Sem vergonha na cara - por Paulo Baldaia -
Nota prévia: A inutilidade paralisante de Cavaco e a estreita concepção política desta direita neoliberal e reaccionária de Pedro e Paulo que os incapacita de compreender a fundo a verdadeira natureza da democracia representativa e pluralista, feita com a sua regra d´ ouro assente na maioria parlamentar, fez-nos chegar até aqui: ao abismo político, decorrente dum conluio manhosa entre Cavaco, Passos e Portas, a troika doméstica, que não se conforma com a habilidade política de A. Costa que, não obstante ter perdido as eleições legislativas a 4 de Outubro, ter tido a argúcia de negociar e federar as esquerdas num programa político (mínimo) comum capaz de o elevar ao cadeirão de S. Bento. O resto, com sentido de oportunidade e lucidez, é dito e explicado por Paulo Baldaia, cujo bold a amarelo é feito por nós - numa crónica que merece reflexão atenta.
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Sem vergonha na cara
Passos e Portas podiam ter como candidato aquele que seria o melhor Presidente da República para a reforma de regime de que o país precisa. Era arriscado, Rui Rio podia não ganhar. Nas cortes de Lisboa era até dada como certa essa impossibilidade, face a uma vitória antecipada que todos atribuem a Marcelo Rebelo de Sousa. Escrevi a 11 de Outubro no DN: "Passos Coelho e Paulo Portas [...] parecem recuar na intenção de ter outro candidato só para garantir uma vitória, que lhes sairá muito cara. Marcelo ainda não respondeu, mas ou não dirá nada para não se queimar, ou assumirá que não dissolve o Parlamento. O que nunca dirá é que o dissolve, porque sabe que não ganhará as eleições sem pescar à esquerda. Isto é Marcelo. Se Passos e Portas não arriscam ir a jogo para o evitar, merecem tudo o que lhes vai acontecer". A verdade é que já começaram a pagar pela cobardia política que revelaram e, sem vergonha nenhuma na cara, permitem que a sua área política ande agora a atirar para outros, Rui Rio incluído, a responsabilidade de resolver a falta de um candidato que ajude na estratégia política de centro-direita. Problema número 1: Não há estratégia nenhuma, só tática.
É claro que não voltarão a ter um Cavaco Silva na Presidência da República, como é claro que o tipo de liderança cavaquista também só lhes serviu taticamente. Ajudou a resolver o problema da crise "irrevogável" em 2013 e podia ter sido bem melhor. Tinha razão o Presidente e não tiveram PSD, PS e CDS. Também terá contribuído para a vitória da coligação o facto de Cavaco Silva não ter antecipado as eleições. A partir daí, foi só tiros nos pés do centro-direita. Ninguém fez tanto por António Costa, como Cavaco Silva. E já muito se escreveu sobre a falta de vergonha que revelou igualmente o líder do PS, não se demitindo quando perdeu as eleições, mostrando com isso as fragilidades dos socialistas que não encontraram uma alternativa.
O PS, o PSD e o CDS vão para as presidenciais sem um candidato assumido, revelando que não têm um sentido estratégico para o país. Bem sabemos que essas eleições são unipessoais, mas não deixa de causar estranheza que três dos cinco principais partidos portugueses não se queiram identificar com nenhuma das candidaturas, apenas porque estão presos à tática do curto prazo. E assim, a dois meses das presidenciais, a única coisa que parece importar saber é se o próximo Presidente da República faz o que o actual gostaria de fazer, mas não pode. Em Abril, a Assembleia da República será dissolvida e serão convocadas novas eleições? Vamos eleger um presidente para cinco anos, querendo saber apenas o que ele vai fazer no dia 5 de Abril. É pouco!
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Etiquetas: PAULO BALDAIA, presidenciais
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