terça-feira

Ninguém quer "morrer politicamente" nestas eleições presidenciais




Estas eleições presidenciais vão estar ao rubro, quer por acção quer por omissão dos putativos e efectivos candidatos a Belém. Todos querem dar nas vistas, uns manifestando essa vontade prematura, como fez o inenarrável Santana Lopes; outros, como Marcelo Rebelo de Sousa tentam esconder o elefante que há neles no meio da sala. Pelo caminho, outros candidatos também brincaram ao faz de conta a Belém: Vitorino não descartou essa possibilidade, mas o seu foco é a vida (empresarial) privada onde tem sucesso.

Paulo Portas, atirado para a praça política do Campo Pequeno por Santana Lopes, que faz tudo para atrair as atenções dos media, disse: "não estou nem aí", revelando uma cultura linguística verdadeiramente brasileira, o que faz supor que é amante do género ou cultiva, à socapa, esse género de programas: as novelas. Quantas destas poderiam ser compradas com o dinheiro "lavado" dos submarinos?!...

Há mais: Carvalho da Silva, o ex-sindicalista e eterno SG da CGTP-IN - que agora alguns tratam por "professor", também deu um ar da sua graça. Foi e não foi candidato a Belém num ápice. Foi outra brincadeira!!! O que é revelador da charada em que estas eleições já se converteram, em larga medida por causa da anedota funcional com que Cavaco, durante dois mandatos, emprestou ao cargo. Um cargo cuja função tem servido para andar com o governo mais impreparado ao colo contra os verdadeiros interesses dos portugueses e da economia nacional. 

Mais: Guterres virou um D. Sebastião, um dia aparece, e se aparecer reconquistará a alma perdida dos lusos desgovernados. Cavaco, ainda dentro do Palácio, já quer garantir a sua eternidade arranjando, para o efeito, um Convento (em Alcântara) para se dedicar - certamente - às suas artes plásticas, contando, desde já, com meio milhão de €uros do erário público para assegurar as obras de restauro que servirão para albergar a relíquia. 

Desconheço se Santana Lopes irá um dia apresentar-se a Belém, mas o pudor e a vergonha deviam tolher esse seu desejo da puberdade política que atravessa. O problema é que Lopes, desde a morte de Sá Carneiro, parece nunca ter saído dessa fase da "borbulha e do acne" e do "orgasmo político" prematuro. 

Nóvoa, e bem, e diante alguns arrufos fratricidas no PS mais imberbe, aproveitou a brecha da divisão da esquerda e da hesitação da direita para marcar o território e, em breve, poder afirmar a sua concreta legitimidade: "eu fui o primeiro a candidatar-me, não esperei por apoios partidários, financeiros ou outros para me lançar". Tive coragem e lancei-me nessa empresa política, ao invés doutros que, por razões pessoais e de taticismo não ousaram avançar.

Helena Roseta, super-veradora em Lisboa e pessoa de confiança de A. Costa, referiu que se tivesse dinheiro faria campanha. Devia estar a pensar nos seus amigos e nos animais de estimação para a apoiar, mas esses talvez não bastem para eleger a srª arquitecta para Belém. 

Sócrates está inibido funcionalmente de se candidatar, com muita pena de A. Costa - que certamente pensava nele para Belém até Dezembro último... E foi nesse pressuposto que (também) removeu Tó Zé do Largo do Rato. É a vida, como diria Guterres..

Hoje somos confrontados com uma notícia parola, em que se afirma que o poeta Alegre "gosta" de Nóvoa, mas Vera jardim "nem por isso". Já não sei o que é mais insustentável, se o modo como o jornalista desenvolve a peça, se a forma fulanizada como estes dois alegados patriarcas do PS se julgam donos da vontade dos portugueses e, como tal, portadores duma vontade global que exclui a vontade dos demais eleitores, cujo voto vale tanto como o seu. 

Daqui decorre, por acção e omissão, um facto comum a todos os putativos candidatos a Belém, ou seja, pelo modo como comunicam (ou dissimulam, que também é uma outra forma de comunicação!!) toda essa rapaziada que está na pole position para Belém - tem medo de ser despejada da vida pública nacional. 

Receiam o abandono, a exclusão, não querem ser rejeitados, reprovados, deserdados, largados, despojados daquilo que julgam ser as suas ambições, caprichos e direitos (políticos e sociais). Os quais estão, claro, acima dos demais concidadãos. 

Todos querem afirmar um desejo: o desejo do Poder político, qual afrodisíaco como lhe chamara Kissinger. Contudo, é preciso notar que o povo português, apesar de não possuir uma elevada cultura política, consegue, especialmente nos momentos de ruptura social como a que vivemos, distinguir o razoável do lixo político e social com que nos deparamos. 

E será nesse pressuposto que alguns dos candidatos poderão estar a desenvolver o chamado efeito-vislumbre que os distancia e isola da realidade em que os portugueses vivem. Pois à semelhança do posicionamento do alegado PM, Passos, também boa parte dos portugueses já compreenderam que nesta corrida a Belém, apoucada por cavaco (que tem desvalorizado o prestígio do cargo e da função) há alguns heróis e alguns anti-heróis. E como em tudo na vida, uns resistem ao despejo, outros não. 

Espero que estas eleições presidenciais sirvam para peneirar essa confusão de sentimentos que hoje paira na mente dos portugueses, ou daqueles que ainda pensar ir votar a fim de anunciar a sobrevivência duns e declarar a morte política doutros. 

Isto sempre foi assim. Mas hoje é-o mais urgente do que nunca. 

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