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Empobrecimento do debate público - visto por Francisco Sarsfield Cabral

. Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us A Teoria da Justiça (Rawls) ou a partilha dos egoísmos FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
  • Empobrecimento do debate público
Esta reflexão de Francisco Sarsfield Cabral, economista e um conhecido jornalista de temas políticos e económicos, representa eficientemente o estado (da política) a que chegámos. Directa ou indirectamente, aquele especialista em temas económicos, coloca o “dedo na ferida”, explicando porque razão o debate político em Portugal é tão pobre. E, hoje, acrescentaria eu, tão soes e rasteiro, à falta de melhor ideia para a compita eleitoral. Recorre ao método contratualista de Rawls para sustentar a sua posição. Nessa óptica, as pessoas não se podem entender sobre as questões substantivas, mas tão sómente são susceptíveis de concordar sobre um conjunto genérico de questões agendadas pelos aparelhos partidários, as quais nem sempre reflectem concepções da vida privada das pessoas ou de ética pública deixando, assim, muito do essencial de fora do debate político e, de caminho, gerando inúmeros conflitos e divisões na sociedade. Daí a regra tácita de não se falar publicamente de certos temas, desde a religião até à maneira como cada um encara o mundo e a vida, diz Francisco Sarsfield Cabral. Naturalmente, isto implica uma factura pesada para a vida democrática nas nossas sociedades, na medida em que empobrece radicalmente o espaço público de debate. Descredibilizando a vida pública, as políticas sociais conexas e, de tudo resultando, um empobrecimento geral da democracia. Este empobrecimento de que o autor de AUTONOMIA PRIVADA E LIBERDADE POLÍTICA, (Fragmentos, 1988 - que aqui recomendo vivamente), nos fala encontra aplicação no conjunto de clivagens emergentes que a sociedade portuguesa vem acentuando: nacionalismo vs integração regional; segurança vs competição; iniciativa privada vs dirigismo estatal; solidariedade vs viabilidade são algumas das clivagens que intensificam os problemas de gestão política do Estado, que hoje tem de apaziguar e equilibrar os vários conflitos sociais e acertar na ideia sobre que modelo de desenvolvimento é o mais eficiente para o país. Por isso, a indicação que Francisco Sarsfield Cabral nos dá é útil, e tem o mérito de impedir que se analise aquelas clivagens isoladamente, pois hoje a operacionalidade da ordem política interna está cada vez mais dependente do que for a ordem comunitária e a ordem mundial. Uma e outra põem em causa a base essencial do poder do Estado nacional. Neste aspecto, a ruptura com a experiência do passado é total. Daí a oportunidade desta advertência, coadjuvada por J. Rawls e afinada depois por Sarsfield Cabral que, aqui, virtualmente, damos conta. Quem sabe, na esperança de que algum destes dias um daqueles figurantes do teatro político português leia esta nota e procure, em conformidade, agendar o agendável, e não ser apenas o autor do politicamente correcto – promovendo a alienação por recurso a um conjunto de ilusões que se paga caro no futuro.