segunda-feira

O quantum para a Grécia


- Temos aqui defendido a Grécia da plutocracia europeia, que lhe continua a querer impor termos e condições de pagamento da dívida verdadeira insustentáveis. Logo, que asfixiam as condições de vida da sua economia e do seu povo. O que não permite crescimento, desenvolvimento e prosperidade de molde a partilhar a riqueza interna e gerar recursos para pagar a dívida aos credores. Esta circularidade de raciocínios parece óbvia a qualquer alminha bem formada e de boa fé. 

- Nesta linha, também devemos atender como legítimo que os impostos que os portugueses pagam, juntamente com os espanhóis, belgas, finlandeses, italianos, etc..., não sejam para liquidar as dívidas contraídas pelos gregos. Não seria justo nem legítimo que assim fosse, apesar da necessidade da solidariedade europeia , especialmente nos momentos extraordinários, e que interrompida pelo directório alemão. Este, sim, tem-se alimentado das economias mais pobres do sul da Europa. Tem sido o grande parasita das economias do sul. 

- Mas a Grécia não está isenta de responsabilidades: o Estado não modernizou o seu sistema fiscal e de cobrança de impostos, de saúde, de educação e demais serviços na administração do Estado, necessários ao funcionamento da economia e da sociedade. 

- Coisas que demoram anos a implementar, e parece que duram mais tempo a concretizar quanto maior for a pressa de as ver realizadas no terreno. E talvez seja isto que falta fazer na Grécia:  um misto de reformas no Estado, na sociedade e na economia, mas numa dose e numa velocidade e ritmo tais que não asfixie o take of dessa economia calcinada que hoje, pura e simplesmente, não funciona e é predominantemente corrupta e não paga impostos. Uma prática enraizada durante décadas e cujo caldo de cultura foi propiciado pelo Pasok e pela ND, ou seja, pelos partidos do sistema político grego, à esquerda e à direita. E é por essa razão que o Syrisa, um partido emergente da esquerda mais radical, não aceita essas dívidas do passado e não as pagou no prazo previsto.  

- Numa palavra, não são os portugueses, os espanhóis, os belgas, os italianos e tutti quanti que têm de pagar os impostos que os gregos não pagam e deviam pagar, mas são todos os europeus que têm o dever de compreender o que pode e deve ser proposto à economia e ao povo gregos, sob pena de, nesta delicada fase, ele nem sequer poder voltar a respirar. 

- Matá-los à nascença seria uma política que não interessaria a ninguém. E é por essa razão que os termos e condições do novo acordo à Grécia terão de ser suavizados, quer em nome dessa solidariedade europeia, quer ainda em nome do realismo dos números e daquilo que é possível fazer para por a economia grega de novo a crescer, a pagar impostos e a torná-la mais produtiva, eficaz e eficiente em nome das boas práticas do Estado de direito e democrático. E, já agora, também em nome da justiça dos gregos enquanto povo martirizado da Europa. E em larga medida por causa duma elite política estruturalmente corrupta, à direita e à esquerda, e cujas políticas só tem agravado esse caldo de cultura deficitário na Grécia contemporânea.

- Esse tal quantum para a Grécia consistiria em saber dosear essa combinação de políticas públicas, reformas, apoios, controles e mecanismos de acompanhamento europeu que permitissem ao país ser ajudado sem ter a noção de que estaria, de novo, a ser violentado pelos termos e condições do novo acordo de pagamento da dívida e do seu brutal serviço de juros. 

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