A húbris do ex-DDT e de alguns dos seus "colaboradores"
A húbris ou hybris tem conhecido grande impacto na vida política portuguesa nos últimos anos. Sem nos reportarmos a casos concretos, por demais evidentes (entre a banca e a política), ela decorre dum excesso de orgulho, de confiança e de insolência que, no limite, conduz à arrogância. E desta à impunidade (a prazo).
- Ora, o que se terá passado na mente de alguns dos governantes do país nos últimos anos é que, imbuídos nesse excesso de confiança, revestido pelo escudo do poder de que dispunham ao tempo em que exerciam funções políticas e eram venerados por todos, foram cometidos excessos, e dentre eles estão os crimes económicos e financeiros, regra geral para beneficiar terceiros e garantir, como contrapartida, o enriquecimento próprio. Sempre o vil metal a motilizar as condutas e os comportamentos (privados e públicos).
Qual terá sido, então, o maior pecado do ex-DDT?
- Obviamente, a presunção e arrogância de que podia continuar a cilindrar tudo e todos, comprando a função, a obediência, a influência e a decisão de pequenos, médios e altos agentes do Estado que depois decidiam concursos públicos a favor do seu grupo financeiro, como o dos submarinos, cujo processo a PGR deveria reabrir, até porque na Alemanha houve arguidos e condenados que hoje cumprem pena na cadeia. Em Portugal, alguns desses putativos responsáveis pelas negociações de compra dos ditos submarinos para patrulhar o Alfeite, são hoje administradores de empresas ligadas à Construção Civil... Neste caso, houve mais discrição, ocultação de provas e, quiçá, facilitadores.
O que não significa que, a prazo, o caso dos submarinos não seja recuperado pelos The Panamá Papers e aqueles que hoje fingem ser administradores da construção civil não possam vir a ser constituídos arguidos.
Em suma: foi esse desprezo sistemático, também comum à conduta do ex-PM, então dirigido contra a magistratura ao limitar os seus privilégios corporativos, juntamente com os factos supervenientes que se têm vindo a descobrir e estão relacionados com pagamentos em envelopes feito por amigos beneméritos, existência de 23ME em contas em bancos suíços, aquisição de casas em Paris, etc, que acabou por derrapar e sair da zona de controlo dos próprios, que até então tinham conseguido circunscrever esses danos colaterais nas suas vidas.
Sucede que por trás dessa ambição desmedida pelo poder, pelo dinheiro e pela influência de querer controlar tudo e todos simultaneamente, com grande descomedimento e arrogância estão, ou podem estar, paixões ainda mais exageradas, tipificadas pelas chamadas doenças de carácter irracional marcadas por um grande desequilíbrio emocional que provocam alteridades comportamentais na forma como o orgulho e a fúria se manifestam na esfera pública.
Pergunto-me se, com tanta húbris sobre os mortais portugueses, os deuses, num acto de vendetta nobre e de compensação pelo erário público português, não convertem as suas vítimas em loucos antes de os destruírem definitivamente, alegando a salvaguarda do bem comum prejudicado durante décadas a fio.
Recorde-se, por fim, que a Húbris não é o acerto de contas por erros cometidos no passado, isso é vingança. Húbris é o descaso que alguém tem pelos outros, ou pelos deuses, achando que pode fazer tudo que quiser, como sinaliza Roy Porter numa reflexão muito condensada que aqui recuperamos e que ajuda a fundamentar esta reflexão acerca da arrogância em política.
‘The history of madness is the history of power. Because it imagines power, madness is both impotence and omnipotence. It requires power to control it. Threatening the normal structures of authority, insanity is engaged in an endless dialogue—a monomaniacal monologue sometimes—about power’.
A Social History of Madness: Stories of the Insane, 1987.
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Etiquetas: A Húbris, Banqueiros, Classe política
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