PSL, a formiga e o avião
Cada vez fico mais estupefacto com as reacções completamente irracionais de um homem que ainda é 1º ministro e está, definitivamente, a deixar este País à beira de um ataque de nervos.
Vejamos os factos:
1) aquele figurante da política, ainda PM, resolveu interromper um dia de campanha para fazer ainda mais campanha. Desta vez por omissão e com uma factura de uns milhares de euros para debitar aos portugueses;
2) e o que foi ele fazer de Falcon a Monte Real? Apresentar um projecto infra-estruturante para a região? Fazer uma conferência temática sobre algo de interesse público e com incidência regional?
3) Nada: nem uma coisa nem outra. Cumprimentou uns militares de serviço que lhe bateram a pala, e fez-se acompanhar da srª Ministra da Tecnologia – que o acompanha para todo o lado, especialmente desde que foi publicamente vista a chorar aquando da demissão do governo, após o Presidente da República ter demitido a Assembleia da República.
Depois convida os jornalistas a ir aos jardins de São Bento assistir a uma prédica sobre as origens do Carnaval. Depois ainda, numa pose de boîte, apresenta-se numa poltrona a justificar o dia que teve e alinhou as seguintes ideias:
1) diz que foi de Falcon a M. Real – porque se fosse de carro ninguém o via…
2) diz que não gosta de andar nas ruas a dar sacos, aventais (não são os da maçonaria) nem bandeiras do PsD aos transeuntes, deixando antever que também já não tem pachorra para beijar os velhos e os ranhosos do Portugal profundo que - com ele à frente do País - ainda empobreceu mais;
3) Depois leu um papel referente a uma inauguração de Sócrates no passado recente, quando o mesmo interrompeu a campanha eleitoral para inaugural uma infra-estrutura de interesse público.
Confesso que tudo isto é aterrador. Um descontrole emocional sem terapia à vista. Aviltante para o povo português. Uma ofensa pública (e em directo) com direito a indemnização por danos materiais e morais. Um esbulho aos impostos da colectividade sem que daí resulte qualquer contrapartida para a República. Muitos portugueses, segundo consta, pensam já em interpor uma acção em Bruxelas para reclamar aquela indemnização, e muitos outros falam mesmo em violação do direito ao bom nome, já que aquela conduta ofendeu 10 milhões de portugueses em directo.
Ora é perante este absurdo, que surpreenderia o próprio Franz Kafka, que invoco aquele formiga que está a percorrer um trajecto de areia. À medida que anda, traça uma linha na areia. Por puro acaso, a linha que ela traça curva de tal modo que desenha uma caricatura reconhecível de S. Lopes. A formiga traçou um desenho de Lopes, um desenho que o retrata.
Mas a formiga, afinal, nunca viu Lopes, ou mesmo um seu retrato, e não tinha intenção de o retratar.
Admitamos, agora, que a formiga tinha vista Lopes, e suponha-se que ela tinha a inteligência e a habilidade para desenhar um retrato dele. Suponha-se, pois, que a formiga produziu a caricatura intencionalmente. Nesse caso, a formiga representaria Lopes.
Porém, se foi apenas um acaso inexplicável a formiga acabou, sem querer, por lhe imprimir um rosto, o mesmo que ficará impresso nos livros de história, quando se fizer o arquivo negro destes meses de desgovernação que deixaram Portugal ingovernável, sem prestígio, mais pobre, enfim, menos produtivo e competitivo em todas as áreas e indicadores de desenvolvimento humano. Resultado: afastámo-nos da Europa - para onde era suposto convergirmos.
Doravante, quando os alunos do Secundário quiserem perceber a dimensão deste caos, feito de anarquia pegada, cheio de peripécias rocambulescas que hoje já não ocorrem em África, terão de recorrer à representação da formiga traçada no pedaço de areia, que passará a ser estampada na maioria dos livros escolares que formarão o imaginário das futuras gerações. Julga-se, assim, que ao lado de Lopes e do Falcon aparecerá o trajecto da formiga inteligente que, com ou sem intencionalidade, desenhou a sua caricatura. A caricatura do Portugal em que nos tornámos, depois do incêndio pegado por Barroso quando partiu para Bruxelas, em busca de mais prestígio para o seu ego e de um salário cinco vezes maior. Portugal, por contraponto, só perdeu. E perdeu muito. Tanto que não o podemos (ainda) quantificar.
Em face do que já conhecemos da performance política, económica e social do “artista”, de quem cheguei até a nutrir alguma simpatia tauromáquica, constato, hoje, que a formiga sabia o que fazia quando traçou aquelas linhas e curvas na areia. Os “pensamentos” da formiga têm características de intencionalidade e representam, por outro lado, um contributo inestimável (derivado) para o conceito de representação política.
Doravante, quando um português quiser deslocar-se ao Norte para ver um aeroporto é bom que o faça de avião, porque de carro arrisca-se a não ser visto... Será que ouvi bem??? Será isto um pesadelo!? Será um mero jogo de racionalidade importado do livro do Maria Carrilho!?
Afinal, estamos em África!? Ou até já este tipo de representações, atitudes e comportamentos pessoais (que pretendem ter ressonâncias e objectivos politiqueiros) ofenderiam qualquer população dos trópicos?
O absurdo virou norma. Já não é excepção. Infelizmente, este problema já não remete apenas para o jogo semântico de qualquer disciplina de semiótica. Os poderes misteriosos da formiga, são, afinal, muito reais. Mais reais do que a própria realidade. Isto é impensável e imperdoável.
A menos que a formiga também tenha viajado naquele avião e pisado o tapete vermelho depois de escorrer os lábios do champagne.… E o traço na areia caricaturando Lopes não foi senão um sopro mágico de Cavaco que, por uma qualquer conexão mágica, consegue desenhar linhas na areia e pontilhar cartografias em mapas de água…
- Aqui poderá encontrar uma leitura possível, ou provável, do absurdo, agora em versão lusa.
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