Ostrischizocracy - uma eficiente metáfora do que a Europa do dinheiro e dos mercados pretende fazer à Grécia
Em Ciência Política é essencial distinguir o modelo democrático, tal como funciona realmente nos Estados ocidentais, e a imagem que dele se faz nem sempre corresponde ao modelo idealizado e vertido no papel, i.é, na Carta constitucional. Na prática, mesmo nos Estados ocidentais, que aplicam efectivamente o modelo, não o aplicam de modo exactamente conforme à imagem que, em regra, dele se faz e que eles próprios dele se fazem. O exemplo do Parlamento a este respeito é sintomático, pois ainda que ocupe uma função nuclear e preponderante no modelo imaginado, o seu papel real é ainda muito fraco na maior parte dos países do Ocidente, salvo os EUA.
Por outro lado, o chamado modelo democrático corresponde à democracia liberal tal como funcionou nos países capitalistas avançados aproximadamente entre 1870 e o take of da IIGM (1939). Nestes países, funciona um sistema político distinto, inúmeras vezes designado de "tecnodemocracia". Mas os cidadãos não têm plena consciência dessa evolução e continuam a evocar as estruturas e os valores do modelo democrático liberal. Ou seja, a deformação deste, apesar de tudo, foi ainda menor neste caso (dos países do Ocidente europeu) do que a que sofreu nos regimes autoritários, que caíram na órbita da então ex-URSS, designados, eufemisticamente, de democracias populares (no Centro e leste europeu durante quase meio século de Guerra Fria, no mundo pós-Yalta/1945).
Tal significa, neste último caso, que as democracias populares, impostas por Moscovo e pelo Pacto de Varsóvia, nada tinham de democracias pluralistas (reguladas pelo rule of law), pois as populações viviam sob o regime de partido único, ausência de media, e de liberdades, direitos e garantias, e ausência total de separação de poderes e cheks & balances. E quando (os cidadãos) as pessoas reclamavam iam parar à cadeia ou eram literalmente assassinados ou enviados para campos de trabalho forçado. Os tais gulags...
Porém, já nas chamadas "tecnodemocracias" dos países do Ocidente europeu, a oeste da cortina de ferro, para citar W. Churchill, a aplicação do modelo à realidade, ainda que encontre alguma deformação, é substancialmente menor do que naqueles países de democracia popular, pois no Ocidente as pessoas asseguraram as liberdades civis, políticas, económicas e sociais que permitiam um mínimo de dignidade e de condições de vida. Por isso prosperaram as suas economias e sociedades.
Dignidade e condições de vida que hoje a troika de agiotas e credores não permite à Grécia, querendo obrigá-la a rastejar ainda mais, a puni-la por ter um Governo de esquerda como o Syrisa, e a castigá-la por o seu povo, em contexto de referendo, validar um rotundo Não às imposições usurárias e especulativas da troika de credores.
É, com efeito, esse regime mitigado de imposição política com prepotência económico-financeira, e à falta de melhor definição ao nível da Ciência Política, que é hoje legítimo cunhar de OSTRACISOCRACIA - a maldade política, a má fé negocial e institucional que o FMI, a Comissão e o BCE procuram impôr a uma Grécia exangue, mas com a dignidade suficiente de mandar à m..... um conjunto de plutocratas sem história nem legitimidade e, por essa via, agitar as águas na Europa capazes de a fazer repensar nos caminhos da sua própria reforma e refundação.
Duas imagens quase iguais, ambas pretendendo afirmar a mesma realidade.
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