domingo

Os partidos estão partidos, mesmo que coligados

Image Hosted by ImageShack.us>Image Hosted by ImageShack.us Os partidos estão partidos, mesmo que coliga... Hoje existe uma generalizada descrença na discussão pública. Em parte, resultante da incapacidade de liderar ou pensar publicamente. Ademais, aquilo que verdadeiramente interessa aos cidadãos, individualmente, é, efectivamente, a afirmação dos seus interesses particulares a par da afirmação intransigente dos seus valores, desde que tolerantes para com o tecido conjuntivo da sociedade. Assim, na prática, não há muitas discussões parlamentares que não sejam reduzidas a negócios ou entendimentos mais ou menos secretos entre os dois partidos da actual coligação. Mesmo sendo da área da social-democracia, apesar de não me rever nem um milímetro nesta liderança espectáculo, impreparada estruturalmente, que capturou o poder por causa das fraquezas e dos vícios duma democracia doente, não posso deixar de assinalar aquele autismo nos debates parlamentares dos últimos 6 meses. Além da descentralização virtual e de mais umas ameaças de reforma, o filme dos acontecimentos aponta as fraquezas da própria democracia liberal, hodierna, consumista, egoísta, caprichosa e repentista, tudo características consonantes com o estilo de “liderança” política em gestão que temos. Ora é esta (infeliz) coincidência, que encontra alguns paralelos na história da democracia liberal de Weimar. Por isso, destacamos aqui um traço comum desta história política tão lamentável quanto infeliz, esperemos que não trágica. É que os partidos surgem hoje já não como opiniões em discussão, mas alavancados por caciques locais que demoraram em média 9 anos para concluir um curso de direito (que mais não é do que um exame rigoroso à língua de Camões), por grupos de pressão, que traficam o poder económico, social e a influência – uns contra os outros, como irmãos às cabeçadas por causa dumas míseras partilhas de vasos e de árvores que fronteiram umas com as outras. Ora é isto que tenho visto, embora encapotadamente, entre estes dois partidos da coligação que desgovernam Portugal, fazendo dele um país adiado. Aquilo que é líquido nesta herança maquiavélica, sem ofensa para Nicolau, que era mais ingénuo e menos caprichoso e pérfido do que aqueles dirigentes. Os mesmos que hoje mais não fazem do que um sistemático cálculo de interesses e análise de custos-benefícios como se o país fosse uma coutada onde só vai gente rica. Felizmente, que também existe gente rica com muito nível, sabendo destrinçar um figurante dum político e excluir da vida política nacional todos aqueles esquemas pré-pensados para arrecadar o poder numa gaveta, e depois, à porta fechada, distribuir os seus dividendos com base na tal lógica "pré-post-coligacionista" típica dos vested interests do sr. P. Portas que tão bem dinamiza os oportunismos e os interesses que este gestação e acerto no centro direita que (ainda) conduz o país. Quando hoje penso a política à portuguesa gostaria de descortinar nela um índice de qualidade, de rasgo, de ideia ou projecto mobilizador para o país que não assentasse na salganhada do futebol tão do gosto do autarca de Sintra (que fez o trajecto para a política com apeadeiro prévio no comentário futebolítico), mas só encontro aparelhos partidários a berrar, gastando o dinheiro de todos nós na manutenção das estruturas de entretenimento onde repousam os maiores efeitos do teatro político, alimentado por um apelo sistemático aos interesses, às paixões e aos caprichos mais imediatos desta pobre nação. Quem pensa a política com lentes de investigador sabe que aqui o engano é mais difícil. E é assim porque a natureza da democracia liberal contemporânea se tornou, largamente, num regime de ideias e de práticas inquietante e oportunista. É-o sobretudo quando sabemos que a dialéctica política entre contendores não se faz com base na persuasão do opositor tendo por base uma verdade ou uma autêntica convicção, mas faz-se alicerçada na obsessão de ganhar a maioria para com ela dominar. Mesmo que essa vontade e capricho de mobilizar a comunidade não tenha nenhum sujeito constitutivo com base no qual se pense o Portugal contemporâneo. Estas eleições são, pois, a expressão máxima de que o homem só existe para ser regulado, mandado, mobilizado e acelerado em função de um processo que já não humanamente determinado. Desde a última semana tenho recebido, sem o pedir nem o desejar, dúzias de mensagens sms para o meu telemóvel por parte de pessoas ou de estruturas partidárias que não deviam sequer ter um telemóvel, quanto mais estar na vida política activa, directa ou indirectamente, para mal de todos nós. Por isso, quando tomo o pulso a este meu querido Portugal, só me apetece chorar e fugir. Mas também sei que se o fizer - aqueles outros mais incompetentes que assaltaram o poder para o transformar numa quinta privada das celebridades, se ficarão a rir…, continuando a destruir o nosso país. E isso, certamente, ainda dá mais vontade de chorar e de evasão. Mas é também por isso que devemos todos ficar. Ficar para ir votar, mesmo que estejamos no Hospital Stª Maria com as duas pernas partidas, a cabeça atada por fios e a ambulância, estacionada no átrio, com os quatro pneus furados perante o espanto alcoolizado do motorista - que perdeu as chaves - da dita.. E assim estamos nós. Assim está Portugal! Dependente e prisioneiro duma taberna que já não tem vinho, mas que todos os seus clientes estão - senão bêbados - pelo menos encontram-se alienados, esperando algo que não sabem identificar, nem sequer que se existe. Eis a metáfora que um dia um amigo estrangeiro me contou - quando lhe pedi que descrevesse este Portugal político. E o mais grave é que o autor da metáfora era (é) um genuíno social-democrata que não se revê neste teatro de revista sem qualquer qualidade. Até apetece dizer: devolvam-nos o dinheiro do bilhete, pfv... Mesmo assim, com as pernas partidas e a cabeça atada e sem boleia, deveremos ir, ir, ir, nem que seja andando devagarinho para chegar depressa… Pois é nesse caminhar que teremos oportunidade de dar, cada um de nós, e todos no seu conjunto, um grito privado que se acertará no espaço com o esperado trovão colectivo. Parece que o governo já encomendou uma dúzia de Airbus380 para utulizar intensivamente no dia 21 de Fevereiro... (cfr., pf, os nossos blogues anteriores).