o seu estoicismo perante a adversidade.
Enfim, quero crer que hoje um homem fascinante ressuscitou e já se encontra nos aposentos que Jesus Cristo - Pai, Filho e Espírito Santo - a Trindade lhe reservou. O seu magnetismo deixou-nos uma energia especial, a de crer que podemos sempre melhorar a nossa relação com o outro - no domínio da amizade, do trabalho, da fé, da família, da política, da empresa, enfim, na globalidade das relações há que trilhar a senda do melhorismo, do perfeccionismo. Até porque a guerra começa sempre no coração dos homens.
Quero crer - que um dos seus legados, difíceis de sintetizar, é o de humanizar as relações entre os homens, independentemente da raça, da religião, da condição económica e social. Doravante, com esta tremenda perda, o mundo - se o quiser homenagear - poderá (e deverá) continuar a sua tarefa de aproximação entre os homens, culturas e povos. Se o conseguirmos, por pouco que seja, então poderemos dizer que valeu a pena a interiorização do seu legado de paz e de amor. Começando, desde já, por aplacar as diferenças que ainda (dramáticamente) separam os palestinos (que buscam um território para construir um Estado) - dos israelitas com quem estão em guerra há décadas.
Talvez aqui se jogue um dos primeiros desafios para ver se valeu a pena o Papa João Paulo II ter-se sacrificado tanto por essa tão desejada paz.
Costuma-se dizer si vis pacem para bellum, ou seja, se queres a paz prepara-te para a guerra. Só que "guerra" que o sucessor de Pedro nos legou, porventura a personalidade mais importante do último século, é feita de argumentos cimentados na razão, na lógica, na bondade, no AMOR - fonte de tudo, o alfa e o omega da vida. E é com essas armas da paz, porque não somos animais, que o devemos recordar, seguir e promover. Promovendo-nos também a nós próprios, que deveremos ser exemplos para os nossoas filhos e netos.
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